Tópicos | violência contra idosos

Mais de 35 mil denúncias de violações de direitos humanos contra pessoas idosas foram registradas no Brasil, de 1º de janeiro a 2 de junho, pelo Disque Direitos Humanos (Disque 100). 

Em mais de 87% das denúncias (30.722), as violações ocorreram na casa onde o idoso mora. Segundo o ouvidor nacional de Direitos Humanos, Nabih Chraim, entre os agressores, os principais responsáveis pela violação são os próprios filhos, suspeitos em mais de 16 mil registros. Na sequência estão vizinhos (2,4 mil) e netos (1,8 mil). 

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Na maior parte dos registros (5,9 mil), a vítima tem entre 70 e 74 anos. Foram registrados ainda 5,8 mil denúncias relacionadas a idosos de 60 a 64 anos e 5,4 mil registros de violações de pessoas de 65 a 69 anos. 

O secretário Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (SNDPI), Antônio Costa, informou que os maus tratos a idosos figuram em terceiro na lista de maiores registros de violações do Disque 100. “O idoso precisa ser cuidado e protegido para viver com dignidade”, contou. 

Denúncias

Quem quiser denunciar casos de violações de direitos humanos pode fazer anonimamente pelo Disque 100, que recebe ligações diariamente durante 24h, incluindo os fins de semana e feriados. 

“As denúncias podem ser feitas de todo o Brasil por meio de discagem direta e gratuita para o número 100, pelo WhatsApp (61-99656-5008), ou pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil, no qual o cidadão com deficiência encontra recursos de acessibilidade para denunciar”, informou o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. 

Rio de Janeiro

No município do Rio, nos cinco primeiros meses do ano, foram registradas 251 ocorrências de violência contra idosos. O número foi divulgado pelo Núcleo de Assistência de Promoção e Proteção Social da Secretaria Municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida. 

Para chamar a atenção para esse tipo de violência, a Secretaria Municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida realizou ações na cidade durante o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, celebrado ontem (15).  No calçadão de Campo Grande, zona oeste, a prefeitura do Rio distribuiu o Estatuto do Idoso e materiais informativos sobre os tipos de violência mais comuns, entre elas, a física, a psicológica e a financeira. 

“Envelhecer é um processo da vida. Estamos vivendo cada vez mais e querendo viver com qualidade, autonomia e saúde. Ações como essas são fundamentais para chamarmos a atenção da população”, apontou o secretário Júnior da Lucinha. 

Para o morador de Campo Grande, Gessy Duque, de 83 anos, esse tipo de iniciativa é importante no combate à violência contra os idosos. “Ação muito boa e necessária para que todos possam conhecer os tipos de violências contra a pessoa idosa. Eu mesmo não sabia da existência de todas elas”, revelou. 

Campanha

Todos os anos ao redor do mundo é realizada a campanha Junho Violeta. O mês foi escolhido para marcar o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa, criado em 2006 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa. 

O período 2020-2030 foi escolhido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a década do envelhecimento saudável, para reforçar o debate sobre o assunto e o combate a agressões e tratamentos abusivos dentro e fora do ambiente familiar.

Desde o início da pandemia, o Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção ao Idoso e à Pessoa com Deficiência do Ministério Público do Rio de Janeiro (CAO Idoso e Pessoa com Deficiência/MPRJ) registrou 1.542 denúncias ou ouvidorias recebidas relatando maus tratos a idosos. 

O número representa queda significativa em relação a igual período do ano passado, quando foram 6 mil em diferentes tipos de violência, como a física, psicológica, abuso financeiro e negligência.

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A coordenadora do CAO Idoso e Pessoa com Deficiência/MPRJ, promotora de Justiça Cristiane Branquinho, informou que além disso, há comunicações oriundas da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, por meio do disque 100 e do disque 180, que em 2019 foram 5.708 e neste ano são 583. A promotora, no entanto, esclareceu que estes dados podem incluir outros tipos de denúncias direcionadas para ela como as de tutela coletiva. “Na estatística que eu faço como coordenadora do Centro de Apoio, tenho um quantitativo de 6 mil no período do ano passado e neste ano perto de 1600 no mesmo período. Então, eu verifico, realmente, uma redução muito grande”, afirmou.

Para a promotora, ainda não se pode identificar por completo os fatores que levaram a esta redução, mas uma das possibilidades é que a pandemia tenha provocado uma invisibilidade maior dos idosos que vivenciam situação de violência, porque eles ficam em isolamento social. “Pode esconder uma real violência que esteja acontecendo. Esses idosos podem estar em situação de desamparo, porque os órgãos de proteção deixam de tomar ciência dessa situação de vulnerabilidade, de risco e violência contra eles”, completou.

A promotora disse que a intenção na divulgação dos números foi chamar atenção das pessoas, para que diante de uma situação de violência, façam a denúncia aos canais do MPRJ. “É um canal que já tem uma expertise para tratar desses casos. Havendo a atribuição do promotor de justiça para atuar no caso, vamos atuar no sentido de aplicar medidas de proteção para esses idosos de forma que a gente tire ele dessa situação de vulnerabilidade e de risco social”, disse. No MP o número é 127 para a capital e (21) 2262-7015 nas demais localidades. O atendimento é de segunda a sexta-feira das 8 às 20h. As denúncias podem ser feitas também por WhatsApp: (21) 99366-3100.

A promotora alertou para a seriedade do canal e revelou que as estatísticas mostram que algumas denúncias são falsas. “Às vezes a gente recebe denúncia que demanda uma atuação da máquina, requer recursos públicos, gasto de tempo de pessoas envolvidas com essa proteção e aí a denúncia é falsa. Deve-se enfatizar a importância das pessoas que realizarem as denúncias terem consciência também de que não devem fazer denúncias falsas. O melhor é se identificar e dar o maior número de informações possíveis para facilitar o trabalho do órgão de proteção”, destacou, acrescentando, que algumas procuras são para tratar de conflito familiar ou desavença no núcleo da família, que acabam resultando em ouvidorias falsas.

A diferença entre 2019 e este ano representa também uma mudança no ritmo das denúncias. Segundo Cristiane Branquinho, desde 2018 elas vinham em um movimento ascendente. “Vinha em um crescente. Em 2018 tive um quantitativo. Em 2019 um quantitativo ainda maior. Em 2020 se esperava, que se não houvesse um aumento, pelo menos tivesse uma estagnação do quantitativo, e não, teve uma redução drástica”, apontou.

De acordo com a promotora, a maior parte das denúncias é anônima. Desde 2017 até este mês de outubro somam 11.216 denúncias, as feitas por órgãos públicos 1.543, por familiares 1.165, por terceiros ou vizinhos 498, pelo próprio idoso 344 e 150 de não identificados.

“Os dados de hoje não demonstram o que de fato pode estar acontecendo dentro das residências, porque o maior número acontece nas residências e praticadas na maioria das vezes por familiares ou por pessoas que eles mantêm um vínculo de afetividade. [Os idosos] têm aí uma relação de confiança”, observou.

A Ouvidoria do MPRJ recebe, nos seus canais oficiais de comunicação denúncias, elogios, críticas, representações, reclamações, pedidos de informações, sugestões e outros expedientes de qualquer natureza encaminhados pelos cidadãos e relacionados aos serviços e atividades desenvolvidas pela instituição. Do início da pandemia até agora, somaram 29.619 ouvidorias. Todas foram encaminhadas para as Promotorias de Justiça com atribuição para a análise de possíveis medidas cabíveis. “Isso aí é no todo. Ministério Público que inclui Meio Ambiente, Cidadania, Crime, Infância e Juventude. Não só idoso”, informou.

Para muitos idosos a proteção precisa ser além do que com o coronovírus durante a quarenta. Isso porque, o aumento da violência contra pessoas nessa faixa etária tem sido alarmante em todo o estado de Pernambuco. Segundo dados da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH) de Pernambuco, esse número tinha chegado a 68,75% no Estado nos meses de fevereiro e março. Porém, o mês de abril trouxe aumento de 50% em relação ao mês de março.

Em Olinda, uma equipe técnica especializada foi montada para atender esses casos. O grupo é formado por um psicólogo, um assistente social e um advogado que orientam e ajudam esses casos. “A melhor saída é sempre a denúncia. Qualquer alteração no comportamento do idoso, é importante intensificar a observação”, afirma a secretária Executiva da Mulher e Direitos Humanos, Verônica Brayner.

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É importante lembrar que a maioria dos casos acontece no ambiente familiar, ou seja, nos próprios lares, cometidos muitas vezes por parentes de primeiro grau. É nesse momento que o auxílio da população é tão importante. É necessário um olhar mais atento pra os idosos.

Qualquer sinal que evidencie uma violação é necessário denunciar. Em Olinda, denúncias de quaisquer tipos de violações contra as pessoas idosas podem ser feitas no telefone 3429-6777, das 8h às 13h, de segunda a sexta-feira, ou pelo celular 9.9237-8374 que possuem um canal 24h no aplicativo whatsapp. Além esses outros, existe a opção do e-mail semdh.desocial@olinda.pe.gov.br

*Da assessoria 

Levantamento feito pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos revelou que, no ano passado, o Disque 100 registrou um aumento de 13% no número de denúncias sobre violência contra idosos, em relação ao ano anterior. De acordo com a assessoria de imprensa da pasta, o serviço de atendimento recebeu 37.454 notificações, sendo que a maioria das agressões foi cometida nas residências das vítimas (85,6%), por filhos (52,9%) e netos (7,8%).

Divulgado nesta terça-feira (11), o levantamento mostra que a suscetibilidade das mulheres idosas é maior. Elas foram vítimas em 62,6% dos casos e os homens, em 32,2%. Em 5,1% dos registros, o gênero da vítima não foi informado.

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Quanto à faixa etária, os dois perfis que predominam são de pessoas com idade entre 76 e 80 anos (18,3%) e entre 66 e 70 anos (16,2%). O relatório também destaca que quase metade das vítimas (41,5%) se declarou branca, 26,6% eram pardas, 9,9% pretas e 0,7% amarelas. As vítimas de origem indígena representam 0,4% do total.

As violações mais comuns foram a negligência (38%); a violência psicológica (26,5%), configurada quando há gestos de humilhação, hostilização ou xingamentos; e a violência patrimonial, que ocorre quando o idoso tem seu salário retido ou seus bens destruídos (19,9%). A violência física figura em quarto lugar, estando presente em 12,6% dos relatos levados ao Disque 100. O ministério informa que, em alguns casos, mais de um tipo de violência foi cometido e, portanto, comunicado à central.

A pasta detalhou a forma como as ocorrências se distribuem geograficamente. O estado de São Paulo aparece em primeiro lugar na lista, concentrando 9.010 dos casos reportados. O estado de Minas Gerais ocupa a segunda posição, com 5.379 registros, seguido por Rio de Janeiro, com 5.035 e Rio Grande do Sul, que responde por 1.919 ocorrências.

Para o secretário nacional de Promoção e Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa do ministério, Antônio Costa, a violência contra idosos vai além de agressões classificadas como maus tratos. Para ele, o abandono e a exclusão social dessas pessoas também focalizam a questão.

Uma das ações governamentais de proteção a pessoas idosas é o Programa Viver – Envelhecimento Ativo e Saudável, que tem como finalidade a ampliação de oportunidades aos idosos, através da inclusão digital e social. As ações abrangem as áreas da tecnologia, educação, saúde e mobilidade física.

“O programa tem o propósito de resgatar a autoestima, conscientizar a pessoa idosa no âmbito da educação financeira e dos direitos a ela inerentes", disse Costa.

Além do programa, o governo federal articula a Campanha Junho Lilás, que visa prevenir e identificar situações de abuso contra idosos. Lançada no último dia 3, a iniciativa integra um movimento global de alusão ao Dia Internacional de Conscientização e Combate à Violência contra a Pessoa Idosa, celebrado no dia 15 de junho.

*Com informações da assessoria de imprensa do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos

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