Ibrahim Al-Hussein participa das provas de natação dos Jogos Paralímpicos Rio-2016 como um dos integrantes da primeira equipe de refugiados da História, mas a emoção do evento é superada por seu verdadeiro sonho: retornar um dia para a sua Síria natal em paz. O nadador de 27 anos não conquistou medalhas até agora, mas afirma que estar no Brasil "é a recompensa, porque 2016 tem sido um ano maravilhoso".
Na equipe de refugiados ele tem como colega o iraniano Shahrad Nasajpour, do atletismo.
##RECOMENDA##Al-Hussein perdeu uma perna depois de uma explosão em meio à guerra que desde 2011 deixou mais 300.000 mortos na Síria. "Estava tentando ajudar um amigo ferido em um ataque e fui ferido em outra explosão", disse, antes de insistir que prefere "esquecer o passado". Ele conseguiu escapar do conflito e chegou a Atenas, onde trabalha atualmente em um café e venceu a seletiva para a equipe de refugiados.
Al-Hussein começou a nadar quando tinha cinco anos, nas margens do rio Eufrates com seu pai. Na adolescência, tinha sonhos olímpicos. "Nunca imaginei que meu país estaria em guerra algum dia", afirmou à AFP. "Depois da explosão perdi qualquer esperança de continuar no esporte porque uma perna teve que ser amputada e a outra estava ferida. Meu único objetivo era caminhar de novo", conta.
Na Grécia, no entanto, ele conseguiu muito mais. Uma vez instalado, voltou a praticar o esporte, nadando quatro horas por dia depois do trabalho. Também joga basquete em cadeira de rodas. Ibrahim Al-Hussein foi selecionado em abril para integrar a primeira equipe de refugiados paralímpicos. Os Jogos Olímpicos Rio-2016 também contaram com uma equipe de refugiados. Ele acredita que o esporte deve ser usado para deter o conflito e faz um pedido pelo "fim do derramamento de sangue na Síria".
Com tantos atletas sírios fugindo do país, ele afirma que a União Europeia, onde muitos estão refugiados, "deveria facilitar os procedimentos para que os atletas possam treinar em clubes". "Há muitos feridos de guerra, pessoas que sofreram amputações, como eu. Para os palestinos, iraquianos e sírios os Jogos Paralímpicos são um objetivo real", disse.
Quando a "maravilhosa experiência", como define, de competir no Brasil terminar, o sírio vai retomar sua vida em Atenas e começará a pensar nos Jogos de Tóquio-2020, mas com a esperança de representar sua terra natal. "Vamos ser realistas. Meu país está perdido neste momento. Mas espero que um dia o banho de sangue termine", disse. "Não quero voltar ao meu país nas condições que o deixei, em uma cadeira de rodas".
Como deseja voltar então? "Nadando, atravessando o Eufrates da minha infância".