A edição deste ano o Festival Pré AMP, criado para dar visibilidade a músicos, artistas e bandas da nova cena musical pernambucana, contou com 177 grupos inscritos. No último domingo (23) seis bandas disputaram a final do Festival Pré AMP 2014, realizada na Rua da Moeda, e a vencedora eleita pela comissão julgadora foi a Francisco, formada por Francisco Nery (violão e vocal), Rafael Céu (guitarra e teclado), Arthur Fernandes (guitarra), Karl Lingman (baixo), Artur Dantas (controlador) e Eduardo Guerra (bateria). Eles ganharam do Pré AMP uma gravação e mixagem de um CD no estúdio MUZAK, com prensagem de mil cópias, e apresentações no Carnaval do Recife, na segunda (3), às 18h, em Casa Amarela, e no Palco Pop do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG). O LeiaJá conversou com Francisco Nery, estudante de letras da UNICAP, músico há 10 anos e idealizador do projeto. No bate-papo foram abordados assuntos como a proposta e os planos futuros da banda, a apresentação na final do Pré AMP no último domingo (23) e o show que será realizado no Carnaval do Recife, em Casa Amarela. Confira abaixo:
Formação da banda
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Eu participei de vários grupos musicais, uns dez ao todo, e todos acabaram com uma sensação de dor de parto sem fim. Cheguei à conclusão de que devia fazer um projeto que fosse com meu nome, já que eu vou carregar isso e não teria esse problema de fim. É uma ideia que vai seguir e que direciona mais, porque quando você tem um trabalho mais solo fica mais direcionado. Decidi então assumir essa coisa de frontman, encontrei essa galera e a identificação foi recíproca. A banda Francisco estreou no meio do ano passado no Teatro da UFPE e de julho pra cá a gente tem trabalhado bastante as músicas. No meio do caminho apareceu um novo guitarrista, Artur Fernandes, que entrou no projeto com a ideia do Pré AMP, algo que nunca tinha passado pela minha cabeça. Ele me mandou o link da inscrição e quando eu me inscrevi senti na hora que tinha um caminho meio predestinado pra gente. Gravar um disco é uma coisa que eu não imaginava como ia conseguir pela questão da grana mesmo, e o Muzak é um dos melhores estúdios daqui. E pressentindo a entrada no festival, a gente foi pra Aldeia e fez um ensaio que durou quase 12 horas sem estresse, no silêncio da mata. Foi um momento que proporcionou um salto de vários níveis na nossa qualidade musical e ficamos bem afinados entre si.
Final do Pré AMP
Foi quando descobrimos que tínhamos entrado pra final do Pré AMP e isso era esperado. É um concurso difícil, tem muita gente boa, envolve a questão do gosto, os pré-requisitos. Mas de fato chegamos com uma vontade grande porque sabíamos que o nosso som estava muito bom. Chegamos para ganhar, claro que respeitando muito todo mundo. Tinha gente lá com experiência de cinco anos de banda e a gente não tem nem um ano direito de trajetória. O que diferenciou foi a nossa raça, a vontade de trabalhar, não que os outros não tivessem, mas a gente chegou com essa perseverança. Ai chega a final, seis pessoas de júri, cada um com sua cabeça. Eu senti uma grande diferença do primeiro show pro segundo durante a competição. A gente chegou na segunda vez muito mais maduros, sem medo. Tanto que eu não tava nem ligando se ia ganhar ou não, porque foi um dos melhores shows que eu fiz na minha vida. E eu achei o resultado justo. Todo mundo que tava lá merecia ser reconhecido e eu não pude ver o show das outras bandas, então não tenho nem como julgar. Sei que tinha uma equipe massa com a gente, o que fez muita diferença. Alexandre Barros, da Babi Jacques e Os Sicilianos, ficou com a iluminação. Ramsés, do Musika, também tava junto e ele pra mim está muito a frente da gente musicalmente falando.
O Festival é muito bem feito. Eles têm uma equipe linda e o pouco que eu conheci pude ver que eles são muito incríveis porque não existe ninguém que faz o que eles fazem no Recife. É um festival de 11 anos e sem dúvida ele alavancou a divulgação do nosso projeto. Acho que a organização avalia entre os concorrentes aqueles que podem dar certo, até porque o festival tem que dar um retorno positivo. E acredito que um dos diferenciais da gente é que o nosso som tem isso de ser mais plural. Por mais que a gente tenha um som que não é pop, temos um pouco disso e acabamos agradando a maioria das pessoas.
Repercussão após o Pré AMP
Meus pais ficaram bestas, e chega uma hora que até cansa. “Eu trabalho com isso há 10 anos e só agora vocês tão entendendo?”, pergunto a eles. Não estou reclamando, pra mim é ótimo, mas eles ficam querendo saber sobre um trabalho que eu desenvolvo há um bom tempo e fico nessa de explicar. Quanto à galera nos procurando para entrevistas, shows, é um reconhecimento de um trabalho que vem de muito tempo e, particularmente, dentro de mim não muda tanto. Sempre trabalhei com música, no dia a dia, ensaiando com as bandas. Toquei muito em barzinho. Mas o reconhecimento de ver as coisas acontecendo, e com um trabalho autoral o qual posso dizer o que acredito pras pessoas, de oferecer ao mundo de uma forma sincera e com amor. Isso é muito gratificante.
Material na internet
A gente tem Soundclound e Facebook. Lá estão algumas músicas que a gente gravou com o Zum, nada numa qualidade boa, mas dá pra entender o nosso som e a proposta. E já chega um CD ai, sem dúvida com uma qualidade bem melhor. Tem uma música que a gente produziu recentemente que está bem legal, Igor Bruno, da Mamelungos, fez com a gente.
Gravação CD
Em relação à quantidade de faixas, isso é uma questão que estamos vendo ainda, não tem nada certo. Tem algumas músicas que a gente sabe que vão entrar, como as do show, por exemplo. Algumas outras ainda serão produzidas pensando no CD. Tem uma com o Vinicius Sarmento, por exemplo, um cara novo que toca com muita gente grande. Quanto à produção do CD, Rafael Duarte, meu cunhado que já tocou no Cordel do Fogo Encantando, na Rivotril, e toca n’Os Sertões, chegou junto. Sempre achei muito profissional a produção dele e vai ser uma experiência valiosa. É um cara que vai acompanhar a gente na produção e com o coração, e isso é muito importante. Ramsés, que está mais envolvido com a engenharia do som, também vai poder acrescentar bastante. Contamos ainda com uma equipe massa. Tem a Luisa Nóbrega que faz foto e vídeo com a gente, Rafinha (guitarrista) se garante muito com artes e eu quero que ele fique à frente dessa parte. Mas eu soube que o Pré AMP tem uma equipe e vamos ter que trabalhar em conjunto com eles. Outra coisa que resolvemos é que a partir de agora vamos precisar de um produtor executivo. Não dá pra gente estar num show e resolver os problemas que acontecem. Tem que ter um cara de confiança, experiente e desenrolado, e Vitor Pequeno veio nessa onda. Um cara disposto pra caramba e tem experiência técnica também. Foi uma felicidade grande encontrá-lo e coincidiu com a saída dele da Mundo Livre S/A. É um período que ele está mais livre.
E o nome até então parece ser Traga Asas. Esse trabalho do Pré AMP veio disso, de voar com os braços abertos, e eu acho que a gente tem que fechar esse ciclo. O título veio da expressão "se vier, traga asas" que veio de "voar é ter os braços abertos", e os componentes se uniram nessa ideia de proporcionar voos ao publico. Tirá-lo do seu lugar comum, mostrando o real sentido da arte para nós da Francisco. Portanto o projeto traga asas é uma convocação pra um estado de entrega à música, às artes cênicas e visuais.
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Carnaval do Recife
A gente vai conversar sobre as músicas que vamos tocar. Pensei em Otto, em Lula Queiroga, essa galera daqui que tem cara de Carnaval. Otto tem cara, por exemplo, e eu espero que ele não se importe da gente tocar uma música dele. E tocar no Carnaval é tudo muito novo pra gente. Eu não tinha a menor ideia de como era isso. E olhe que eu toco há muito tempo, mas lidar com a Prefeitura do Recife é outra realidade. É documento que eu nunca tinha visto falar da minha vida. Uns 500 gramas de papel.
Festival de Inverno de Garanhuns (FIG)
Daqui pra lá, se Deus quiser, rola Abril pro Rock (APR) e outras coisas. Ninguém me ligou nem nada, mas eu soube que muitas das bandas que foram campeãs do Pré AMP foram pro APR, entre outras coisas. E a gente espera também divulgar nosso trabalho nas festas e shows que vão acontecer. Eu tenho muitos amigos produtores que fazem eventos no Boca da Mata e Lesbian Bar, por exemplo. Acho que a gente pretende não parar porque quando fazemos um show fechamos os arranjos, criamos uma identidade. Quanto mais show a gente fizer nesse período que antecede a gravação do CD será melhor. E nesse sentindo talvez a gente abra um show de Marcelo Jeneci em Caruaru. Talvez Abril Pro Rock. A verdade é que a gente está afim de tocar, fechar o som, divulgar e, quando tiver com o disco pronto, dar uma rodada pelo Brasil.