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Eleitores têm sentimentos e sentem emoções. As emoções precedem os sentimentos. As reações emocionais do eleitor estão fortemente associadas às reações do organismo, por exemplo, batimento cardíaco, pressão arterial. Por sua vez, os sentimentos estão associados ao ambiente social, especificamente a cultura.

No entanto, emoções e sentimentos estão interligados. Emoções provocam sentimentos. E sentimentos provocam emoções. Apesar da interligação de ambos, é possível dissociá-los e com isto construir interpretações para cada um. A interpretação de um pode vir a contribuir para a interpretação do outro. Ou ambas as interpretações serem similares.

Sentimentos representam o sentir do indivíduo em relação a um fato ou pessoa. Valores e crenças podem construir sentimentos nos indivíduos. Neste sentido, o indivíduo sente medo de algo em razão de que ele foi condicionado a isto durante a sua história de vida. Eventos ocorridos na trajetória do indivíduo podem ter contribuído para ele ter medo alguma coisa. De modo semelhante, eventos permitem que indivíduos confiem em algum ator, já que este tem atitudes que são aprovadas e admiradas por eles.  

Pesquisa do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) procurou decifrar os sentimentos do eleitor recifense, através de sua faculdade ou capacidade de sentir e externar admiração, medo, confiança, merecimento e preparo em relação aos diversos atores políticos.

Quando se associam essas impressões mentais com um conjunto de variáveis eleitorais, dentre as quais, as intenções de voto, torna-se possível construir prognósticos eleitorais mais fundamentados.

Os dados do levantamento do IPMN fornecem indícios de que a eleição para prefeito do Recife está indefinida, apesar da forte rejeição do prefeito João da Costa – 45% dos eleitores reprovam a sua administração, 71% afirmam que ele não merece ser reeleito e 74% não o admiram. Diante da rejeição do atual prefeito do Recife, é factível para a oposição acreditar que um segundo turno é possível. Mas isto não significa que João da Costa não estará no segundo turno.

Por conta da interação constante entre eleitores e candidatos, os sentimentos dos eleitores em relação a um candidato podem ser modificados ou criados. Deste modo, João da Costa tem condições, caso crie estratégias eficientes, de modificar, parcialmente, os sentimentos dos eleitores a sua pessoa.

A pesquisa do IPMN revela que João Paulo é o candidato mais forte dentre todos os nomes submetidos à apreciação do eleitor.  Esta assertiva deriva das seguintes constatações: 1) Os cenários eleitorais com a presença de João Paulo o colocam à frente de alguns dos demais pré-candidatos com considerável percentual de votos; 2) 42% dos eleitores consideram João Paulo o candidato mais preparado para ser prefeito do Recife; 3) 37% acreditam (Confiança) que ele cumprirá com as promessas de campanha; 4) 44% afirmam que o ex-prefeito merece ser eleito prefeito do Recife; 5) e 38% dos eleitores admiram João Paulo.

Apesar dos sentimentos dos eleitores indicarem que João Paulo é um candidato fortemente competitivo, a sua permanência no PT enfraquece a sua possível candidatura a prefeito, já que 64% dos eleitores frisam que João Paulo e João da Costa não são mais aliados e 14,3% consideram que o ex-prefeito do Recife é o ator que melhor representa a oposição a João da Costa. Então, como o PT justificará para os eleitores a candidatura de João Paulo?

Os possíveis candidatos Daniel Coelho, Raul Henry, Raul Jungmann, Priscila Krause, Mendonça Filho e Silvio Costa Filho são competitivos caso ocorra uma aliança entre eles e duas candidaturas sejam apresentadas ao eleitor. Dentre esses candidatos, Mendonça Filho é o que melhor se posiciona perante os eleitores recifenses, tanto no que tange ao conjunto de sentimentos captados nesta pesquisa, quanto à performance de intenção de votos mostrada nos diversos cenários.   

Entretanto, seu desempenho pode estar relacionado ao fato de ser o candidato da oposição mais conhecido, o que suscita a possibilidade de haver chances eleitorais para todos os candidatos da oposição, caso condições políticas sejam criadas.

Eduardo Campos, João Paulo e Jarbas Vasconcelos aparecem na pesquisa como os grandes eleitores da disputa eleitoral de 2012. A aprovação da gestão do governador Eduardo Campos e a admiração que lhe devotam os eleitores fazem dele um grande eleitor. Eleitores têm memória. E a pesquisa do IPMN revela que os eleitores lembram positivamente das gestões do ex-prefeitos Jarbas Vasconcelos e João Paulo. Além disto, os sentimentos dos eleitores são favoráveis a eles.

A pesquisa do IPMN revela que a eleição do Recife tende ao segundo turno. Mas para tal fato ocorrer, a oposição precisa apresentar dois candidatos ou optar por uma disputa polarizada com João da Costa. Não está descartada a possibilidade de Fernando Bezerra Coelho crescer eleitoralmente, caso opte por ser candidato, já que teria, possivelmente, o forte apoio do governador Eduardo Campos. Nesta condição, pode-se até aventar a hipótese de um segundo turno entre João da Costa e Fernando Bezerra. 

O portal LeiaJá acaba de divulgar números da pesquisa de intenções de voto para prefeito do Recife, realizada pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN), entre os dias 13 e 14 deste mês de dezembro. O levantamento tem margem de erro de 3,5 pontos de percentagem, para mais ou para menos, um nível de confiança de 95% e aplicou 811 questionários.

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A Tabela 1 mostra quatro cenários elaborados pela pesquisa, em que o atual prefeito João da Costa aparecendo como candidato do PT. O IPMN também confeccionou cenários aventando a possibilidade de o deputado João Paulo vir a ser o representante petista, substituindo João da Costa (vide Tabela 2, abaixo).

Em todos os cenários postados na Tabela 1, o atual prefeito aparece liderando as preferências dos eleitores, porém sempre empatado tecnicamente com o dep. Federal Mendonça Filho, exceto, naturalmente, no cenário II, no qual o ex-governador não aparece entre os pré-candidatos.

Nesses cenários, sobressai-se o fato de que as pré-candidaturas líderes, João da Costa e Mendonça Filho, têm intenções de voto bem acima das conferidas ao bloco intermediário de pretendentes à PCR, formado por Raul Henry, Raul Jungmann e Daniel Coelho.

Com esses números listados na Tabela 1, se a eleição fosse hoje, haveria segundo turno entre o atual prefeito e o ex-governador Mendonça Filho nos cenários I, III e IV, pois nenhum dos dois teria alcançado 50% mais um dos votos válidos. No cenário II, o segundo turno de votação dar-se-ia entre João da Costa e um dos três postulantes do bloco intermediário, todos empatados tecnicamente, com ligeira vantagem para Raul Henry.

Chama à atenção, ainda, na Tabela 1, o enorme contingente de eleitores que ainda não se decidiu, englobado na categoria de votos brancos, nulos, não sabe, não respondeu. Na média dos cenários da Tabela em apreço, esse contingente representa 50% dos eleitores, o que é compreensível dada a distância de tempo que ainda falta para a realização do pleito.

Com efeito, quanto mais distante do pleito, mais os eleitores se mostram reticentes em manifestar preferência por este ou aquele candidato, optando por declarar que vai votar em branco, anular o voto ou, simplesmente, que não sabe em quem vai votar.  Neste momento, as candidaturas ainda não estão consolidadas, os arcos de apoiamento não foram formados, as pré-campanhas não ganharam as ruas, etc., etc.

Quando as principais candidaturas líderes são confrontadas com determinadas categorias sócio-econômicas (vide Tabelas completas no site do LeiaJá) - sexo, grau de instrução, idade e renda - o prefeito João da Costa é preferido pelos eleitores do sexo masculino, eleitores que possuem curso superior completo, jovens de 16 a 24 anos, e eleitores que ganham entre 2 e 5 salários mínimos.

Já Mendonça Filho é preferido por votantes do sexo feminino, eleitores que cursaram só até a terceira série, no início da escala educacional, e também entre eleitores que têm curso superior completo, no fim dessa escala. As maiores intenções de voto para Mendonça Filho estão ainda entre os eleitores que têm de 35 a 44 anos, e eleitores que ganham de um a dois salários mínimos.

Quando o dep. Federal João Paulo entra no lugar de João da Costa como representante do PT, a eleição, se fosse realizada hoje, com os cenários postos na Tabela 2, seria definida no primeiro turno, com o ex-prefeito tendo entre 71,8% e 77,4% dos votos válidos.

As maiores votações em João Paulo estão concentradas nos eleitores que são predominantemente do sexo masculino, são eleitores que em termos de escolaridade têm o fundamental completo, são eleitores com 45 a 60 anos ou mais de idade, e são eleitores que ganham até um salário mínimo.

Neste momento, a dez meses do pleito, com pré-candidaturas ainda indefinidas, com poucas pesquisas realizadas, não há elementos que possam auxiliar na formulação de prognósticos abalizados. Mais à frente, já um pouco mais no clima eleitoral, com novos e sucessivos levantamentos, aí sim, os indicativos de intenção de votos poderão configurar determinadas tendências.

 

 

* Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e de Mercado, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau.

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