Sábado de Zé Pereira, dia de desfile do Galo da Madrugada, no Recife, sorrisos, fantasias e muita irreverência ocupam as ruas e avenidas dos principais focos da folia, ao menos para algumas pessoas é assim. Para outras, o momento é de agonia, desperdício de tempo e dinheiro e uma desculpa para cair na algazarra.
Não adianta escapar, todo mundo conhece alguém que não gosta de carnaval. Sempre tem aquele tio que vai para o interior, o vizinho que viaja para a praia e outros que se trancam em suas residências e só aparecem na quarta-feira de cinzas para criticar a sujeira e bagunça deixada nas ruas.
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Representante dos caseiros, o estudante Daniel Ferreira diz que prefere olhar a brincar. "Gosto de ficar em casa e ver filmes. Cresci na igreja e acho que isso me influenciou, mesmo não sendo mais evangélico hoje", explica. Daniel ainda conta que já foi um dia à Olinda, mas não gostou da multidão e do calor, questionado se ele ainda sairia depois desta experiência ele falou: "Dependendo do lugar eu iria, fui convidado para ir ao Rec Beat, mas ainda não sei se vou. Na verdade eu não vou".
Outra que não gosta nem um pouco da multidão é a jornalista, Anaíde Lima. Para ela, a folia "aumenta o nível de violência, as ruas ficam sujas e malcheirosas, tem muita gente". Em sua primeira experiência como foliã, ela revelou que foi assaltada e isso não a estimula para ir outra vez. "Este ano eu vou para a praia de Japaratinga em Alagoas. Lá é super calmo, vou fugir da agitação" revela.
A vendedora Leilane Bezerra também não tem uma boa experiência, em sua primeira vez em Olinda, ela, a irmã e algumas amigas quase foram violentadas. "Na terça-feira do carnaval de 2003 nós estávamos passando por uma rua de Olinda onde acontecia um show de uma banda de samba, cinco homens vieram agarrar eu, minha irmã e minhas amigas a força, eu consegui escapar e fui ajudar minha irmã e depois uma outra amiga, depois saímos correndo e desde esse ano que não fui mais".
Quase dez anos depois do ocorrido Leilane se prepara para voltar às ladeiras da cidade histórica. O motivo? "Agora está diferente, tem mais segurança e eu acho que agora está mais tranquilo. E eu vou para um camarote também. Mas, não entendo como podem gostar (de ficar na rua) eu acho que eles gostam é da cachaça", complementa ela.
Para aqueles que preferem se resguardar e viver momentos de paz e introspecção, também existe a opção de retiros para oração, como o coordenado por Ana Fábia. Voltado para pessoas que não gostam do carnaval, o retiro recebe neste ano 182 pessoas que vão passar os quatro dias do carnaval em meio a orações e atividades diversas.
"A ideia para realização da primeira edição veio de uma revelação de uma das nossas coordenadoras da renovação carismática há 15 anos. Depois um grupo resolveu fazer (o retiro) em uma granja e desde então eles se reúnem", fala Ana Fábia.
A programação diária começa com uma missa, depois eles compartilham suas vivências no local e partem para gincanas, ver filmes religiosos, brincadeiras, luau com karaokê e também um louvorzão em ritmo de carnaval. Ana ainda diz que um baile de máscaras e um bloco infantil também são realizados.
Composto basicamente por jovens, esse ano o retiro ocorre no Damas em Aldeia. "No alojamento dos meninos vai ter um torneio de playstation e no das meninas elas querem fazer uma festa do pijama", conta a coordenadora. Ela disse que as histórias contadas pelas pessoas que foram ao ambiente é que a fizeram ter vontade de ir pela primeira vez: "Eles passavam tanta alegria que eu quis experimentar", diz ela.
Para defender a folia de momo, as estudantes Djan Alvez e Ísis Albuquerque chegam com tudo. A primeira afirma que até concorda com quem não gosta, por respeitar, mas vê na festa uma oportunidade de expressar sua opinião e insatisfações. "(O carnaval) É uma espécie de manipulação massiva, a ideia do pão e circo, mas também é quando eu me encontro como cidadã e posso manifestar minha revolta sarcasticamente, inclusive em minha fantasia".
Ísis já defende a festa como uma forma de mostrar a identidade cultural: "De certa forma o carnaval inclui uma cultura a qual fazemos parte. É uma manifestação que nos faz participantes de nossa cultura. Por exemplo, em Pernambuco eu vejo um caboclo de lança, no Rio de Janeiro as escolas de Samba, é identidade cultural de cada lugar".
Ela ainda polemiza: "Quem não gosta é uma alienação. Especialmente se não gosta sem conhecer a festa. Mas, se a pessoa tem seus motivos, eu ainda a escuto. Só acho que ninguém pode dizer que não gosta sem conhecê-lo". E você, gosta de carnaval? Ou vai ver a folia de longe?