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O escritor franco-tcheco Milan Kundera recuperou a nacionalidade tcheca que havia perdido ao abandonar a Tchecoslováquia comunista para morar na França nos anos 70, informa a imprensa de Praga.

Milan Kundera e sua esposa Vera receberam seus documentos na embaixada da República Tcheca em Paris em 28 de novembro, informou o jornal tcheco Pravo.

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"Estavam realmente felizes. São conscientes de que não é um momento que mudará sua vida, mas sentiram verdadeiramente o simbolismo, que é tão importante para eles", declarou o embaixador Petr Drulak ao jornal.

Kundera, 90 anos, abandonou seu país natal para morar na França em 1975 e perdeu a nacionalidade tchecoslovaca em 1981 ao virar cidadão francês.

A Tchecoslováquia se dividiu em 1993 entre República Tcheca e Eslováquia, quatro anos depois da queda do regime comunista.

O escritor viaja muito pouco à República Tcheca. Em 2008 uma revista do país publicou um "documento" da polícia comunista de Praga de 1950 que sugeria que ele havia denunciado um de seus compatriotas durante o sombrio período stalinista e Kundera, magoado com com as acusações, as chamou de "mentira pura".

O escritor é autor de livros como "A Brincadeira" (1967), "O Livro do Riso e do Esquecimento" (1979), "A Insustentável Leveza do Ser" (1984) e "A Festa da Insignificância" (2013).

"Nasci no dia 1º de abril. Não foi algo sem impacto no plano metafísico", recordou, com a ironia que o caracteriza, durante uma de suas raras entrevistas, o escritor Milan Kundera, que comemora na segunda-feira seu 90º aniversário.

Nascido tcheco, e francês desde 1981, o autor de "A Insustentável Leveza do Ser" (1984), pintor sarcástico da condição humana, não pertence à Academia Francesa, não recebeu o Nobel da Literatura - horarias amplamente merecidas -, mas é um dos maiores autores contemporâneos.

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O escritor que foge da mídia, mas que pode ser visto passeando com sua esposa Vera perto da rua Cherche-Midi, no 6º distrito de Paris, não deve comemorar seu aniversário.

Em seu último romance, "A Festa da Insignificância" (2014), um de seus personagens confessa desconfiar dos números que nos remetem à "vergonha do envelhecimento".

Milan Kundera gosta que falem sobre seu trabalho antes de falar sobre ele. Sua última aparição na televisão remonta a 1984, e sua última entrevista com um jornalista foi em 1986.

Quase invisível, o autor de "A Imortalidade" e "A Vida Está em Outro Lugar" é regularmente vítima de boatos macabros nas redes sociais onde, por diversas vezes, sua morte foi anunciada.

- Não levar o mundo a sério -

Nascido em Brno, na atual República Tcheca, em 1º de abril de 1929, destinado (como seus pais) a uma carreira como músico, Milan Kundera foi, a princípio, um amante da música. Seus primeiros textos, poemas escritos em tcheco, foram compostos como sonatas.

Próximo do regime comunista, Kundera se afastou com rapidez sem, porém, se tornar um dissidente.

Em 2008, uma revista checa exumou um "documento" da polícia comunista de Praga de 1950, sugerindo que o escritor denunciou um de seus concidadãos durante o sombrio período stalinista. Ferido por essas acusações, Milan Kundera não revida.

"Dificilmente perdoamos um homem grande e ilustre. Mas ainda menos, se é silencioso", escreveu em um artigo publicado pelo Le Monde a dramaturga Yasmina Reza. Escritores como Gabriel Garcia Marquez e Philip Roth saíram em sua defesa.

Quando ainda era tcheco, Milan Kundera publicou dois romances, "A Brincadeira" (1965) e "Risíveis Amores" (1968), textos que fazem um balanço amargo das ilusões políticas da geração do golpe de Praga, que em 1948 permitiu que os comunistas chegassem ao poder.

Kundera, que foi colocado na lista negra em seu país após a Primavera de Praga, exilou-se na França com Vera em 1975. Naturalizado francês em 1981, escolheu o francês como sua língua de escrita para marcar sua ruptura com seu país natal, que em 1978 retirou sua nacionalidade (Praga propôs devolvê-la no ano passado).

Na França, publicou "A Valsa dos Adeuses", "O Livro do Riso e do Esquecimento" e, em 1984, aquele que alguns consideram sua obra-prima, "A Insustentável Leveza do Ser", um maravilhoso romance de amor e uma ode à liberdade, ao mesmo tempo grave e casual, cujo tema nada mais é do que a condição humana.

O livro foi adaptado ao cinema em 1988 pelo americano Philip Kaufman, com Juliette Binoche e Daniel Day Lewis.

Analista de seu próprio trabalho, ele assinou notavelmente em 1986 o ensaio "A Arte do Romance", onde explica que "ao entrar no corpo do romance, a meditação muda a essência. Fora do romance, nos encontramos no campo das afirmações, todo mundo tem certeza de sua palavra: um político, um filósofo, um porteiro... No território do romance, não nos afirmamos: é o território do jogo e das hipóteses".

Em "A Festa da Insignificância", o romancista, através da voz de um de seus personagens, continua sua reflexão sobre o padrão de seu trabalho: "Há muito tempo compreendemos que não é possível reverter este mundo, nem para reformular, nem para deter a sua infeliz corrida para a frente. Há apenas uma resistência possível: não levar a sério".

A Caixa Cultural Recife inaugura nesta quinta (12) a exposição Insustentável Leveza, que reúne sete trabalhos apresentados na forma de uma videoinstalação da artista plástica Giovana Dantas. A abertura da exposição conta com palestra da artista, às 18h, seguida por uma visita guiada, às 19h30. A visitação de Insustentável Leveza começa na sexta (13) e segue até 9 de fevereiro, com entrada franca de terça a domingo, das 10h às 19h.

A mostra dialoga com o texto Insustentável Leveza do Ser, do escritor tcheco Milan Kundera, tomando a relação peso-leveza como princípio para sete trabalhos. A exposição nasceu da visão de um velho cata-vento de madeira,  ainda em uso no Nordeste. A força do vento que faz girar o peso das pás para trazer a água que alivia a seca da região provocou na artista plástica a vontade de trabalhar a dicotomia do peso e da leveza.

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Em 2010, Giovana levou a ideia à Residência Artística no Instituto Sacatar (Ilha de Itaparica – BA) e realizou como representação da leveza a imagem de uma mulher vestida de noiva flutuando na superfície da água do mar de Itaparica. A partir daí, desenvolveu mais seis vídeos que formam a mostra Insustentável Leveza.

Um dos destaques da mostra são os movimentos produzidos pelo vento e pela água em sete situações: no cata-vento, numa casinha de pescadores, na água do mar em turbulência, no pano que cobre um edifício em construção, na animação de uma obra de Vincent Van Gogh e na noiva que flutua. As imagens em vídeo tem por objetivo a interação com o público e são como metáforas de dois aspectos opostos da vida cotidiana: peso e leveza. 

Serviço

Insustentável Leveza 

Sexta (13) a 9 de fevereiro

Terça a domingo | 10h às 19h

Caixa Cultural Recife (Praça do Marco Zero)

Gratuito

(81) 3425 1915

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