O desenho animado Peppa Pig "entrou" no meio da campanha eleitoral na Itália, que terá o pleito no próximo dia 25, após divulgar um episódio em que um dos personagens aparecia com duas mães.
Durante todo o fim de semana e nesta segunda-feira (12), o assunto entrou na pauta das principais lideranças do país.
##RECOMENDA##Tudo começou após o partido de extrema-direita Irmãos da Itália (FdI) se manifestar contrário ao desenho e pedindo uma censura para a divulgação do episódio na Itália via emissora "RAI", que detém os direitos de transmissão.
O FdI, de Giorgia Meloni, lidera as intenções de voto com cerca de 24% - conforme as últimas pesquisas eleitorais divulgadas na sexta-feira (9).
O diretor de cultura da sigla, Federico Mollicone, afirmou que era "inaceitável a escolha dos autores de inserir um personagem com duas mães". "Eu e Meloni estaremos sempre na linha de frente contra discriminações, mas não podemos aceitar a doutrinação de gênero", disse o representante.
"Peppa Pig é um desenho que atinge crianças de três anos, em média. São assuntos que deveriam ser lidados pelas famílias, sempre pensei assim e continuo pensando. Além disso, coloca-se em risco o fato de forçar conceitos para quem ainda não sabe metabolizá-los. Não são as famosas fobias que dizem por aí", disse Meloni durante um evento em Údine.
Após as falas, o secretário-geral do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, Enrico Letta, ironizou os comentários. A legenda aparece tecnicamente empatada com o FdI, em segundo lugar na corrida eleitoral.
"Eu queria falar de tudo na Itália, mas não de Peppa Pig. Infelizmente, a direita nos obriga a enfrentar esses temas porque com certas falas revelam uma visão da sociedade que demostra seu atraso e a sua incapacidade de entender as mudanças no país", afirmou durante um evento eleitoral em Gênova.
Nas redes sociais, Letta voltou a abordar o tema e lembrou que Meloni deu publicidade a um vídeo de uma mulher sendo estuprada - que depois foi removido pelo Twitter.
"Uma pergunta para Giorgia Meloni: enquanto Peppa Pig é censurada, o vídeo da mulher estuprada em Piacenza é divulgado sem limites?", pontuou.
O deputado Alessandro Zan, também do PD e autor de uma lei contra crimes de homofobia e transfobia que está bloqueada no Senado por conta da pressão dos partidos de direita e extrema-direita, também ironizou o FdI.
"Irmãos da Itália lança o alerta, um novo inimigo ameaça a nação: a Peppa Pig", escreveu nas suas redes sociais.
Já o líder do ultranacionalista Liga, Matteo Salvini, que faz parte da coligação de centro-direita que deve sair vencedora das eleições do dia 25, minimizou o assunto ao ser questionado em um evento político em Milão.
"Se eu precisar escolher entre Peppa Pig e o alto valor das contas, eu escolho as contas. Para mim, é prioritário controlar o preço das contas de luz e de gás porque muitos italianos não têm nem dinheiro para pagar a taxa da RAI que está atrelada à conta de energia. Mas, eu deixaria as crianças terem o direito de assistir desenhos animados e os contos de fada que se assistem há uma vida sem inovações que interessam mais os adultos do que as crianças", ressaltou.
Também parte da coligação, Silvio Berlusconi, do Força Itália, se manifestou nesta segunda-feira sobre a polêmica.
"Acho triste e também preocupante que se use um desenho animado para os mais pequenos para veicular uma visão ideológica da família e da sexualidade. Uma coisa é respeitar todos os estilos de vida e orientações afetivas, quem está em um estado liberal deve poder ter os mesmos direitos e dignidade. Uma outra coisa é condicionar as crianças", afirmou Berlusconi, dizendo que defende a "família natural".
Após a fala do ex-premiê, a senadora Monica Cirinnà, responsável nacional pelos Direitos do PD, fez críticas ao líder do FI.
"Hoje, também Berlusconi encontra tempo para criticar Peppa Pig e reforça que, para eles, a família é só uma. Com os imensos problemas que o país está enfrentando atualmente, do preço das contas à sombra da guerra, Berlusconi não tem nada melhor para fazer do que atacar famílias homoafetivas? E olha que, menos mal, o Força Itália é a força moderada da coalizão", ironizou a senadora.
Da Ansa