“O que conta é a qualidade da experiência”. A frase, dita pela psicanalista Suely Rolnik, resume bem a finalidade das três exposições que inauguram nesta quarta-feira (14) no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam) e que integram a programação do SPA das Artes.
Uma delas, a sinestésica “Eflúvios Artificiais de Mulheres Abstraras”, de Daniel Santiago, mostra uma série com dez fotografias de mulheres da literatura, a saber: Capitu, Helena de Tróia, Lolita, Julieta... Para cada uma delas, uma “matiz de odor diferente”, como descreve Santiago. O trabalho partiu da iniciativa da diretora do Mamam Beth da Mata e do grupo de pesquisa PIA, que acompanhou o trabalho de Daniel de perto.
##RECOMENDA##“Não é uma obra roteirizada, tivemos bastante dificuldade na escrita do texto de apresentação, porque a obra é para se deixar levar, ela acontece no prórpio momento”, afirma a historiadora Raquel Borges, uma das integrantes do PIA. Para cada quadro, uma combinação de odores diferentes: o espectador é convidado a “mergulhar” em cada uma dessas mulheres abstratas, e sentir, através do olfato e da visão, o diálogo entre as linguagens.
A obra/vivência também será vista em “Line Describing a Cone”, do artista Anthony McCal. A obra, trazida por intermédio do grupo Bê Cubico, traz um feixe de luz que se assemelhaao mecanismo cinematográfico e o transforma em escultura através do uso da fumaça. “A projeção é um feixe de luz que, com a fumaça do ambiente, se constitui em um círculo, em 30 minutos exatos. É como a construção de uma membrana, que você pode vivenciar de fora e de dentro”, explica Edson Barrus.
A obra já esteve em exposição no espaço Bê Cubico, que fica no Recife Antigo. Para Yann Beauvais, a surpresa é o principal elemento ao se defrontar com a obra. “O trabalho dlee é especial, muita coisa parece não responder ou não trazer nada de fico quando se faz a experiência. Porque usa muito elementos do inconsciente, a possibilidade de jogar e se relacionar com uma coisa tão simples como um raio de luz”, explica o artista francês.
Também na vertente do inconsciente vem a obra “Arquivo para uma obra-acontecimento”, da psicanalista e critica de arte Suely Rolnik. Não seria correto dizer que ela revisite a obra da artista Lygia Clarck, mesmo que ela seja o mote das 20 entrevistas apresentadas na exposição.
“Meu interesse com as entrevistas não é fazer um momento 1960, mas como ativar a presença do corpo naquele período, como convocar na memória do corpo de cada entrevistado o que foi essa experiência”, afirma Rolnik, sobre as entrevistas com Ferreira Gullar. Paulo Herkenhoff, Jards Macalé, Caetano Veloso, e outros.
“Fui muito ligada à Lygia, o que ela buscava na arte eu estava buscando profissionalmente”, lembra Rolnik. Foram selecionadas 20 entrevistas das 65 realizadas, que compõem um Box (que estará à venda, por R$200, na Livraria Cultura e no site do Sesc SP). Rolnik fez questão de frisar a dificuldade de conseguir verba que financiasse o projeto. “Consegui gravar graças ao Ministério de Cultura da França. Esse tipo de projeto não traz valorização para a logo de ninguém, por isso não é interessante. Odeio enfeites retóricos”, enfatiza a psicanalista.
Serviço
Abertura das exposições: “Eflúvios Artificiais de Mulheres Abstraras”, de Daniel Santiago, “Line Describing a Cone”, de Anthony McCal e “Arquivo para uma obra-acontecimento”, de Suely Rolnik
Quando: Quarta-feira, 14 de sete4mbro, às 19h
Onde: Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Rua da Aurora, n°265, Boa Vista – Recife)
Informações: 81 3355-6870