Os esforços de Portugal para debelar sua crise econômica e financeira sofreram dois reveses nesta quinta-feira, com o rebaixamento do rating de crédito do país para o status BB+, abaixo do grau de investimento, e uma greve geral que deu voz a um grande descontentamento público contra as medidas de austeridade adotadas pelo governo de centro-direita, que minam o padrão de vida da população. "Eles estão tentando destruir o sistema nacional de saúde e os salários não sobem desde 2004", disse a médica Pilar Vicente, que fez greve, à Associated Press. A greve nacional contou com manifestações de milhares de pessoas em Lisboa e no Porto e paralisou os transportes públicos.
As duas maiores centrais sindicais portuguesas, que representam mais de 1 milhão de trabalhadores, aderiram à greve. Estações do metrô de Lisboa ficaram fechadas e os ônibus e bondes tiveram circulação restrita na capital. A fábrica da automóveis da Volkswagen, ao sul de Lisboa, não funcionou nesta quinta-feira, por causa de problemas com os fornecedores de autopeças. Centenas de voos internacionais foram cancelados nos aeroportos internacionais de Lisboa, Porto e Faro. Grande parte das escolas e dos tribunais ficaram fechados.
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A agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota de Portugal em uma nota, de BBB- para BB+, ou abaixo do grau de investimento, ao citar "uma perspectiva macroeconômica negativa, alto endividamento em todos os setores e desequilíbrio fiscal". A rival da Fitch, a Moody's, já classificava os bônus portugueses como "junk". O governo de centro-direita do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que sucedeu aos socialistas de José Sócrates, levou adiante as medidas de austeridade, uma contrapartida exigida pela União Europeia para Portugal receber o pacote de auxílio de 78 bilhões.
O premiê Passos Coelho disse no fim da quarta-feira que, ainda que considerasse a mobilização "positiva", a solução para a crise exigirá mais trabalho. "O que é importante nesse momento para Portugal é encontrar um meio para sair da crise, que será uma consequência de nosso trabalho e prontidão para mudar o que precisamos", afirmou.
A greve é apenas a terceira na história democrática do país, mas sindicatos disseram que esperavam que ela fosse a maior.
Os portugueses protestam contra medidas como cortes nos salários do funcionalismo público, aumento nos impostos e cortes nos serviços de educação e de saúde. As medidas foram elaboradas pela chamada troica - União Europeia, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE) - para reduzir o déficit português.
As medidas duras, porém, pioram a recessão no país além do previsto. Mais cedo nesta semana, o ministro das Finanças revisou de novo para baixo a previsão para a economia no ano que vem, apontando agora que ela deve se contrair 3%, quando algumas semanas atrás a previsão era de contração de 2,8%. O desemprego deve bater em 13,6%.
As informações são da Associated Press e da Dow Jones.