A Páscoa pode ser considerada a grande festa cristã. Nessa data, é celebrada a ressurreição de Jesus Cristo. No entanto, a Páscoa já existe desde a Antiguidade, embora com outro significado. Até hoje, simboliza coisas diferentes para judeus e cristãos.
Em entrevista ao LeiaJá, o teólogo Mario Tito Almeida, professor da UNAMA - Universidade da Amazônia, fala sobre a origem da Páscoa, seu verdadeiro significado e sobre como a data está presente em diferentes religiões, entre outras coisas.
##RECOMENDA##Para o teólogo, Páscoa quer dizer a passagem de uma situação boa para uma ruim. ”A palavra Páscoa origina-se de uma palavra hebraica pessach, que significa passagem. O que significa exatamente a ideia da saída de uma situação ruim para uma situação boa, ou seja, a passagem de uma situação de morte para uma situação de vida; ou melhor, a passagem de uma situação que não é satisfatória para uma situação em que você é feliz. Esse é isso significado da palavra Páscoa”, disse o professor.
Nesse sentido, destaca Mario Tito, a Páscoa passou a ser entendida como uma ação de Deus para uma situação boa acontecer. “Páscoa é exatamente essa passagem para uma vida feliz, para uma vida melhor, para uma vida cheia de mais realizações. Celebrar a Páscoa é celebrar a festa religiosa da ação de Deus para que a pessoa se sinta melhor, se sinta viva, se sinta realizada", afirma.
Mario Tito explica a diferença entre a celebração antes e depois de Jesus. ”A Páscoa dos judeus é uma Páscoa que mostra a saída da escravidão para uma realidade de liberdade em busca da Terra Prometida. Já a Páscoa dos cristãos dá um novo significado para essa situação, não é mais a saída da escravidão física, mas é na verdade a celebração da Ressurreição de Jesus. A ressurreição de Jesus acaba sendo uma nova forma de libertação da escravidão, da escravidão do pecado, para a nova vida da Graça de Deus, da presença de Deus”, destaca.
Para o professor, celebrar a Páscoa significa, acima de tudo, celebrar a vida. ”A grande questão que se coloca na celebração da Páscoa, a pergunta fundamental, é: quem ainda não tem vida plena? Quem ainda está sofrendo? Quem são aqueles que não gozam de direitos? Quem são aqueles que não vivem de forma humana, digna? A Páscoa, mais que apenas uma celebração, é uma vivência de um mistério que nos leva a fazer com que esta Páscoa aconteça também para as pessoas que mais necessitam”, diz.
O professor comenta as semelhanças entre a Páscoa judaica e a cristã. “Eles (os judeus) celebravam a Páscoa lembrando essa saída do Egito para a terra prometida, quase que repetindo gestos daquele povo que saiu às pressas, ervas amargas, pão ázimo, comer com pressa, porque foi assim que foi a primeira Páscoa: se fez uma refeição rápida, se pegou aquilo que se tinha no momento e se saiu efetivamente daquela situação. Já a Páscoa cristã, não, ela se celebra exatamente como celebração da vida, por isso se dá ao redor da mesa também, mas ao redor da mesa com fartura, porque se mostra claramente que essa nova vida celebrada é uma vida também em que a alimentação inspira solidariedade, inspira também uma alegria, inspira também festa”, comenta.
O teólogo explica a mudança de data da festa religiosa. “Interessante essa história, porque na verdade a Páscoa Cristã é marcada sempre no final de semana de lua cheia, após a primavera do hemisfério norte, portanto do continente europeu. Falando de hemisfério norte, lá tem as estações muito bem definidas. Então, no período da primavera, quando acontece na primavera, se conta quando será o fim de semana de lua cheia. E aí se marca a Páscoa. Mutável a cada ano, a celebração da Páscoa muda também por conta de que essa primeira lua cheia depois da primavera acontece em datas variáveis”, explica.
Sobre a relação do coelho com a Páscoa, Mario Tito comenta que é mais uma questão mercadológica do que religiosa. “É uma questão mais cultural e até mercadológica, na verdade. O coelho foi colocado como o símbolo da fertilidade, mas ele não está diretamente ligado à questão da Páscoa Cristã. Ela tem muito mais como símbolo o Círio Pascal, aquela grande vela, aquela grande luz para dizer que Jesus ressuscita e ilumina as trevas do pecado”, avalia.
Por Rodrigo Sauma e Caio Ribeiro (sob orientação e acompanhamento de Antonio Carlos Pimentel).