O acordo nuclear com o Irã vai impulsionar uma nova era na ciência da republica islâmica com o fim das sanções impostas ao país - foi o que disse a revista especializada Science nesta quinta-feira.
As sanções impostas para evitar que o Irã construísse uma arma nuclear nos últimos anos tinham efeitos colaterais no meio científico: os pesquisadores não podiam importar fósseis, baixar programas, assinar revistas especializadas internacionais nem comprar no exterior os equipamentos necessários para trabalhar. É o que diz a revista, em edição dedicada ao tema.
Ainda assim, a ciência conseguiu prosperar no Irã, garantiu Allan Goodman, presidente do Instituto de Educação Internacional em Nova York.
"Temos recebido uma mensagem bastante forte: sua ciência está viva e bem", afirmou Goodman, que viajou para o Irã este ano ao lado de um grupo de universitários norte-americanos para observar formas de colaborar com os cientistas iranianos.
O assassinato de cinco cientistas nucleares iranianos nos últimos dez anos não impediu que a república islâmica buscasse desenvolver o que descrevia como um programa pacífico de produção de energia, segundo Ali Akbar Salehi, presidente da Organização de Energia Atômica do Irã.
"Isso realmente não se tornou um impedimento para nossas atividades nucleares", disse à revista Science.
"De fato significou um impulso, no sentido de que após (os assassinatos) muitos alunos que estudavam outras áreas mudaram para a ciência nuclear".
Em outras áreas também ocorreu algo parecido. Quando os cientistas iranianos foram proibidos de importar sensores sísmicos para detectar terremotos, os investigadores desenvolveram os seus, informou a reportagem.
O ministro da Ciência, Pesquisa e Tecnologia do Irã, Mohammad Farhadi, escreveu em um artigo à parte na revista que as sanções "impulsionaram a ciência, a indústria e os setores de serviços a cooperar entre si de maneiras frutíferas".
Também "forçaram os cientistas a trabalhar de maneira mais criativa e a promover uma economia baseada no conhecimento pela primeira vez na história do Irã".
Agora, a república islâmica está à espera de mais associações e pesquisas internacionais, afirmou.
"Convidamos os cientistas de todo o mundo a começar um programa de colaboração com nossos cientistas. O Irã está pronto".
O alívio das sanções econômicas é esperado para o final deste ano.
- Projetos avançam -
Os planos para construir um observatório astronômico de primeira classe mundial avançaram e sua construção começará no ano que vem. O Observatório Nacional Iraniano, que custará 30 milhões de dólares, terá um telescópio óptico de 3,4 metros que permitirá estudar exoplanetas, raios gama e matéria escura.
Piero Salinari, do Observatório Astrofísico Arcetri em Florença, Itália, disse que quando estiver pronto, em quatro ou cinco anos, o aparato pode ser o melhor telescópio de uso geral da região.
Outro grande projeto em construção, que se iniciará em 2018, é o primeiro síncrotron iraniano, uma poderosa fonte de raios X que permitirá estudar "tudo, desde moléculas biológicas a materiais avançados", apontou a matéria.
O Irã também avança em matéria de células-tronco graças a uma fatwa do líder supremo do Irã, que declarou que este tipo de pesquisa é aceitável para a lei islâmica - embora a clonagem de seres humanos esteja fora de cogitação - segundo a revista.
"Surpreendentemente, o Irã tem uma das leis mais liberais em matéria de pesquisa sobre células-tronco no mundo", disse Ali Brivanlou, chefe do laboratório de embriologia molecular da Universidade Rockefeller em Nova York.
O governo iraniano dedica à ciência 3% de seu produto interno bruto, embora "a realidade esteja mais próxima de 0,5%, que representou em 2014 cerca de 1,7 bilhões de dólares", segundo Vahid Ahmadi, secretário-executivo do ministério da Ciência do Irã.
Mesmo assim, Ahmadi se mostrou esperançoso. "É uma nova era para a ciência no Irã", afirmou. "Estamos entrando em uma era pós-sanções".