A ex-senadora Marina Silva (Rede) afirmou, nesta quarta-feira (28), que a crise política nacional não será resolvida por alguém que queira trabalhar sozinho, mas é necessário, segundo ela, um grupo que pense em um programa de governo para o país. De passagem pelo Recife para palestrar sobre ‘ética, política e cidadania’ ao Grupo de Líderes Empresariais (LIDE) de Pernambuco, a ambientalista condenou a falta de credibilidade do Governo Federal e pontuou que agora não é o momento para recuperar a popularidade da gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), mas de lutar para reverter a conjuntura.
“Não é o ajuste fiscal que precisa ser feito, mas o ajuste Brasil. Ninguém tem a resposta para a crise política sozinho. Quem disser ‘me ponha lá que eu resolvo o problema’, eu desconfio que seja verdade”, cravou. De acordo com Marina, além das crises econômica e política, o país vive atualmente outras três: a de valores, a ambiental e a social. “A crise política e a de valores estão na base de todas as outras. É a crise de valores que faz com que se separe a ética da política, a economia do meio ambiente”, acrescentou.
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Para Marina, a atual conjuntura do país é consequência de uma manobra da presidente para vencer a eleição. “Não se sacrifica o rumo de uma nação por causa de uma eleição. Um estadista jamais faria uma coisa dessa. Quando a gente faz isso, a gente também se desresponsabiliza. Há uma insustentabilidade na política”, observou. “Tem gente que gosta de infantilizar a sociedade, colocando-se como o pai dos pobres, a mãe dos pobres, a avó dos pobres (...) É uma grande ilusão imaginar que todo mundo estava fazendo o dever de casa em 2008 e só no Brasil era uma marolinha”, completou, fazendo menção a forma como o ex-presidente Lula (PT) encarou o início da recessão econômica.
Apesar das criticas duras à postura dos petistas, a ambientalista frisou que o momento não é para “instrumentalizar as crises” para o favorecimento próprio e condenou as campanhas pelo impeachment de Dilma sem argumentos constitucionais. “Esses não é o momento de instrumentalizar a crise. Eu olho para ela e vejo o que é mais vantajoso para mim. Se o que me dará mais popularidade vai ser dizer ‘impeachment já’, eu digo”, disparou.
Sob a ótica de Marina, “não se fabrica um impeachment”. “Não posso ficar maquinando para fabricar um impeachment. Isso não é uma fabriqueta. Quem vai investir em um país que coloca e fica pregando a faca do pescoço do seu presidente?”, indagou. A ex-senadora enfatizou também que “não há como seguir política fora da lei”, achando que o “meu interesse vai se sobrepor ao interesse do outro”. E disse que é necessário “aplaudir” o papel do Ministério Público e a Política Federal, que têm feito investigações nas instituições brasileiras a fundo.
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Institucionalização das conquistas
Diante do empresariado pernambucano, a líder nacional da Rede Sustentabilidade destacou ainda a importância de se institucionalizar as conquistas, ao contrário do que acontece no Brasil, onde o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) é o “dono” do Plano Real e Lula, do Bolsa Família.
“Quem não institucionaliza conquistas repete os mesmos erros e problemas o tempo todo. Temos a mania de fulanizar as conquistas. Isso não é sustentável nem duradouro”, argumentou. “O Plano Real é grande demais para ser do Fernando Henrique Cardoso e do PSDB. A política foi ficando atrasada e boa parte do que sofremos hoje é em função do atraso da política”, completou.
Segundo Marina, o desejo de ampliar legado de três grandes conquistas do país - a democracia, o desenvolvimento econômico e a inclusão social - foi o que a moveu a se alinhar ao ex-governador Eduardo Campos (PSB) para as eleições de 2014.
“Nós temos que nos unir, pensava eu, para fazer um realinhamento político. Nós elegemos uma pessoa que não apresentou um programa de governo. Uso a palavra nós, porque somos nós a sociedade brasileira. Pagamos um preço altíssimo [Marina e Eduardo Campos]. Dizem que sábios são os que aprendem com os erros dos outros, agora são estúpidos os que não aprendem com os próprios erros”, avaliou, ao lado do prefeito do Recife e afilhado político de Campos, Geraldo Julio (PSB).
Rumos da Rede Sustentabilidade
Entusiasta do partido recém-criado, antes da palestra Marina Silva pontuou em conversa com a imprensa que a legenda não vai fazer pactos para conquistar apoios e deu claros indícios de que a pretensão é da agremiação é de se colocar como uma terceira via para os eleitores. "A Rede não entra nesse debate esquerda x direita, situação x oposição. Nos reconhecemos como sustentabilistas progressistas", pontuou.
Já sobre o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a ex-senador deixou claro que a posição da rede foi explicita junto ao Conselho de Ética da Casa.“O que nós estamos dizendo é que não vamos participar de nenhum pacto de impunidade nem para proteger membros do Congresso ou do Executivo, quem quer que seja”, concluiu.