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A Terça do Vinil completa, nesta terça (30), 6 anos de atividade em Olinda e a comemoração é também uma despedida da cidade. O projeto movimentou as terças-feiras dos últimos anos com a proposta de resgatar e proteger a boa música brasileira através dos discos de vinil. A véspera do Dia do Trabalhador foi escolhida para, além de celebrar os 6 anos do projeto, encerrar as atividades em Olinda. Na vitrola, samba, jazz, samba rock, tropicália e guitarrada, entre outros ritmos. Em junho, o projeto estará de volta em novo local, dessa vez, no Recife.
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O projeto é comandado por Juniani Marzani, o DJ 440, e recebeu diversos convidados da cena musical pernambucana com seus discos e cheios de histórias, como Rogerman, Jorge Riba, Fred Caiçara, Sebba (Negroove) e Gilsinho (Orquestra Contemporânea de Olinda), além dos DJs Samuca (SP), Lufer (SP), Pezão (Criolina - DF), Marcos Toledo, Lala K, Rossilove, Murilo França e Pretaone.
Confira a entrevista exclusiva que O DJ 440 concedeu ao LeiaJá, em que ele conta como o projeto surgiu, o ressurgimento da cultura do vinil e as expectativas do projeto na cidade do Recife.
Qual a sua relação com o vinil?
Sou colecionador há alguns anos, mas minha relação com o vinil vem desde criança. Sempre adorei ouvir os discos do meu pai. Ele curtia muito os sambas de Bezerra da Silva e de sambistas de partido alto do Rio de Janeiro, música brasileira em geral. Me amarrava nas capas e na música. Acabei herdando os discos, que mais tarde serviram para o pontapé inicial para a Terça do Vinil.
Como e quando surgiu o projeto Terça do Vinil?
A idéia surgiu em 2006, mas só em 2007, após sair da empresa em que trabalhava, eu tive tempo para pôr em prática. Nem era projeto, nem festa. Eu apenas queria ouvir boa música com os amigos. Coloquei uma vitrolinha velha e levei uns 30 discos para a janela do Xinxim da Baiana (bar localizado no Carmo, em Olinda), que abriu as portas na época. Sem muita pretensão, as pessoas foram chegando. Chegaram tanto que o espaço não comportou mais.
Fui bater na porta da Bodega do Véio (também em Olinda). O Véio, proprietário, ficou com o pé atrás com esse negócio de DJ. Achava que era aquela coisa de música eletrônica, que ele odeia. Expliquei que o som era música brasileira, era diferente do que ele pensava e o convenci a fazer uma noite. Ele adorou o projeto e acabei passando mais de 3 anos lá. O negócio pegou corpo. Aumentei o acervo, ganhei também uma série de discos legais do público que frequentava o evento. Vieram matérias na TV e nos jornais. Foi chegando mais e mais gente. Sem querer, o que era só uma noite pra mim e meia dúzia de amigos, virou obrigatória nas terças em Olinda.
Nestes 6 anos do projeto, você comprovou que existe um público pro vinil?
Público para vinil sempre teve. Claro que maior parte das pessoas não tem mais discos ou vitrolas em casa. Mas o vinil nunca morreu. Só padeceu bastante no Brasil. De uns anos pra cá houve uma revalorização do vinil que é notória. Uma fábrica (a última que existia no país) reabriu. Os novos artistas voltaram a prensar seus discos em vinil. Outras fábricas gringas vieram investir no Brasil. Toca-discos voltaram a ser vendidos em algumas lojas. Quando a Terça do Vinil começou, o vinil não estava em alta, como hoje. É legal ver as pessoas entusiasmadas com seus toca-discos, em comprar LPs. Virou um fetiche! Afinal, vinil é vinil. Quem tem sabe que CD e MP3 não se comparam, encanta mesmo!
A que você atribui o sucesso da Terça do Vinil?
Hoje em dia, no Recife e em Olinda, temos poucas opções de lugares para se ouvir música brasileira de alta qualidade. Eu acredito que o sucesso se deve primeiramente à boa música. Sempre fui "caxias" em relação a isso. Na Terça do Vinil não toca música ruim, não toca "música pra tirar onda", não entra apelação pra chamar público. Em segundo, creio que pela variedade e diversidade musical. O projeto sempre está renovando seu acervo. Sempre trago uma pá de discos de volta pra casa e levo outras novidades. Também sempre estou nos sebos ou na internet comprando novidades. Na Terça do Vinil você vai ouvir de Cartola ao disco novo da Nação Zumbi. Do carimbó lá do Pará à cumbia lá da Colômbia. Você não vai ouvir sempre a mesma coisa.
O projeto é identificado com um dia fixo de semana, que traz até no nome. Qual o motivo da escolha?
Escolhi a terça porque era um dia que eu gostaria de fazer algo e não tinha opções. Quem é daqui sabe que terça, geralmente, é um dia morto, ainda mais em Olinda. E quem vem de fora acha que a cidade tem coisa pra fazer todo dia, o dia todo, que a música ecoa pelas ladeiras. Eu só quis dar a minha contribuição para o balanço musical da cidade, da minha forma, como eu podia.
Você conheceu muitos colecionadores de vinil neste período?
Acho que conheci mais gente que jogou seus discos no lixo, infelizmente. Mas sim, o projeto Terça do Vinil abriu um leque de pessoas muito legais, não só na cidade, mas em várias partes do Brasil e até de fora. Conheci DJs, colecionadores, produtores e músicos. Mas o mais legal foi conhecer amantes da boa música. Gente que você via a felicidade de ouvir uma música que não ouvia há anos.
Quais as expectativas do projeto daqui para frente e onde será o novo local da Terça do Vinil?
O projeto passou por muita coisa nesses 6 anos. Foram agulhas e mais agulhas, muito peso, muita poeira em horas catando discos em sebos, tudo isso para oferecer o melhor que podia para o projeto em Olinda. Tudo isso sem cobrar entrada! Mesmo assim, melhoramos muito a estrutura, o acervo, a aparelhagem tá uma beleza. Acho que está na hora de levar toda essa bagagem para o público no Recife. Ainda não tenho local definido para o projeto, mas estou em busca de um lugar que acolha com carinho a Terça do Vinil.
Serviço
Terça do vinil - Comemoração de 6 anos
Terça-feira (30) | 22h
A Fábrica Bar (Praça do Fortim, Olinda)
R$ 5 (couvert)