Estimulando e alertando a população da necessidade de preservação e limpeza do Rio Capibaribe, está sendo promovida nesta sexta-feira (31) uma competição ambiental que envolve 100 pescadores, que se concentraram no Capibar, sede da ONG Recapibaribe, situada na Zona Norte do Recife. A iniciativa tem como expectativa somar ao final da jornada cerca de 20 toneladas de lixo. Pescadores da Ponte de Limoeiro, da Ilha do Maruim, da Ilha de Deus e de diversas áreas do Grande Recife marcaram presença nessa atividade e, além de exercerem uma ação cidadã, ainda receberão R$ 80 em ajuda de custo e uma cesta básica.
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Uma das coisas que chama a atenção no local é a decoração que se espalha por toda a ONG. Telas de computador, orelhão, bonecas de plástico, televisão, sofá, geladeira e até privadas; tudo isso retirado do Rio Capibaribe. Socorro Cantanhede, fundadora da ONG Recapibaribe, ressalva que os pescadores convocados para a limpeza do Capibaribe não deveriam estar no rio para catar lixo, e sim para pescar peixes. "Não é justo convidar as pessoas mais carentes, que precisam do rio para sobreviver, para fazerem o que deveria ser feito pelo poder público. Os pescadores não deviam estar limpando toda a cidade para ganhar uma ajuda de custo", afirma Cantanhede.
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Enquanto filha de pescador, Socorro acredita que neste momento os ribeirinhos deveriam estar em suas comunidades, com a ajuda de políticas públicas, trabalhando a conscientização desses locais e assim formando multiplicadores. "Neste espaço em que nós estamos, o capibar, significa o insustentável sustentando o insustentável. E neste momento todos nós devemos estar juntos em prol de um único bem, que é o coração do Recife, o Rio Capibaribe", explica a fundadora da ONG Recapibaribe.
Camila Velloso, 18 anos, representante do Rotaract Club Recife Encanta Moça e também da ação desta sexta (31), afirma que o engajamento tem como base a promoção da conscientização dos pescadores, que na sua luta diária além de tirar peixes acabam, também, retirando lixos do rio que é o seu local de sustento e trabalho. "Tirando em 4 horas 20 toneladas (de lixo), imagina se houvesse uma política pública em que a população fosse incentivada para isso com a ajuda do governo?", interroga Camila. Em 2017, foram retiradas quase 8 toneladas de lixo do rio, em cinco horas de trabalho realizado pela Recapibaribe juntamente com 40 pescadores, cada um em seu barco.
História de Pescador
É do Rio Capibaribe que Marcos Timóteo, de 36 anos, morador da comunidade do Pina, tenta tirar o sustento de seus dois filhos e do seu próprio. Pescador há 10 anos, Marcos todos os dias tem o Marco Zero como seu ponto de trabalho. É no coração da capital pernambucana, por onde o rio também passa, que o ribeirinho tenta encontrar os peixes em meio ao lixo que se estende por todo o Capibaribe. "Tem dia que eu saio de casa pra pescar e volto com nada porque é muito lixo e os peixes acabam morrendo. Tudo as pessoas jogam aqui (no rio), elas não sabem que muita gente como eu precisa do rio para sobreviver", reclama o pescador.
Marcos Timóteo diz ainda temer pelas futuras gerações de pescadores, que podem encontrar o Capibaribe sem peixes, sururu e o marisco que representam o sustento de várias comunidades pernambucanas. "Quando eu vejo um cachorro morto jogado no rio, junto com várias outras coisas, eu fico imaginando como o ser humano tem capacidade de fazer isso", ressalta. Além dos frutos do mar, no decorrer do rio, no lugar de capivaras, que viviam em abundância na região, encontram-se sofás, geladeiras e tudo o que não deveria estar ali.
Em tempo de abundância, depois de muito trabalho, Marcos consegue vender o que pescou por R$ 13, em média; mas isso num tempo bom. Na falta de peixes, ele tenta se virar como pode. Usa o seu humilde barco também para passeios turísticos pela Grande Recife. Cobrando R$ 15 por pessoa, ele pode ser encontrado nas imediações do Shopping Rio Mar. No rio, claro!