O som do mar deveria ser brisa, nunca tempestade. Viria como um lamento dos cantos mais frios da alma e, mesmo quando se alegrasse, jamais abriria um sorriso de mostrar dentes. Uma mulher cantaria tudo usando a língua portuguesa e, junto aos homens que a acompanhavam, seguiria algumas espécies de mandamentos: 1) Tocar em espaços públicos como praças, ruas, castelos e igrejas de Lisboa; 2) Não cair em tentações do mundo pop, como frequentar programas de TV de variedades pelo simples prazer da fama. A música estaria à frente de tudo; 3) Investir em muitas canções próprias para criar repertório; 4) Viajar muito, incansavelmente, fazendo concertos pelo mundo todo até que todos entendessem que eles eram grandes.
O projeto Madredeus deu certo, mas pagou o preço. Em 27 anos de estrada, visitou mais de 42 países e lançou 14 discos. Dos músicos que estavam na criação, no entanto, sobrou apenas o violonista Pedro Ayres Magalhães. Quem se atrevia a ter projeto paralelo colidia com a energia inesgotável de um trabalho que jamais saía da estrada. A maior baixa veio em 2007, quando a cantora Teresa Salgueiro, voz e espírito do grupo, anunciou sua saída para se jogar em outras aventuras. Pedro Ayres pensou em pendurar as violas, mas logo decidiu criar a Banda Cósmica, mudando a formação consagrada do Madredeus. Ao sentir o chamado para voltar às origens, abriu temporada de caça a uma nova voz feminina e a achou. Agora, com nova cantora e a ajuda de um festival brasileiro, ele se sente como nos dias em que tudo começou.
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O Madredeus estará no Brasil em agosto para se apresentar no Mimo, o festival anual que acontece em Paraty (RJ), Ouro Preto (MG) e Olinda (PE) entre 23 de agosto e 8 de setembro. Ao saber da proposta do projeto de usar igrejas e espaços públicos para abrigar shows, Pedro Ayres se empolga. "Era justamente este o propósito do grupo quando o criamos. Não sei se vamos tocar na igreja do Aleijadinho, mas seria um prazer." Vai sim. O primeiro concerto do grupo será ao ar livre, no palco da Praça da Matriz, em Paraty, dia 25 de agosto. E o segundo, dia 30, na igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto, o templo de 1766 desenhado pelo artista barroco, considerado uma de suas grandes obras.
A ausência de Teresa começou a ser preenchida em 2011 com a descoberta da bela e jovem Beatriz Nunes. "Fizemos audições e a achamos entre várias cantoras. Ela já estava pronta. Passamos as partituras e pronto", diz Pedro Ayres. Então com 22 anos, mais nova do que a existência do próprio grupo, Beatriz foi admitida em setembro e entrou em estúdio para gravar o disco Essência, que celebraria os 25 anos do Madredeus em novembro. "Eu ainda era uma criança quando meus pais iam ver Madredeus aqui em Lisboa, em um bairro também chamado Madredeus", diz ela ao Estado, por telefone.
MIMO - Paraty - 23 a 25/8; Ouro Preto - 29/8 a 1º/9; 2 a 8/9 - Olinda
Programação completa: www.mimo.art.br/festival
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.