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A menos de dez minutos do centro da pequena Rio Acima, cidade de 10 mil habitantes na Grande Belo Horizonte, a barragem Mina Engenho foi dominada pelo mato e está abandonada. Inativa há sete anos, a mina de ouro - que pertencia à Mundo Mineração, do grupo australiano Mundo Minerals, hoje em estado falimentar - não emprega ninguém nem produz um real em royalties para o município. Deixou para trás, porém, uma herança perigosa: as barragens de maior risco de Minas Gerais, segundo avaliação da Agência Nacional de Mineração (ANM), órgão regulador do setor.

Conforme o relatório mais recente da ANM, de janeiro, a barragem Mina Engenho foi a única do Estado a ser considerada de "alto risco" de vazamento. Para se ter ideia, as barragens da mineradora Vale em Brumadinho - na unidade onde houve o rompimento - eram consideradas de baixo risco. Outras foram classificadas de "risco médio" - uma delas está em Itabirito, perto de Rio Acima.

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O jornal O Estado de S. Paulo ouviu moradores de Rio Acima que relatam abandono total e que as duas barragens da mina de ouro - uma com a superfície sedimentada e outra cheia de água - não recebem manutenção desde que as atividades foram encerradas, de um dia para outro, no fim de 2011. A interrupção foi tão abrupta que fábrica, caminhões e carros usados no transporte de funcionários foram deixados para trás. A maioria dos trabalhadores não recebeu seus direitos, diz o Sindicato dos Trabalhadores de Extração de Ouro de Nova Lima e região.

Muito do que ficou para trás foi depredado ou furtado. Caminhonetes acabaram "depenadas" - pneus, motores e peças foram carregados e os vidros, quebrados. A estrutura de escritórios e refeitório está destruída - a privada do banheiro só não foi levada porque a louça quebrou no momento da retirada. Até hoje, "visitantes" da área abandonada aproveitam para achar canos, pedaços de ferro e mais itens que possam ser usados em construções.

O material depositado nas barragens é altamente tóxico - placas alertam para risco de contaminação, mas ninguém controla o fluxo de pessoas. Tampouco há cerca ou portão. Fontes do setor de mineração dizem que o potencial de contaminação da exploração do ouro é superior ao do trabalho com minério de ferro - sedimentos acumulados nas montanhas de Rio Acima teriam arsênico e mercúrio, entre outros metais.

Perigo

Além de Rio Acima, a Mina Engenho também tem o potencial de afetar um município bem maior, de quase 90 mil habitantes: Nova Lima. A prefeitura da cidade diz já ter acionado o Ministério Público para cobrar providências sobre a área. A administração ressalva, porém, que a obrigação da fiscalização é de órgãos estaduais e federais. Outro ponto que preocupa moradores é que, diferentemente da Vale, a Mundo Mineração não tem dinheiro para pagar eventuais indenizações.

Presidente do sindicato do setor de exploração de ouro em Nova Lima, Marcelino Antônio Edwirges diz que houve tentativa de buscar o ressarcimento dos funcionários. Mas ao pedir o arresto de máquinas e equipamentos, descobriram que a maioria deles era alugada. "Só conseguimos captar recursos para pagar dois trabalhadores."

A Mundo Mineração atuava em atividade de risco. A empresa australiana comprou uma mina cujo potencial primário de exploração já havia sido exaurido por outra empresa. Segundo Edwirges, a empresa comprou a área por preço baixo, em busca de ouro na "sucata", pelo reprocessamento dos sedimentos acumulados nas barragens. É uma aposta difícil, já que o potencial de mineração é de, no máximo, 10% do total original.

Além do potencial de dano humano, Edwirges e os moradores veem potencial de contaminação do Rio das Velhas, afluente do São Francisco, e responsável por boa parte do abastecimento da Grande BH. Após as tragédias de Mariana e Brumadinho, a população de Rio Acima pensa cada vez mais nas barragens ao redor. "Não dá para confiar", afirma Rayane Luana Marques, de 26 anos. Já Ivone Rebuitti, de 64 anos, diz que "se a gente parar para pensar, não consegue dormir". "Depois de Brumadinho, ficamos com medo, diante de tanta tragédia, sofrimento. É ganância. Estamos nas mãos podres dos homens."

Na Justiça

A Secretaria Estadual de Meio Ambiente informou que o "empreendedor é responsável pela segurança da barragem". Disse ainda que o Estado obteve na Justiça decisão contra a empresa, que não foi cumprida. Em 2017 e 2018, segundo a pasta, foram tomadas medidas emergenciais cabíveis. Uma licitação será contratada para fazer o descomissionamento da estrutura, o que inclui a retirada dos rejeitos. A reportagem não localizou representantes da Mundo Mineração e procurou a advogada da empresa por telefone, mas não teve sucesso. A ANM também não foi encontrada pela reportagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Rio de Janeiro - Em 2016, ano em que será lembrado o quarto centenário da morte de William Shakespeare, uma pequena cidade mineira, na região metropolitana de Belo Horizonte, vai inaugurar a única réplica, fora de Londres, do teatro onde nos séculos 16 e 17 eram feitas as primeiras encenações das hoje clássicas peças do dramaturgo inglês.

Embora arquitetonicamente fiel ao original e com chancela britânica, a construção do Shakespeare Globe Theatre na cidade de Rio Acima, no chamado Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, tem uma proposta cultural bem mais ampla do que a mera reprodução de um ícone do teatro mundial.

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Responsável pela iniciativa, o Instituto Gandarela pretende fazer do Globe mineiro não apenas um grande teatro para a difusão, em variadas versões, da obra universal de Shakespeare, mas também um espaço para os autores brasileiros e, principalmente, um polo irradiador de cultura e educação pela arte para toda a região. Braço social da produtora cultural Arte Brasil, o Gandarela considera que a proposta de fomento e difusão cultural foi o que levou a Shakespeare Globe Trust, entidade mantenedora do teatro inglês, a dar seu aval ao projeto brasileiro.

“Se fosse para simplesmente fazer uma cópia do teatro londrino não teríamos essa chancela”, garante o idealizador do projeto, Mauro Maya. Diretor do Instituto Gandarela, Maya é ator e produtor cultural, com anos de atuação no Grupo Galpão, uma das mais importantes companhias teatrais brasileiras.

Com origem no teatro de rua, o Galpão teve desde 1992 como carro-chefe de seu repertório a encenação, transposta para a cultura popular brasileira, da mais conhecida peça de Shakespeare, “Romeu e Julieta”. Foram mais de 250 apresentações no Brasil e nove em 60 países estrangeiros, culminando com a consagração, no ano passado, no Shakespeare's Globe da capital britânica.

“O nosso desafio é fazer com o que teatro elisabetano de 1599 se torne operante e viável na bucólica Rio Acima, cidade de apenas 10 mil habitantes. E a partir daí, promover uma transformação no arcabouço cultural de toda a região”, aposta Mauro Maya. Segundo ele, para se tornar autossustentável, o complexo cultural, com dois teatros – um com 1.500 e outro com 300 lugares - tem que envolver as 25 cidades do Quadrilátero Ferrífero, por coincidência, uma região que teve seu desenvolvimento econômico ligado aos ingleses, que ali eram donos de várias empresas de mineração. “Agora, a Inglaterra retorna, não pelo lado econômico, mas pelo cultural, mas que acaba revertendo para a economia”, prevê Maya.

Com um custo estimado em R$ 100 milhões, o complexo cultural já conta com o patrocínio da Petrobras. A estatal investe em um conjunto de atividades educativas e culturais com o objetivo de preparar a região para receber o Globe Theatre. De acordo com o diretor do Gandarela, essas ações estão voltadas não só para a formação de futuras plateias mas também para a capacitação de mão de obra para a chamada indústria criativa. “Nós podemos formar aqui novos figurinistas, novos cenógrafos, técnicos de iluminação, de áudio, e sobretudo atores engajados tanto na nossa cultura como na britânica”, diz Maya.

A ligação entre o local e o global atende a uma preocupação básica do The Shakespeare Globe Trust, que só apoia projetos que reconhecem a universalidade da obra do dramaturgo e que procuram mostrar como a linguagem do “bardo” é capaz de dialogar com pessoas de diferentes formações, culturas e regiões.

O acordo entre o Gandarela, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e a entidade britânica foi o ponto de partida para a materialização do projeto, mas a ideia surgiu antes no pensamento do produtor cultural. “Através do nosso projeto Cine Arte Sarau viajamos o Brasil inteiro entendendo a necessidade de ocupar espaços ociosos, em prol de transformá-los em locais de formação cultural. Saí em busca desse espaço na região entre Belo Horizonte e Ouro Preto e quis o destino que eu encontrasse esse área generosa, de 20 mil m²”, conta Maya.
 

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