Nos últimos 25 anos o Partido Socialista Brasileiro (PSB) foi marcado por mudanças de lideranças e ideologias. Este ano, a agremiação está prestes a protagonizar mais uma modificação estrutural e pragmática com a fusão (ou incorporação) ao Partido Popular Socialista (PPS). O “novo PSB”, como vem sendo denominado por alguns líderes, deve estar oficializado em setembro, no entanto, até lá muitas águas devem rolar sob a ponte PSB-PPS. Entre elas, as marcas históricas da legenda socialista que integram uma “metamorfose ambulante” de ideologias, aliados, ascensão e queda.
Criado para seguir uma linha política à esquerda e com uma carga mais acadêmica, a primeira grande mudança da legenda desde a redemocratização veio a partir de 1990, com o ingresso do ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes. Ele atraiu consigo uma carga de ideais políticos mais populares, quebrando o retrato elitizado da sigla. “Com a chegada dele que o partido começou a escrever a formação da sua base, Arraes foi o encontro do PSB diretamente com o povo. Foi nessa época que o partido criou os segmentos sociais e populares”, lembrou o presidente do PSB estadual de Pernambuco, Sileno Guedes, em entrevista ao Portal LeiaJá.
##RECOMENDA##Sob a presidência nacional de Arraes (1993 a 2005) o PSB, apesar de pequeno, tinha uma identidade mais definida e no hall de aliados estavam apenas legendas como o PT, PCdoB e PDT. O quadro começou a mudar em 2005, quando o ex-governador Eduardo Campos passou a comandar a agremiação. Naquele ano foi autorizada a adesão dos socialistas aos palanques do PSDB e PMDB, principais aliados da legenda atualmente.
De acordo com uma fonte socialista com influência durante o comando de Arraes e Campos, o PSB registrou nos últimos anos um crescimento mais amplo e uniformizado em todo o país, entretanto ficou descaracterizado. “O partido se tornou o quarto maior do Brasil, mas ficou com uma menor identidade de esquerda e passou a ser mais centro-esquerda. Esse foi o preço do crescimento”, observou em reserva, à reportagem do Portal.
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Com a abertura, a legenda passou a se portar com mais flexibilidade, abandonando algumas teses de esquerda. “Com a liderança de Arraes, por exemplo, dificilmente a bancada do PSB votaria a favor do Projeto de Lei 4330, que regulamenta a terceirização no Brasil”, contextualizou a fonte.
Para conquistar a colocação de quarta maior sigla, o PSB precisou alçar voos mais ousados. O primeiro aconteceu com o lançamento da candidatura de Antony Garotinho à presidência da República em 2002. Já o segundo, foi justamente protagonizado por Campos ao desembarcar da base aliada do PT, em 2013, e se lançar na disputa pelo Palácio do Planalto contra a afilhada política do ex-presidente Lula (PT), a presidente Dilma Rousseff (PT).
A alternativa foi sem sucesso, com a morte do pernambucano em agosto do ano passado. Episódio que também acarretou o início de uma queda do partido e uma nova reorganização interna. A presidência da legenda, por exemplo, passou a ser ocupada pelo também pernambucano Carlos Siqueira. A escolha, segundo Sileno Guedes, foi na expectativa de que sejam forjados, sob a liderança de Siqueira, novos protagonistas nacionais como Campos. "A escolha de Siqueira foi para o amadurecimento de outros quadros, para que se possam inaugurar novas lideranças. Eles (Paulo Câmara, Rodrigo Rollemberg, Geraldo Julio e Beto Albuquerque) podem se firmar como lideranças, apesar das incertezas, e colocar o partido para frente", observou.
Carlos Siqueira é quem tem conduzido o processo de fusão junto ao PPS. A mudança é vista, por alguns, como uma forma de recuperar forças e o protagonismo. “Nosso compromisso é com o Brasil, que está numa situação grave. A fusão vai agregar força política capaz de oferecer uma alternativa diferente, de esquerda e democrática. Talvez os grandes partidos não tenham tantos bons nomes para lançar candidatos como nós temos”, salientou o dirigente.
O posicionamento, no entanto, não é unanime já que o processo não é tão positivo para muitos diretórios, inclusive, o de Pernambuco. “É uma posição que pode avançar e vá recebendo argumentos ou até mesmo ser modificada, mas agora o nosso sentimento é de muita preocupação em garantir a identidade do partido e a capilaridade que o partido tem hoje no país inteiro”, destrinchou Sileno Guedes.
Ao que se aparenta, o posicionamento do dirigente pernambucano seria possivelmente acompanhado por Miguel Arraes, caso tivesse vivo. “Não creio que Arraes fosse discutir uma fusão com o PPS, este assunto já foi tratado e ele esteve contra. Isto porque na visão dele, o PPS havia nascido para ser um braço do PSDB e de lá para cá ele continua com o mesmo perfil”, afirmou reservadamente uma fonte pessebista.
A decisão concreta sobre a fusão entre o PPS e o PSB só será consolidada em junho, durante o Congresso Nacional das duas legendas. Até lá estão agendadas diversas reuniões para definirem o espaço de cada agremiação no novo contexto político.