Montanha: da recuperação do câncer ao índice olímpico
Pernambucano Wagner Domingos conta ao LeiaJá como tem feito a preparação e lembra da emoção em conquistar a marca para disputa dos Jogos no Rio de Janeiro, em agosto
“Quando eu lancei para 78 (metros) e vi o resultado no placar, eu corri para meu treinador, abracei ele e passou um filme na minha cabeça”, lembra Wagner Domingos. Em 2011, o pernambucano, atleta do lançamento de martelo, foi à disputa do primeiro Pan-Americano, em Guadalajara. No ano seguinte foi diagnosticado com um câncer na bexiga. No último domingo (19), fez a melhor marca da carreira e conquistou pela primeira vez vaga para disputar os Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro. Da Eslovênia, onde faz os treinamentos, o recifense conversou com a reportagem do LeiaJá e contou tudo, da preparação à emoção em dar a notícia do resultado aos familiares: “Minha mãe ficou muito feliz, ela disse que não conseguia nem falar e eu tive que ligar depois”.
A carreira de Wagner Domingos começou em 1998. Um amigo do atleta convidou ele para treinamento e a trajetória iniciou. Os seus 1,87m de altura e 118kg de peso lhe renderam o apelido de “Montanha”. A força, destreza e persistência impulsionaram sua carreira. O recordista brasileiro conquistou 11 títulos nacionais, e outros dois sul-americanos (um em Santiago-CHI e outro em Cartagena-COL). No último domingo, na Eslovênia, o atleta alcançou a marca de 78,63 metros e quebrou um jejum de 83 anos sem representante brasileiro nos Jogos Olímpicos.
“Fico muito grato por ser mais um pernambucano que vai representar o Brasil. Sempre carrego a bandeira de Pernambuco e digo que sou pernambucano de coração. É minha raiz e não tenho como negar. Fico muito feliz quando as pessoas de Pernambuco e do Brasil inteiro torcem por mim e ficam feliz pelo meu resultado. Hoje em dia, eu treino para mostrar para mim mesmo que eu consigo fazer o que eu sonho, mas também para representar o Brasil e os pernambucanos cada vez melhor”, conta Montanha.
Para alcançar o índice, Wagner Domingos montou um esquema bastante específico de treinamentos. A programação iniciou em outubro de 2015, quando começou a preparação geral, ainda no Brasil. Em fevereiro, o pernambucano se mudou para a cidade de Brezice, na Eslovênia, no leste europeu. “Aqui nós temos um ritmo de dia a dia, de treinamento. Costumo ficar em Brezice, que é bem pequena, com cinco mil habitantes. Então, você fica muito focado no que tem que fazer. Já no Brasil, não é que perca o foco, mas, no dia a dia, você tem família, amigos e tudo isso vai tirando o foco”, explica.
Acostumado ao clima brasileiro e, principalmente nordestino, Wagner conta que teve um pouco de dificuldade na chegada à Eslovênia. “Quando cheguei estava oscilando entre zero grau, menos um, menos cinco e só depois começou a melhorar o tempo. Foi quando comecei a fazer competições e fui evoluindo a cada disputa. Neste ano, focamos em ficar o máximo de tempo possível aqui na Eslovênia, competindo e treinando”, declarou.
Montanha chegou para treinar com o treinador Vladimir Kevo - que preparou o campeão olímpico em Primus Kozmus (Berlim-2008). Além do alto nível de concentração e das capacidades do seu comandante, Wagner Domingos tem um número maior de competições à disposição na Europa. O recifense conta que alcançou a primeira grande meta para o ano, mas ainda espera conquistar um feito maior. “neste ano eu consegui focar bem. Tracei meu objetivo e já consegui 50%, que é o índice para a Olimpíada. Agora falta conseguir os outros 50% que é chegar em uma final olímpica”, almeja.
No próximo domingo (26), o pernambucano volta ao País para disputar o Troféu Brasil em São Bernardo dos Campos, São Paulo, de 30 de junho a 3 julho. Em seguida, Wagner Domingos retoma à Eslovênia, aonde vai encerrar a preparação para disputa de atletismo nas Olimpíadas, que ocorrerá de 5 a 21 de agosto.
*Imagem Wagner Carmo/CBAt/Divulgação