RJ: Ocupação de favelas não é 'sustentável', diz coronel
Porta-voz do comando conjunto das operações da intervenção no RJ, coronel Carlos Frederico Cinelli cita as ocupações da Maré e do Alemão como exemplos que não serão repetidos
por Mellyna Reis | dom, 18/03/2018 - 07:30
Uma semana depois da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) derrubar quiosques da Praça Miami, os moradores da Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio, receberam uma série de serviços sociais oferecidos pela própria prefeitura, em parceria com o governo do estado e o gabinete da intervenção federal.
O prefeito Marcelo Crivella e o general interventor Braga Netto estiveram na comunidade na manhã deste sábado (17), durante a ação comunitária que disponibilizou a retirada de documentos, regularização de comércio, assistência médica, veterinária e odontológica e atividades de lazer e recreação. Oitocentos militares das Forças Armadas atuaram na segurança e na prestação de serviços aos moradores.
- Bianca Bin rebate críticas após fazer topless
- Alane analisa jogo de Fernanda no BBB: 'vilã de Malhação'
- Robertto e Guto Pimenta celebram a cultura em single
- Denise Rocha posa com biquíni cavado e agita seguidores
- José Inocêncio se desespera com a morte de Maria Santa
Leia já também:
"A proposta, o desejo e a determinação do general Braga Netto é fazer com que a Vila Kennedy seja um protótipo, um piloto do que se vai tentar replicar em outras comunidades, com uma sequência de atividades semelhantes. Então, nós entramos com Forças Armadas e polícia pra poder remover aqueles obstáculos ao acesso [barricadas], estabilizamos a área", explicou o porta-voz do comando conjunto das operações da intervenção no RJ, coronel Carlos Frederico Cinelli.
Entretanto, a presença ostensiva dos militares na comunidade, que possui mais de 40 mil habitantes e tornou-se oficialmente bairro no ano passado, não tem sido garantia de segurança para a população. "Ficar aqui de dia é mole. À noite aqui está um perigo", desabafou um morador que pediu para não ser identificado.
A enfermeira Maria Neide dos Santos, que vive há 29 anos na Vila, relatou que houve tiros na manhã anterior quando sua mãe havia saído de casa, obrigando-a a se proteger das balas. "Essa palavra 'tranquilo' tá difícil de confirmar. Organizada a Vila Kennedy não está", comenta.
Apesar da crítica, Maria Neide diz que a chegada das forças armadas representaram alguma melhora. "Eu queria que eles ficassem aqui eternamente. Porque a PM tem que parar com a corrupção. A Marielle morreu por quê? Porque botou a boca no mundo", ressaltou a moradora, que disse esperar ações de justiça pelas Forças Armadas na comunidade.
No entanto, o representante do Comando Militar do Leste à frente da operação na Vila Kennedy, o coronel Carlos Cinelli descartou uma permanência duradoura do efetivo no bairro.
"Nós não vamos permanecer na comunidade. O general não tem a ideia de que as operações se restrinjam à ocupação da comunidade. Isso já foi visto no passado, que Forças Armadas ocupando a comunidade não é uma receita que vá dar sustentabilidade no futuro", afirmou o comandante, que citou as ocupações nos complexos de favelas do Alemão e da Maré como exemplos a não serem repetidos.
"A palavra 'ocupação' dá a ideia de permanência e essa permanência já existe. O próprio projeto das UPPs não será desmantelado, o general Richard [Nunes], da secretaria de Segurança, já comentou que o estudo está sendo refeito e isso vai caber, essa ocupação da comunidade, por forças policiais e nós estamos nesse momento dando um apoio pra que isso possa ser feito", explicou.
O posicionamento do coronel é consonante com os apelos de militantes de direitos humanos pelo fim da intervenção militar no Rio de Janeiro, que vem sendo intensificados nas manifestações realizadas após o assassinato da vereadora Marielle Franco. A parlamentar também era contra a intervenção, cujos resultados têm sido questionados pelos ativistas, já que os conflitos em diversas áreas da cidade continua fazendo vítimas.
Na noite sexta-feira (16), um confronto entre policiais e traficantes deixaram quatro mortos no Alemão, incluindo um bebê de 1 ano atingido enquanto estava com a mãe. De acordo com o aplicativo Fogo Cruzado, a favela Bateau Mouche, na Praça Seca, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, está sob tiroteios desde o meio-dia deste sábado.
Segundo o coronel Cinelli, foram solicitados novos estudos sobre o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e confirmou que o modelo, que deverá sofrer ajustes, junto com a atuação mais efetiva da PM são algumas das apostas do gabinete de intervenção militar para a segurança pública do estado.
"O trabalho precisa ser feito pela Polícia Militar, pra isso ela está sendo capacitada a partir de agora, está sendo modificada a sua gestão, pelo gabinete de intervenção. É recuperar essa capacidade operacional pra que ela possa garantir esse patrulhamento ostensivo, que efetivamente vai impedir que essas organizações criminosas retomem o controle dessas áreas", afirma.