A Via Mangue demorou três gestões para ficar pronta. Durante anos o atraso foi justificado pelas licenças ambientais, adequações ao projeto original e falta de recursos, entre outros problemas. Depois de entregue a via em direção ao aeroporto, os motoristas ficaram maravilhados com o benefício da obra. Mas o que falta para a obra inteira ser entregue? Os anos de planejamento desta obra foram suficientes para que erros não fossem cometidos? Por que a obra está parada?
Nem todas as perguntas podem ser respondidas facilmente. Aliás, nenhum gestor público ou membro da empresa que foi contratada para realizar a obra quis falar com a nossa reportagem. Tudo foi respondido através das assessorias e mesmo o local sendo público, a nossa equipe foi convidada a se retirar do local, quando tentou ver as “obras” mais de perto.
Segundo a Prefeitura do Recife, a obra será retomada até o dia 15 de outubro. No local, o LeiaJá pôde constatar a total paralisação da obra viária. Vergalhões enferrujados, fios desencapados e ausência do poder público no local, por onde passam pedestres, ciclistas, motos e até mesmo carros, que por vezes pegam a pista “não-liberada”.
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A segurança é feita por um motoqueiro, de uma empresa terceirizada pela construtora Queiroz Galvão, que faz rondas periódicas. Sobre isso, a Prefeitura informou que a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) não tem como proibir a circulação de ciclistas pela Via Mangue, mas orienta que seja evitada por ser uma via expressa.
A Prefeitura garante que o prazo de entrega da obra permanece sendo o dia 31 de dezembro, inclusive com uma ciclovia. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) emitiu medida cautelar suspendendo o pagamento à construtora enquanto as obras estiverem paradas. O conselheiro Carlos Porto levou a medida cautelar para ser referendada na sessão da 1ª Câmara no dia 30 de setembro, mas o Conselheiro João Campos pediu vistas do processo. Ele terá que devolvê-la para apreciação da 1ª Câmara até a próxima quinta-feira (9).
A paralisação e o consequente atraso teria sido provocado por uma adequação do projeto e a liberação de uma verba de R$ 26 milhões, junto ao Governo Federal, para quitar a contrapartida da Prefeitura. Segundo a assessoria da PCR, este empréstimo seria liberado nesta semana. Já a assessoria de imprensa da Caixa Econômica, que seria o financiador deste recurso, garante que não há nenhuma data determinada que o dinheiro chegue aos cofres públicos no Recife.
Mudança no projeto
A adequação, segundo a assessoria da PCR, é um benefício aos pedestres e comerciantes com seus carrinhos de produtos que passam diariamente pela ponte Paulo Guerra. Após a liberação da alça de acesso à Via Mangue, a parte por onde estes passavam foi cortada no meio. O projeto, que está sendo feito pela URB, prevê “uma descida em espiral que passará por debaixo da ponte estaiada e será ligada à Avenida Herculano Bandeira”.
A princípio é difícil entender como isso será feito. Mas a necessidade existe. O LeiaJá foi até o local e constatou o problema. Pedestres, ciclistas e comerciantes tem que esperar um longo tempo até que o fluxo de veículos diminua para atravessar o novo obstáculo. “Acho que deveria ter sido planejado antes, para que o pedestre tivesse espaço. Estou aqui cometendo uma infração de estar no meio da pista e arriscando a vida”, reclamou o militar Aimar Santos, 37 anos.
O vigilante Gel Ferreira esperou algum tempo até conseguir passar com sua bicicleta. “Deveria ter alguma coisa para atravessar né? Agora tenho que esperar os carros darem uma folga”, contou.
Já a comerciante Rosilene da Silva, relatou que já presenciou acidentes no local. “Já houve, inclusive tive que mudar de caminho. Está péssimo para atravessar. Tanto dinheiro gasto e não pensaram nos pedestres”, se queixou ela.
Embaixo do viaduto, uma passarela de ferro, provavelmente colocada para auxiliar na obra, enferruja com a ação do tempo. Sem previsão da Caixa, com ameaça de suspensão pelo TCE e com tanta coisa a ser feita, é difícil acreditar que até o fim do ano tudo esteja pronto. A Queiroz Galvão não quis se pronunciar sobre nenhum dos aspectos citados na reportagem.
Fotos: Fernando da Hora/LeiaJáImagens