Brasileiros que costumam viajar ao exterior sempre têm a sensação de encontrar compatriotas por toda parte. Das metrópoles aos lugares mais remotos, é comum ouvir os sons da língua portuguesa mesmo quando se está a milhares de quilômetros de casa. Isso é especialmente forte na Itália, país com históricos laços com o Brasil e meta turística de mais de 600 mil de seus habitantes todos os anos.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (Istat) referentes a 2016, há 43.783 brasileiros vivendo legalmente na nação europeia, sendo 31.746 mulheres e 12.037 homens. O número não chega a ser significativo em um país com população de 60,6 milhões de pessoas, mas chama atenção que há cidadãos do Brasil vivendo em todas as 107 províncias italianas, incluindo as 14 regiões metropolitanas.
##RECOMENDA##Dentre elas, oito abrigam mais de 1 mil brasileiros: Milão (5.361), Roma (4.767), Turim (2.711), Verona (1.674), Florença (1.342), Nápoles (1.220), Brescia (1.206) e Mântua (1.024). Com exceção de Florença e Roma, consideradas "centro" pelo Istat, e Nápoles, no sul, as outras cinco ficam no norte da Itália.
Não à toa, a parte setentrional da península é lar de 61,2% dos brasileiros residentes no país da bota, sendo 17.785 no noroeste e 9.013 no nordeste, totalizando 26.798. Há outros 10.595 no centro, 4.889 no sul e 1.501 nas ilhas da Sardenha e da Sicília, que concentram as zonas menos procuradas por nativos do Brasil.
É curioso que, apesar de ter 1 milhão de habitantes a mais que a região metropolitana de Milão, a de Roma atraia menos brasileiros. Para Carla Guanais, autora do blog "Sonhos na Itália", isso se deve ao fato de Milão ser a capital da região mais rica do país europeu. Ou seja, é onde há mais empregos.
"Roma é bom para quem quer trabalhar com turismo, falando várias línguas", diz ela, que está há seis anos e meio na Itália, já viveu na província de Milão e hoje reside em Roma. Em sua visão, apesar de menor, a comunidade brasileira na "cidade eterna" é mais unida, embora a integração à sociedade local seja mais fácil na capital da Lombardia.
"Ambas as cidades têm uma grande comunidade brasileira. Em minha experiência pessoal, a comunidade em Roma é mais unida, tem o grupo católico, tem mais eventos brasileiros, é uma cidade com mais opção noturna e outro ritmo de vida, mais propícia a reunir grupos afins. Mas eu achei muito mais fácil a integração em Milão. As pessoas são mais receptivas, apesar de terem a fama de frias e fechadas", salienta Guanais.
Ela também diz que 80% das pessoas de seu convívio na Itália são brasileiras, até pela facilidade maior em se relacionar com alguém que usa o mesmo idioma e carrega a mesma cultura. É o caso de Paula Cenci, que chegou à península em outubro de 2016 e já está empregada em um restaurante brasileiro em Milão onde o dono e a maioria de seus colegas são compatriotas.
"Nesses seis meses que estou aqui, já tenho trabalho, estou estabilizada, moro em um apartamento com meu marido. Conheci muitos brasileiros que me ajudaram", conta ela, que mudou de país para conseguir seus documentos europeus.
Seu primeiro lar na Itália foi em Roma, mas a burocracia para levantar a papelada necessária para o processo fez com que Cenci se transferisse para Milão. "Aqui tem muito estrangeiro, então não houve problema [para a adaptação]", acrescenta.
Para Felipe Denuzzo e sua esposa, há um ano e quatro meses no país, a opção pela província de Milão se deveu a motivos de trabalho. Fotógrafos para brasileiros que viajam pela Europa, eles decidiram escolher uma cidade que oferecesse facilidade de locomoção, Pioltello, na região metropolitana da capital da Lombardia.
Denuzzo diz que o município de 37 mil habitantes é bastante receptivo a estrangeiros, apesar das dificuldades de adaptação por causa do idioma. "Ainda estou estudando, mas a Prefeitura tem um escritório para cuidar só de estrangeiros", relata. Como Guanais e Cenci, sua convivência social - e profissional - se dá sobretudo com compatriotas. "Temos muitos amigos brasileiros, convivemos bem, sempre um ajudando o outro. São pessoas que chegaram na mesma época que nós", ressalta.
Outro lado
Na ponta de baixo do ranking, existem nove províncias com menos de 50 brasileiros, sendo três na Sicília - Enna (11), Caltanissetta (35) e Agrigento (46) -, e outras três na Sardenha - Sul da Sardenha (25), Nuoro (33) e Oristano (34).
As outras são Isernia (19), em Marcas, e Vibo Valentia (33) e Crotone (35), na Calábria. Em comum entre elas, à exceção da central Isernia, está o fato de todas ficarem no sul, mais pobre e com índices de desemprego mais elevados que no norte.
Essa discrepância também pode ser vista na distribuição dos brasileiros por região: as preferidas são as mais populosas, Lombardia (12.347), no norte, e Lazio (5.609), no centro. As duas que aparecem em seguida na lista de mais povoadas do país, Campânia e Sicília, ambas no sul, são apenas a sétima e a décima com mais brasileiros, com 2.114 e 1.017, respectivamente.
Na parte inferior da tabela estão as pequenas Basilicata (126), na Itália meridional, Vale de Aosta (114), no extremo-norte, e Molise (70), também no sul. Esta última é a região que tem menor proporção de homens entre os brasileiros, com 15,1%, enquanto a Calábria é a mais "masculina" de todas, com 34,1%.
Os únicos municípios com mais de 1 mil residentes brasileiros são a capital Roma, com 3.647 (2.612 mulheres e 1.035 homens), Milão, com 3.005 (2.011 mulheres e 994 homens), e Turim, com 1.742 (1.126 mulheres e 616 homens). Das 4.246 cidades italianas habitadas por cidadãos nativos do maior país da América Latina, 1.244 contam com apenas um brasileiro.