Marte pode ter oxigênio suficiente para sustentar a vida
Novo estudo começou com a descoberta pela sonda Mars Curiosity, da Nasa, de óxidos de manganês, que são compostos químicos que só podem ser produzidos com grandes quantidades de oxigênio
A água salgada sob a superfície de Marte poderia conter oxigênio suficiente para sustentar o tipo de vida microbiana que emergiu e floresceu na Terra bilhões de anos atrás, reportaram cientistas nesta segunda-feira (22).
Em alguns locais, a quantidade de oxigênio disponível poderia até mesmo manter vivo um animal primitivo multicelular como uma esponja, escreveram na revista científica Nature Geosciences.
"Nós descobrimos que a salmoura" - água com altas concentrações de sal - "em Marte pode conter oxigênio suficiente para que micróbios possam respirar", afirmou Vlada Stamenkovic, principal autor do estudo, físico teórico do Laboratório de Propulsão a Jato da Califórnia.
"Isto revoluciona completamente nossa compreensão do potencial da vida em Marte, hoje e no passado", declarou à AFP.
Até agora, presumia-se que a quantidade de oxigênio em Marte fosse insuficiente para sustentar a vida microbiana.
"Nós nunca pensamos que o oxigênio poderia desempenhar um papel para a vida em Marte devido à sua escassez na atmosfera, de cerca de 0,14%", afirmou Stamenkovic.
Comparativamente, a concentração deste gás no ar que respiramos é de 21%.
Na Terra, as formas de vida aeróbicas - ou seja, que respiram oxigênio - evoluíram juntamente com a fotossíntese, que converte CO2 (gás carbônico) em O2 (oxigênio), gás que teve um papel crítico na emergência de formas de vida complexas, sobretudo após o denominado Grande Evento de Oxigenação, há cerca de 2,35 bilhões de anos.
Mas nosso planeta também abriga micróbios no fundo dos oceanos, em gêiseres, que sobrevivem em ambientes privados de oxigênio.
"É por isso que sempre que pensamos na vida em Marte, nós estudamos o potencial de vida anaeróbica", afirmou Stamenkovic.
Vida em Marte?
O novo estudo começou com a descoberta pela sonda Mars Curiosity, da Nasa, de óxidos de manganês, que são compostos químicos que só podem ser produzidos com grandes quantidades de oxigênio.
A Curiosity, juntamente com os orbitadores de Marte, também estabeleceram a presença de depósitos de salmoura, com variações nos elementos que continham.
Um conteúdo de alta salinidade permite que a água se mantenha líquida - uma condição necessária para a dissolução do oxigênio - em temperaturas muito baixas, transformando a salmoura em ambientes favoráveis para a vida microbiana.
Dependendo da região, da estação e do momento do dia, as temperaturas no Planeta Vermelho podem variar entre -195ºC e +20ºC.
Os pesquisadores desenvolveram um primeiro modelo para descrever como o oxigênio se dissolve na água salgada em temperaturas abaixo do congelamento.
Um segundo modelo estimou as mudanças climáticas em Marte nos últimos 20 milhões de anos e projetou como seriam nos próximos 10 milhões de anos.
Juntos, os cálculos demostraram quais regiões do Planeta Vermelho são mais propensas a produzir oxigênio baseado em salmoura, dado que pode ajudar a determinar o posicionamento de sondas futuras.
"As concentrações de oxigênio (em Marte) são em ordens de grandeza" - algumas centenas de vezes - "maiores do que o necessário para micróbios aeróbicos ou que respiram oxigênio", concluiu o estudo.
"Nossos resultados não sugerem que haja vida em Marte", alertou Stamenkovic. "Mas eles mostram como a habitabilidade marciana é afetada pelo potencial de oxigênio dissolvido".