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O homem de Neandertal sabia acender fogo por meio da fricção entre pedras, asseguram pesquisadores que analisaram várias ferramentas encontradas em sítios arqueológicos na França datadas de 50.000 anos atrás.

Já era um fato conhecido que este primo antigo do homem usava fogo. Mas não se sabia se eram apenas brasas naturais coletadas após incêndios causados ​​por raios ou erupções vulcânicas ou se, como o homem moderno, conhecia as técnicas para produzi-lo por conta própria.

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"Apresentamos a primeira prova direta material de uma produção regular e sistemática de fogo pelos neandertais", escrevem os cientistas em um estudo publicado nesta quinta-feira na Scientific Reports.

"Encontramos as pedras que foram usadas ​pelo homem de Neandertal acender fogo", explicou à AFP Marie Soressi, professora de pré-história na Universidade de Leiden (Holanda) e co-autora do estudo.

Os pesquisadores identificaram dezenas de sílex talhados nos dois lados (bifaces) com traços que parecem indicar que podem ter sido usados para friccionar minério ferroso, como pirita ou marcassita.

Uma das técnicas para acender fogo consiste em provocar atrito entre um sílex e pirita. Essa fricção produz faíscas muito energéticas. Se as deixarmos cair sobre grama ou folhas secas e assoprarmos um pouco, o fogo pega.

Marie Soressi, que participa de escavações pré-históricas na França, conhecia essas pedras bifaces "há muito tempo", mas não sabia explicar o motivo de alguns "traços intrigantes" sobre essas ferramentas do Paleolítico Médio.

Andrew Sorensen da universidade de Leiden, principal autor do estudo, analisou os traços nessas pedras bifaces que serviam sem dúvida para outras funções (corte de carne, etc.).

- "Debate vai continuar" -

A olho nu, vemos "traços de fricção em forma de C, que permitem deduzir o ângulo e direção com que os sílex atingiram a pirita", diz Andrew Sorensen à AFP.

No microscópio, os pesquisadores também descobriram estrias e um padrão de desgaste muito específico.

A equipe também realizou vários experimentos com réplicas das bifaces, submetendo-as a várias tarefas (por exemplo, esmagando o ocre para fazer pigmento).

Quando o sílex foi colocado em atrito com a pirita produziram os traços os mais semelhantes aos encontrados nas pedras neandertais.

O fato de encontrar dúzias de sílex bifaces com esses traços mostra que era "uma tecnologia predominante entre os neandertais nessa região há cerca de 50 mil anos", disse Sorensen.

Ele acrescentou que não ficaria surpreso que no futuro sejam descobertos bifaces mais antigos, tento também sido usados para acender fogo.

O pesquisador concorda, no entanto, que sua análise dos traços "continua sendo uma interpretação".

"Tenho certeza que o debate em torno da habilidade do Neandertal de produzir fogo continuará".

Para os neandertais, ser capaz de produzir seu fogo era algo crucial. Se dependessem do fogo natural, teriam que ser constantemente cuidadosos para alimentá-lo e carregá-lo com eles de acampamento para acampamento, certificando-se de que não se apagasse.

Por outro lado, se soubessem como produzir fogo, poderiam acendê-lo como quisessem, aponta Sorensen. "Isso deve permitir que eles economizem muito tempo e energia!"

Os homens de Neandertal que viviam nas cavernas de Goyet, no que hoje é território belga, não comiam apenas cavalos e renas para se alimentar, mas também carne humana, indica um novo estudo internacional.

Isso fica demonstrado pelos corpos despedaçados ou pelos ossos fraturados para que a medula fosse retirada encontrados na região.

"É irrefutável, o canibalismo era praticado aqui", explica o arqueólogo belga Christian Casseyas enquanto percorre a chamada terceira caverna de Goyet, situada em um pequeno vale perto das Ardenas belgas (sul).

Os restos datam de cerca de 40.000 anos atrás, quando a presença na terra dos neandertais estava chegando ao fim. Faltava pouco para que dessem lugar ao homem de Cro-Magnon, nosso ancestral direto, com o qual haviam coabitado.

Durante anos, os homens de Neandertal, com um cérebro um pouco maior que o do homem moderno, foram considerados seres selvagens, apesar de cuidarem dos corpos dos mortos, como demonstram algumas sepulturas da época.

Agora sabemos que eles também comiam seus pares. Já haviam sido detectados alguns casos de canibalismo em populações de neandertais estabelecidas na Espanha (El Sidrón e Zafarraya) e na França (Moula-Guercy e Les Pradelles), mas nunca antes em um país do norte da Europa.

As cavernas de Goyet, ocupadas desde o Paleolítico, são galerias de calcário de cerca de 250 metros de comprimento, esculpidas naturalmente pelo Samson, um pequeno riacho que atualmente está localizado a poucos metros das cavernas.

O lugar começou a revelar seus segredos em meados do século XIX graças a um dos precursores da paleontologia, Edouard Dupont (1841-1911).

Dupont, geólogo e diretor do Museu Real de História Natural da Bélgica, escavou cuidadosamente várias cavernas, incluindo a de Goyet, em 1867, onde encontrou vários ossos e ferramentas.

Em uma época na qual Darwin acabava de formular sua teoria da evolução, Dupont publicou os resultados de suas pesquisas no livro "L`homme Pendant Les Ages de La Pierre".

- Comida e ferramentas -

Por mais de um século, as descobertas de Dupont foram esquecidas no museu, atualmente convertido em Instituto de Ciências Naturais de Bruxelas.

Até que em 2004 Patrick Semal, diretor da seção de antropologia do Instituto, encontrou entre os ossos achados por Dupont um fragmento de mandíbula de um neandertal.

Os cientistas começaram, então, um longo trabalho para reexaminar todos estes ossos, incluindo os que Dupont considerou na época que pertenciam a animais.

A equipe internacional liderada pela antropóloga francesa Hélène Rougier, da California State University Northridge (EUA), conseguiu demonstrar que em Goyet o homem de Neandertal era antropófago.

Vários ossos humanos que pertenceram a seis indivíduos (um recém-nascido, uma criança e quatro adultos ou adolescentes) têm sinais de que foram cortados "para serem desarticulados e para que a carne fosse retirada", explica Christian Casseyas.

"Da mesma forma que quebravam os ossos de renas e cavalos que encontramos na entrada da caverna, eles quebraram ossos humanos para extrair a medula", acrescenta o arqueólogo, que acompanha os turistas que visitam Goyet.

Hélène Rougier confirmou à AFP que "alguns neandertais morreram e foram comidos aqui", a primeira constatação deste fenômeno no norte da Europa.

Seu estudo sobre a caverna belga foi publicado em julho pela Scientific Reports, uma publicação do grupo Nature. "Alguns dos ossos também serviram como ferramentas", explicou Rougier.

No entanto, as razões deste canibalismo e até que ponto ele estava disseminado continuam sendo um mistério.

"Talvez fosse apenas para alimentação, mas também poderia ser simbólico. As hipóteses estão abertas", diz Rougier.

O minúsculo osso de um dedo do pé de uma mulher Neandertal que viveu há cerca de 50.000 anos revela que algumas linhagens humanas primitivas se miscigenaram antes que um único grupo, o "Homo sapiens", ascendesse e dominasse os demais.

O osso fornece a última peça de um projeto lançado em 2006 pelo antropólogo evolutivo europeu Svante Paabo de usar um DNA antigo para rastrear a odisseia humana.

Em estudo publicado nesta quarta-feira na revista científica Nature, uma equipe reportou que o osso adiciona um conhecimento genético extraordinário sobre os nossos primos, os Neandertais, que desapareceram cerca de 30.000 anos atrás.

Os cientistas compararam o genoma com aqueles de dois outros grupos humanos que compartilharam o planeta na mesma época. Eram eles os denisovanos - outro subgrupo misterioso, que teve vestígios descobertos na Sibéria - e os "Homo sapiens", como são chamados os Homens anatomicamente modernos.

A comparação aponta para a miscigenação - o "fluxo genético" na linguagem científica - entre os três grupos, embora sua extensão tenha sido, limitada. Entre 1,5% e 2,1% dos genomas dos humanos atuais podem ser atribuídos aos neandertais, revelou o estudo. A exceção são os africanos, que não têm contribuição dos neandertais.

"Não sabemos se a miscigenação aconteceu uma vez, onde um grupo de Neandertais se misturou com os humanos modernos, se não voltou a acontecer ou se os grupos viveram lado a lado, e se houve miscigenação por um período prolongado", afirmou Montgomery Slatkin, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Os denisovanos também deixaram sua marca no Homem moderno. Estudos anteriores revelaram que cerca de 6% dos genomas dos aborígines australianos, dos neoguineanos e alguns povos insulares do Pacífico vieram deste grupo.

A nova análise revelou que os genomas da etnia Han, majoritária na China, e de outras populações asiáticas, assim como dos nativos americanos, contêm cerca de 0,2% de genes dos denisovanos.

Os Neandertais, por sua vez, contribuíram com pelo menos 0,5% de seu DNA com os denisovanos. Segundo o novo estudo, os dois grupos têm um passado genético intrigante.

Cerca de 5% do genoma dos denisovanos vêm de algum antepassado mais antigo. Uma hipótese é que este antepassado é o "Homo erectus", segundo Kay Pruefer, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, Alemanha, que chefiou a comparação.

Tudo em família- Empregando um termo atual para este comportamento, o incesto parece ter sido desenfreado entre os Neandertais, que assim como os denisovanos, viviam em pequenos grupos e tinham uma piscina genética para equiparar.

Os cientistas fizeram simulações de alguns cenários de miscigenação com base no osso da Neandertal encontrado. Eles descobriram que os familiares da fêmea ou eram meio-irmãos filhos da mesma mãe, ou primos duplos em primeiro grau, ou um tio e uma sobrinha, ou uma tia e seu sobrinho, ou um avô e uma neta, ou uma avó e um neto.

Geneticamente, o que torna o "Homo sapiens" tão diferente destas ramificações extintas da nossa árvore genealógica? Por que sobrevivemos e por que eles desapareceram? A resposta pode estar em pelo menos 87 genes do nosso genoma que parecem "significativamente diferentes" daqueles encontrados nos Neandertais e Denisovanos, destacou o estudo, embora seja necessário fazer novas pesquisas para definir de que forma.

"Não há gene que possamos apontar e dizer, 'este responde pela linguagem ou alguma outra característica única dos humanos modernos'", disse Slatkin. "Mas a partir desta lista de genes, aprenderemos algo sobre as mudanças que aconteceram na linhagem humana, embora estas mudanças provavelmente serão muito sutis", prosseguiu.

A principal fonte de material para a comparação veio de ossos encontrados em uma caverna nas montanhas Altai, no sul da Sibéria. Em 2008, foi encontrado ali o osso de um dedo mindinho de uma mulher denisovana em uma camada de solo datado de 40.000 anos.

O osso do dedo do pé da Neandertal foi encontrado na mesma caverna em 2010, mas em uma camada mais profunda de sedimento, datada de cerca de 50.000 a 60.000 anos atrás. A caverna também contém artefatos feitos pelos humanos modernos, o que significa que pelo menos três grupos de humanos primitivos ocuparam o local em diferentes épocas.

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