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O Parque Dona Lindu, na Zonal Sul do Recife, ganhou ares circenses na tarde deste sábado (24). Atores vestidos em roupas coloridas e vibrantes convidavam as pessoas, crianças e adultos, a se juntarem a eles em um cenário ao ar livre - com luzes coloridas, estruturas de madeiras e uma bandinha. O Segredo do Arco do Trancoso, do pernambucano Luiz Felipe Botelho, atraiu curiosos, que sentados em uma lona no meio do cenário acompanhavam o espetáculo com atenção.
##RECOMENDA##Apesar de ser uma peça de rua e com pouco cenário, a junção de música, jogo de luz e figurinos bem elaborados deixam qualquer local em que a apresentação passa com uma atmosfera envolvente. Além disso, a proximidade do público com a encenação e a interação dos atores com os espectadores faz com que o público se sinta parte da brincadeira.
O Segredo do Arco do Trancoso, que faz parte da programação do festival Palco Giratório, conta a história de um menino que recebe a missão de levar uma arca misteriosa para um lugar muito longe. Durante sua jornada, o menino acaba tendo a arca roubada por diversos personagens. O que eles não sabem é que a arca tem poderes mágicos que acaba afetando a vida daqueles que tentam descobrir o que há dentro dela.
Esta é a primeira apresentação do espetáculo no Recife, apesar desta ser a cidade natal do seu autor. Em entrevista ao LeiaJá, Felipe Botelho explicou que tentou trazer a peça outras vezes, mas não foi possível custear a vinda. “Tivemos alguns problemas, o pessoal não quis arcar com o custo”, conta. Além disso, o escritor disse que o fato de a montagem ser feita por um grupo baiano, o Vilavox, pouco conhecido em Pernambuco foi um empecilho.
Acessibilidade
Há quatro anos o festival nacional de artes cênicas Palco Giratório incluiu em sua programação peças com audiodescrição e tradução em Libras, para poder levar o teatro a um público maior. O Segredo do Arco do Trancoso foi um dos espetáculos que contou com o serviço, que dispunha de duas tradutoras de linguagem de sinais e duas para audiodescrição.
O publicitário Miltomn Carvalho e sua cadela Shiva foram ao Parque Dona Lindu para acompanhar o espetáculo - ele é deficiente visual e Shiva sua cão guia. Miltomn contou que infelizmente ainda é difícil encontrar peças que tenham a audiodescrição. “Não há uma quantidade satisfatória, são muito poucas. Inclusive no Palco Giratório em que apenas seis peças têm áudio descrição”, explica o publicitário que já foi a outras dois espetáculos durante o festival.
Descrever tudo o que acontece em uma apresentação teatral pode ser um pouco complicado, afinal, muitas coisas acontecem ao mesmo tempo. As tradutoras de audiodescrição, Marcella Malheiros e Silvia Albuquerque dizem que é preciso montar um roteiro. “Nós lemos a peça antes e pensamos no roteiro. A gente não subtitula as falas dos personagens. Fazemos a tradução visual, como o figurino e a movimentação em torno da cena”, explica Marcella.
Já Micaeli Alves não precisa que as cenas são visualmente traduzidas, ela enxerga bem. Porém possui deficiência auditiva e precisa que alguém conte em Libras o que os personagens estão falando. Ela foi convidada a assistir a peça por uma das tradutoras presente no evento, Irany Silva. “Fiquei emocionada por ver que houve a inclusão”, contou Micaeli. Irany explica que os deficientes auditivos não estão acostumados a ir para esse tipo de programação por não ter um intérprete e por isso não procuram saber ou são informados sobre as peças.
Assim como as tradutoras de audiosdescrição, as intérpretes de libras Irany e Débora Silva precisam ler a peça antes para se programar. “A gente recebe o material antes ou chega mais cedo no espetáculo. Cada peça tem um vocabulário diferente e é preciso traduzir em sinais específicos para cada tipo de público”, explica Débora.