Os presidentes da Rússia e da Ucrânia, Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky, estabeleceram recentemente suas prioridades para 2024 em entrevistas coletivas anuais, nas quais apresentaram o balanço do conflito.
Com base nas declarações dos dois governantes, confira uma lista do que podemos esperar no próximo ano de uma guerra que começou em 24 de fevereiro de 2022 com a invasão russa.
- Guerra de desgaste -
Zelensky atribuiu o fracasso da contraofensiva de verão (hemisfério norte, inverno no Brasil) à falta de munições e de superioridade aérea. Duas carências que continuam afetando as forças ucranianas, quando o que surge é uma guerra de desgaste, com as forças russas novamente tomando a iniciativa em alguns pontos.
"Precisamos de apoio, porque simplesmente não temos munições", disse o presidente ucraniano, que não revelou mais detalhes sobre os planos de seu Exército para 2024.
Putin destacou que suas tropas estão "melhorando as posições em quase toda a linha de contato".
O presidente russo admitiu que os ucranianos conseguiram estabelecer uma cabeça de ponte na margem sul do rio Dnieper, mas afirmou que as tropas de Kiev estavam sendo "exterminadas" na área sob o fogo da artilharia de Moscou.
- Cansaço dos aliados ocidentais -
Putin, cuja reeleição em março é algo assegurado, também aposta na erosão do respaldo ocidental à Ucrânia, um tema que provoca divisões na Europa e nos Estados Unidos. Ele afirmou que o apoio político, diplomático, econômico e militar "poderia terminar", e de fato "parece que está acabando pouco a pouco".
Zelensky declarou, no entanto, acreditar que a ajuda continuará sendo enviada e, em particular, que os Estados Unidos "não trairão" a Ucrânia.
Ele, no entanto, reconheceu que teme uma guinada em Washington se Donald Trump retornar à presidência após as eleições de novembro de 2024.
"Se a política do próximo presidente (americano), independente de quem seja, for diferente em relação à Ucrânia, ou seja, mais fria ou menos generosa, penso que isso teria um impacto muito forte no curso da guerra", alertou Zelensky.
- Falta de soldados -
Diante da evidente falta de soldados na frente de batalha, de mais de mil quilômetros, Zelensky mencionou um plano do Exército que pretende convocar "entre 450.000 e 500.000 pessoas adicionais" em 2024, mas não revelou detalhes.
Para amenizar a falta de munições, ele também disse que o objetivo é produzir "um milhão de drones no próximo ano".
Putin considerou que "não é necessária" uma nova convocação depois da realizada em setembro de 2022, que foi muito impopular. Segundo ele, o país conseguiu recrutar 486.000 voluntários para aumentar o número de soldados do Exército em 2023, um esforço que prosseguirá.
Também prometeu seguir reforçando as capacidades militares do Exército, em uma Rússia que tem a economia concentrada no esforço de guerra e que pode ter recebido grandes quantidades de munições da Coreia do Norte.
- Sem negociações à vista -
Putin reiterou que a paz será possível apenas quando Moscou alcançar seus objetivos: "a desnazificação da Ucrânia, sua desmilitarização e o status de neutralidade".
Ele disse que Moscou e Kiev "estabeleceram" os critérios nas primeiras negociações em Istambul, no início do conflito, conversas que foram abandonadas em seguida.
"Há outras possibilidades: alcançamos um acordo ou resolvemos o problema pela força. É o que vamos tentar fazer", disse Putin.
Zelensky insistiu que o objetivo é recuperar o controle de todos os territórios ocupados pela Rússia no leste e sul do país, incluindo a Crimeia, anexada em 2014 por Moscou. "A estratégia não pode mudar", insistiu.
Também descartou qualquer negociação com Moscou. "Hoje não é pertinente. Não vejo que a Rússia esteja pedindo, não vejo em seus atos. E na retórica, eu vejo apenas insolência", afirmou.
- Quando acabará a guerra? -
Em tom firme, Putin prometeu a "vitória" aos compatriotas.
Ele disse que a Rússia acumulou bastante "margem de segurança para avançar". A sociedade russa está "fortemente consolidada" e a economia tem uma "reserva de força e estabilidade".
Zelensky pediu aos ucranianos que mantenham a "resiliência". Ele admitiu que não sabe se a guerra terminará em 2024: "Acho que ninguém tem a resposta".