O legado de Eduardo Campos na cultura pernambucana
Duas áreas receberam maior atenção do ex-governador: os investimentos no Funcultura e o cinema pernambucano
Filho do escritor Maximiliano Campos, neto de Miguel Arraes, um dos incentivadores do Movimento de Cultura Popular (MCP) na década de 60, sobrinho do cineasta Guel Arraes e amigo íntimo do escritor Ariano Suassuna, Eduardo Campos, como homem público, também deixou um legado para a cultura pernambucana. Entre outras marcas, duas áreas receberam maior atenção do ex-governador do Estado: os investimentos no Fundo Pernambuco de Incentivo à Cultura (Funcultura) e o cinema pernambucano, que conta atualmente com um orçamento fixo anual no Funcultura na ordem de R$ 11,5 milhões.
Foram mais de sete anos à frente do Governo de Estado (de 2007 a 2014) e, consequentemente, das políticas públicas implantas em Pernambuco. No âmbito da cultura, quando Eduardo Campos assumiu o governo a instituição responsável pela elaboração e gestão das políticas culturais do Estado era a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), que até 2011 estava vinculada à Secretaria de Educação. Ainda em 2007, Ariano Suassuna, escritor cuja recente morte emocionou o ex-governador no dia do anúncio, foi nomeado secretário especial de Cultura de Pernambuco, cargo vinculado ao gabinete do governador, mas sem responsabilidade de gestão cultural.
Retrospectiva: Eduardo Campos e a Cultura de Pernambuco
Em 2011, início do segundo mandato de Campos, foi criada a Secretaria de Cultura (Secult/PE), que passou a centralizar e responder pelas políticas culturais de Pernambuco, incluindo a Fundarpe. A Secult/PE inicialmente contou com Fernando Duarte como o primeiro secretário, mas hoje é comandada por Marcelo Canuto. Segundo informações da Secult/PE, em 2007 o orçamento destinado para a cultura foi de R$ 46 milhões, e para 2014 a previsão orçamentária estava na ordem de R$ 133 milhões. Em relação à gestão da Fundarpe, Severino Pessoa passou a responder pela presidência do órgão público em 2011.
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Investimentos no Funcultura
Criado em 2003, o Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura foi uma das iniciativas públicas na cultura que mais cresceu em recursos durante a gestão de Eduardo Campos. Antes de 2007, primeiro ano da gestão socialista no Estado, o Fundo tinha um orçamento médio de R$ 4 milhões ao ano. A partir do primeiro ano de governo de Campos, o orçamento subiu para R$ 8,1 milhões e hoje conta com R$ 33,5 milhões de caixa, garantidos pela Lei 15.225/2013. Desse montante, R$ 11,5 milhões são destinados ao Funcultura Audiovisual – também criado em 2007 e voltado para o fomento do cinema local.
Funcultura Audiovisual e cinema pernambucano
Atualmente, o Edital do Programa de Desenvolvimento do Audiovisual de Pernambuco – Funcultura Independente está na sua sétima edição. Com incentivo do Governo do Estado, realizadores e profissionais do cinema podem inscrever projetos nas áreas de produção, difusão, formação e pesquisa na área audiovisual. Dentre os projetos contemplados este ano, além dos novos realizadores, cineastas com mais anos de estrada também integram a lista. Alguns exemplos são Lírio Ferreira, com Sangue Azul, Renata Pinheiro, com Amor, Plástico e Barulho, Cláudio Assis, com Piedade, Marcelo Pedroso, com Brasil S/A, Gabriel Mascaro, com Ventos de Agosto, e Prometo Um Dia Deixar Essa Cidade, de Daniel Aragão
Kleber Mendonça Filho, diretor de filmes premiados como O Som Ao Redor, lamentou a morte do ex-governador de Pernambuco no Facebook. “A importância de Eduardo Campos na área de cinema-cultura em Pernambuco já é histórica, factual, creio que livre de partidarismos. Tratou o cinema pernambucano com respeito, pela primeira vez. Eu lembro como era antes. Salvou o Cinema São Luiz da extinção, transformando-o num equipamento de cultura, o que não é pouca coisa", comentou o cineasta pernambucano, relembrando ainda o momento em que Campos convidou os realizadores para discutir sobre a sétima arte produzida no Estado.
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FPNC e Sistema Nacional de Cultura
Criado em 2008, segundo ano de governo de Eduardo Campos, o Festival Pernambuco Nação Cultural (FPNC) se tornou um momento de culminância das diversas ações e políticas culturais do Estado. Além dos shows de atrações nacionais e locais, o evento congrega mostras de todas as linguagens artísticas, como cinema, teatro, dança, circo, fotografia e artesanato, entre outras, além de encontros de cultura popular e de povos tradicionais, oficinas e seminários.
De 2007 a 2011, a média era de cinco edições do festival realizadas por ano. A partir do início do segundo mandato de Eduardo Campos e com as mudanças na gestão das políticas culturais do Estado, o festival passou a ter uma média de dez edições anuais - com destaque para o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), que passou a integrar o FPNC - e a percorrer todas as regiões pernambucanas.
No que diz respeito ao Sistema Nacional de Cultura (SNC), no dia 22 de novembro do ano passado o governador de Pernambuco Eduardo Campos anunciou a adesão do Estado ao Sistema Nacional de Cultura (SNC), após boatos de que a Secretaria de Cultura seria extinta. Pernambuco tem agora dois anos para estruturar o Plano Estadual de Cultura e reformular o Conselho Estadual de Cultura, as duas pendências que faltam para a inserção completa no sistema. Já há um projeto de lei que cria este novo conselho em discussão, e em relação ao Plano Estadual de Trabalho, a Secult/PE informa que está recompondo sua Comissão Interna de Trabalho para cumprir a agenda de reuniões, fóruns e validação com a sociedade civil. No entanto, prazos ainda não foram divulgados.