Se Sócrates foi o líder da Democracia Corintiana, seu irmão Raí agora é o expoente de uma nova forma de fazer política. Eleito presidente da Atletas pelo Brasil, ele substitui a ex-jogadora de vôlei Ana Moser em uma instituição que traz um novo conceito ao esporte brasileiro: o advocacy. Como sintetiza o ex-craque, "influenciar as políticas públicas é o nosso principal objetivo".
Não trata-se exatamente de lobby, ainda que esta seja uma etapa desse processo. "Advocacy é escolher a meta, levantar os indicadores e a partir daí traçar uma estratégia. O lobby, a conversa de antessala, é parte dessa estratégia. Até chegar a ele você tem uma estratégia de comunicação, de mobilização da sociedade civil como um todo", explica Raí, que chegou a ser presidente da mesma ONG em seus primórdios, há 10 anos, quando ela ainda se chamava Atletas pela Cidadania e tinha como foco não o esporte, mas novas oportunidades para a juventude, especialmente pelo Jovem Aprendiz.
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Agora, Raí volta ao comando da ONG que tem mais de 70 atletas e ex-atletas filiados, gente do calibre de Clodoaldo Silva, Lars Grael, Patrícia Medrado, Paulo André, Gustavo Borges e Marcel de Souza, só para ficar entre diretores e conselheiros fiscais. Boa parte deles, como Raí, têm seus próprios projetos sociais. A Atletas pelo Brasil, que ganhou esse nome em 2011, vai muito além.
Há três anos, a grande conquista da entidade foi a introdução do Artigo 18-A na Lei Pelé, que, entre outras coisas, limita a uma a reeleição de dirigentes de entidades esportivas que recebem recursos públicos. Presidente da Atletas pelo Brasil à época, Ana Moser se reuniu com os líderes partidários para que a emenda fosse aprovada na Câmara e no Senado.
Agora, caberá a Raí liderar o movimento, que atualmente tem três metas principais: dobrar o nível de atividade física na população em geral, ampliar o espaço do esporte dentro das escolas e repensar o Sistema Nacional de Esporte, que vai definir a responsabilidade de cada ente do estado no esporte.
"A gente quer que seja debatido, seja democrático, tenha a ver com as nossas metas. Hoje você tem programas municipais de esporte, estaduais, ligados ao ministério, que não se conversam, se repetem, e não têm integração com saúde e educação", critica Raí.
O grande trunfo da Atletas pelo Esporte para os próximos anos, entretanto, é o Pacto pelo Esporte, auto-regulamentação criada em 2015 e que vai efetivamente entrar em prática em outubro de 2017. As empresas signatárias - gigantes como Banco do Brasil, P&G, Bradesco, Correios e Itaú - se comprometem a só firmar novos contratos de patrocínios com entes esportivos que cumpram determinados padrões de governança e transparência.
A ação não vai se restringir às confederações esportivas, tanto que uma comissão foi criada com patrocinadores ligados ao futebol. A ideia é que os clubes também adotem esses padrões para serem aptos a receber patrocínios das empresas signatárias.
"O Flamengo, por exemplo, já está com uma conduta de gestão bem mais transparente, exemplar diria, até. O presidente (Eduardo Bandeira de Melo) faz questão de dizer: pode vir aqui, já estou cumprindo tudo que foi escrito por vocês. O Pacto já está tendo influência no futebol. Outros clubes nos procuraram", conta Raí.
A um semestre de terminar um curso de mestrado exclusivo a ex-atletas, que tem módulos na França e na Inglaterra, Raí se prepara para um novo momento da vida. Ainda sob a presidência de Ana Moser, a Atletas pelo Brasil se posicionou contra as indicações de George Hilton e Leonardo Picciani para o Ministério do Esporte. A própria ex-jogadora, aliás, chegou a ser cogitada para o cargo.
Agora, é de Raí esse papel de liderança. "Estou muito motivado porque temos avançado, nossa voz está sendo mais ouvida, estamos sendo mais respeitados", avalia o ex-jogador, que tem mandato até 2018.