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Depois de terminar 2015 com a maior queda nas vendas em quase 30 anos, o mercado automotivo brasileiro se prepara para adotar uma estratégia arriscada em 2016: deixar o veículo mais caro no momento em que o consumo se retrai, o desemprego sobe e o crédito tende a ficar mais restrito. Embora o reajuste seja uma decisão de cada montadora, todas as marcas passam, segundo analistas e executivos do setor, por uma forte pressão de custos.

Uma projeção feita pela consultoria Tendências aponta que os preços dos veículos novos deverão subir em 2016 no mesmo ritmo da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), pondo fim a um período de 10 anos em que a variação sempre ficou em nível mais baixo.

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Na previsão da consultoria, os veículos novos deverão ter aumento de 5,8% em 2016, a mesma estimativa para o IPC. Para este ano, a expectativa é de que os preços dos carros subam 5,4%, abaixo dos 8,4% previstos para a índice geral. A última vez em que houve queda dos veículos foi em 2012, de 5%. À época, as montadoras ainda contavam com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que deixou de vigorar em 31 de outubro de 2014.

Responsável pelo levantamento da Tendências, o economista Rodrigo Baggi diz que a pressão de custos já havia atingido as montadoras neste ano, em razão da forte depreciação do câmbio e do aumento da energia. "O aperto nas margens já aconteceu. Uma parte do reajuste não foi feito porque as montadoras não queriam perder volume de venda", avalia.

A expectativa do setor é de que as vendas tenham uma queda menor no ano que vem. Segundo a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), o volume de veículos novos vendidos em 2015 deve cair 27% em comparação com 2014, para 2,53 milhões de unidades. A retração esperada para 2016 é de 5%.

Para o diretor de pesquisas econômicas da consultoria GO Associados, Fábio Silveira, o câmbio será novamente o principal vilão dos custos das fabricantes. "Tivemos uma acentuada depreciação do câmbio em 2015, mas só uma parte foi repassada ao consumidor, porque ainda havia estoque com o câmbio mais apreciado. A outra parcela vai ser repassada no ano que vem. Será algo que as montadoras não vão conseguir segurar, caso contrário, fecham o negócio", diz Silveira.

Por questões de estratégia de mercado, as montadoras que lideram as vendas no Brasil evitam abrir o jogo em relação à política de preços. No entanto, admitem que a pressão de custos seguirá em 2016. "O preço é algo que será definido pela dinâmica do mercado, mas existe uma forte pressão de custos", disse o vice-presidente de relações institucionais da Ford, Rogelio Golfarb, em evento realizado pela montadora neste mês. Em um congresso, dois meses antes, ele já havia afirmado que "lucro é coisa do passado".

Mais sensíveis ao câmbio, as importadoras são mais abertas em relação a reajustes. A Kia Motors já trabalha com um cenário de alta dos preços. "Comprar carro importado no Brasil hoje é como comprar dólar a R$ 2,30, porque ninguém repassou", disse o presidente da empresa no Brasil, José Luiz Gandini.

Para aliviar o custo da mão de obra, algumas montadoras aderiram ao Programa de Proteção ao Emprego (PPE), medida do governo federal que permite a redução das jornadas dos trabalhadores em até 30%, com diminuição salarial no mesmo nível. Entre as companhias estão a Volkswagen, a Mercedes-Benz e a Ford. A chinesa Chery, que instalou sua fábrica no Brasil no ano passado, teve de trilhar o caminho contrário, realizando em 2015 dois reajustes salariais superiores à inflação.

Segundo o vice-presidente da companhia chinesa no Brasil, Luis Curi, será inevitável realizar uma "adequação dos custos sofridos" em 2015. "O porcentual seguirá duas diretrizes: acompanhar os reajustes do mercado e chegar o mais perto possível da incidência dos aumentos que impactaram os nossos custos", afirma. Desde que chegou ao Brasil, a montadora não encontrou vida fácil. A fábrica instalada em Jacareí, no interior de São Paulo, tem capacidade para produzir 50 mil veículos por ano, mas só deverá produzir algo próximo de 5 mil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Enquanto o mercado de carros zero-quilômetro vive uma grave crise, com queda de mais de 16% nas vendas no primeiro trimestre, as concessionárias de automóveis usados sobrevivem à recessão e fecharam março em terreno positivo, com alta de 2,3% nas vendas em unidades nos primeiros três meses do ano. Com o orçamento mais apertado, o consumidor está atento ao fator preço - neste quesito, os usados levam vantagem. Enquanto o valor do veículo novo subiu 7,2% nos últimos 12 meses, em média, os usados tiveram queda de 3,2%.

Entre os usados, os chamados seminovos, com até três anos, lideram a preferência do consumidor. As vendas cresceram 26%. Os brasileiros que querem dar um "upgrade" em seu veículo ficam atentos a este mercado. Segundo Mauricio Emerich, dono da revenda R1 Motors, em São Paulo, o consumidor hoje usa muito a internet ao comprar. E, ao comparar os preços de carros zero e seminovos, consegue perceber que a diferença é grande. Segundo dados de mercado, após um ano de uso, o preço de um veículo cai cerca de 20%.

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Na R1 Motors, um Evoque, da Land Rover, blindado e com 8 mil km rodados, sai por R$ 220 mil. Um modelo zero-quilômetro, com os mesmos opcionais, fica em R$ 280 mil. Já um Fox 1.0, cujo preço de tabela é de R$ 44,6 mil, pode ser encontrado em sites por cerca de R$ 36 mil após um ano de uso.

O empresário gaúcho Renan Resende da Costa, 32 anos, achou mais vantajoso comprar um usado. Ao descobrir que seria pai, no fim do ano passado, começou a buscar um carro mais confortável para a família."Se fosse comprar um novo, teria de abrir mão e pegar um modelo inferior", diz Costa.

As pesquisas na internet trouxeram o empresário até São Paulo, onde a diferença de preço chegava a R$ 12 mil em relação a Porto Alegre. No início de março, veio para a capital paulista e comprou um Mercedes 2012, diretamente do proprietário, por R$ 70 mil à vista. Para levar um zero, teria de desembolsar mais R$ 60 mil. "Até pouco tempo era muito mais fácil comprar um carro novo, mas a situação mudou."

Com o aquecimento no mercado de segunda mão, a relação entre número de carros usados vendidos para cada novo está em 3,7 neste ano, a mais alta desde 2005, quando era de 4,1 usados para cada novo, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Para o gerente de desenvolvimento da consultoria Jato Dynamics, Pedro Mendes, a alta dos preços dos carros novos está levando o consumidor para a opção dos usados.

De janeiro a março, mesmo com a forte queda do mercado de carros zero, os preços subiram 4,42%, enquanto o preço dos usados ficou estável (com alta de 0,03%), segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Mendes explica que, além da alta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em janeiro, houve aumento de insumos. "Em contrapartida, o usado manteve o preço e acabou ficando mais atrativo."

Juros. Apesar dos preços mais baixos, quem vai financiar o veículo precisa prestar atenção nos juros do financiamento do usado. Segundo o Banco Central, enquanto os juros de montadoras estão abaixo de 14% ao ano, nas empresas especializadas em carros usados podem chegar a 55%.

A Fenauto, que representa as revendedoras de usados, afirma que o juro do setor varia de acordo com o perfil do cliente. "A taxa diminui conforme o valor da entrada aumenta", diz Ilidio dos Santos, presidente da entidade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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