O Irã não tem urgência de ver os Estados Unidos voltarem ao acordo internacional sobre o programa nuclear de Teerã e exige, primeiramente, a suspensão das sanções impostas por Washington - declarou o guia supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, nesta sexta-feira (8).
A pergunta não é se "os Estados Unidos voltarão, ou não. Não temos pressa e não estamos insistindo para que volte", disse Khamenei.
"Nossa demanda racional e lógica é que as sanções sejam suspensas", porque "é um direito usurpado da nação iraniana", disse a autoridade, em discurso transmitido pela televisão.
"Estados Unidos e Europa, que seguem os Estados Unidos, têm o dever de respeitar esse direito do povo iraniano", afirmou.
Em 2015, o Irã e o Grupo dos Seis (China, França, Rússia, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos) chegaram a um acordo em Viena sobre um Plano Conjunto de Ação Global (JCPOA, na sigla em inglês) para resolver a questão nuclear iraniana após 12 anos de tensão.
O acordo oferece ao Irã uma flexibilização das sanções internacionais em troca de limitar drasticamente seu programa nuclear e garantir que não se dotará de uma bomba atômica.
O pacto está em perigo, porém, desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirou seu país do acordo em 2018, antes de restabelecer e intensificar as sanções econômicas em nome de uma política de "pressão máxima" contra o Irã.
- 'Não é lógico'
O restabelecimento das sanções deixou o Irã sem os benefícios econômicos que esperava colher com o acordo de Viena, alienando investidores estrangeiros e reduzindo o comércio exterior do país, principalmente suas exportações de petróleo. Todo esse quadro mergulhou o país em uma recessão severa, da qual ainda luta para sair.
Em resposta, desde 2019, Teerã foi, gradualmente, liberando-se da maioria dos compromissos de Viena de pressionar, até agora sem sucesso, os demais sócios do acordo a ajudarem-no a contornar as sanções dos EUA.
A vitória de Joe Biden na eleição presidencial pode significar uma mudança na atitude de Washington em relação a Teerã. O presidente eleito já manifestou, por exemplo, a intenção de fazer os Estados Unidos voltarem ao acordo. Para isso, coloca condições inaceitáveis para o Irã.
Nas últimas semanas, o presidente iraniano, Hassan Rohani, multiplicou os sinais de abertura ao futuro governo americano. Ao mesmo tempo, porém, ele condiciona o retorno dos EUA ao acordo de Viena à suspensão das sanções americanas reimpostas, ou que já estavam em vigor desde 2018.
"Se as sanções forem suspensas, o retorno dos americanos fará sentido", disse Khamenei.
Em caso contrário, "se as sanções não forem suspensas, o retorno dos Estados Unidos não apenas não nos beneficiará, como também pode nos prejudicar".
"Quando uma parte não cumpre nenhuma de suas obrigações, não seria lógico que a República Islâmica respeitasse todos os seus compromissos", acrescentou o líder supremo.
"Se eles voltarem às suas obrigações, nós voltaremos às nossas", garantiu.