"Eu não matei ninguém e não feri ninguém", afirmou nesta quarta-feira (9) Salah Abdeslam, o principal acusado no julgamento dos atentados que deixaram 130 mortos em novembro de 2015 em Paris.
"Nem um arranhão", acrescentou este francês de 32 anos, o único integrante vivo dos comandos que atacaram o Stade de France, bares e cafés na capital do país, assim como a casa de espetáculos Bataclan, antes do início de seu interrogatório no tribunal.
O primeiro interrogatório, que se concentra no período anterior ao ataque, pretende esclarecer o processo de radicalização de Abdeslam, que tinha fama de "festeiro", fã de cassinos e boates. Durante a instrução do julgamento, ele permaneceu quase em total silêncio.
Salah Abdeslam também poderá responder a perguntas sobre a estadia na Síria, no início de 2015, de seu irmão Brahim - que participou do ataque a locais a céu aberto de Paris - e sobre seu amigo Abdelhamid Abaaoud, que coordenou os atentados.
O tribunal também tentará esclarecer os motivos de uma misteriosa viagem que ele fez à Grécia, com outro dos réus. Mas ele responderá à primeira série de perguntas? Dois dos 14 acusados presentes ao julgamento já exerceram o seu direito ao silêncio.
"Desde o início do caso, não param de me caluniar", disse Abdeslam, para quem a justiça deseja "dar uma lição" com as sentenças "extremamente duras" nos casos de terrorismo. Mas isso envia, segundo ele, uma "mensagem".
"No futuro, quando um indivíduo entrar no metrô ou em um ônibus com uma maleta repleta de 50 quilos de explosivos e no último momento afirmar 'vou desistir', ele saberá que não tem o direito, que em caso contrário será preso ou morto", acrescentou.
Os sobreviventes dos atentados e as famílias das vítimas esperam respostas e o interrogatório de Abdeslam representa é um momento-chave.
"Quando olho para ele, sinto incompreensão. Como ele conseguiu fazer aquilo? (...) O julgamento vai terminar sem que nenhum de nós realmente compreenda", declarou ao canal France 2 Philippe Duperron, que perdeu o filho Thomas nos atentados e lidera uma associação de vítimas.
Em 8 de setembro, na abertura do julgamento, Abdeslam apresentou-se como "combatente" do grupo jihadista Estado Islâmico (EI). Mais tarde, considerou que o atentado foi "inevitável" devido às intervenções militares da França na Síria, ao mesmo tempo que fez um apelo por "diálogo" para evitar novos ataques.
O interrogatório de Abdeslam está previsto para durar dois dias.
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