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Descrente na retomada do crescimento econômico brasileiro neste e no próximo ano, o ex-presidente do BC e economista da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, vê 2014 como um ano em que a economia permanecerá morna, o PIB crescerá pouco e a inflação continuará persistente. Para tudo isso, o governo não tem "bala de prata". Loyola acredita que seria necessário, neste momento, a continuidade da alta dos juros para recuperar a credibilidade da política econômica e conter a elevação dos preços. "A inflação é um vilão maior que a atividade econômica, porque tem efeito muito negativo sobre as expectativas também dos consumidores", afirma em entrevista exclusiva ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.

O efeito negativo que a alta dos juros tem sobre o crescimento econômico é reconhecido pelo economista, mas Loyola critica o que chama de duplo mandato do BC - com um olhar para inflação e outro para o crescimento econômico. Os entraves na atividade, na sua opinião, são mais complexos e envolvem a falta de investimentos. "Existem problemas estruturais, falta de confiança nas regras do jogo, custos altos e problemas regulatórios." Sua previsão para o investimento em relação ao PIB neste ano é de 17,8%, mas acredita que o Brasil deveria buscar pelo menos 20%. Para retomar os investimentos, Loyola defende ajustes em 2015 que resultem em melhora no superávit primário, com reforma da Previdência, melhorias regulatórias e maior controle da inflação. As medidas poderiam evitar um rebaixamento da nota do Brasil pelas agências de risco, o que, segundo ele, não está descartado.

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Segundo Loyola, há várias causas para a inflação: "a primeira é a questão das expectativas, o Banco Central perdeu a credibilidade no regime de metas. Não há confiança de que conseguirá fazer a inflação convergir para 4,5% (centro da meta). Isso tem agravado a dinâmica inflacionária. Há também fatores sazonais, como a safra agrícola, e serviços com inflação muito alta, acima de 7%. Nesse caso, a pressão tem a ver com o mercado de trabalho. Houve aumento grande dos salários reais, com praticamente nenhum aumento da produtividade. Chegamos a uma situação em que a política monetária precisa recobrar a credibilidade e colocar a demanda alinhada com a oferta".

Para mudar esse cenário, Loyola diz que "é necessário aumentar o superávit primário. Fazer um esforço na área fiscal. Aí a alta de juros não precisaria ser tão forte. E o Banco Central precisa procurar ter uma política monetária com uma determinada meta. A percepção hoje é de que o Banco Central se dá por satisfeito com a inflação no patamar que está. O que ele sinaliza é que não vai mexer com juros, a não ser que haja uma tendência da inflação de caminhar acima dos 6,5%. Eu acredito que deveria ter continuado a alta de juros porque é fundamental buscar a recuperação da credibilidade da política econômica. A inflação é um vilão maior que a atividade econômica, porque tem efeito muito negativo sobre as expectativas também dos consumidores. Ela gera intranquilidade".

Loyola conta ainda que sua previsão investimento em relação ao PIB neste ano é de 17,8%. "Esse número é baixo mesmo para os padrões brasileiros, logicamente temos que buscar um número acima de 20%". Para 2015, diz que será o ano de pagar a conta. "Uma série de desequilíbrios que precisarão ser corrigidos. Por exemplo, o desequilíbrio na área fiscal. O superávit primário será atingido se for a duras penas. Teremos um superávit na faixa de 1,5%, menor que a meta do governo e em grande parte conseguido com dividendos pagos pelas empresas públicas e receitas extraordinárias. Há uma tendência muito forte de crescimento das despesas. Precisa-se recuperar a credibilidade na área fiscal, evitar que o Brasil perca o grau de investimento, então será um ano de ajuste.

O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria Integrada, fez críticas nesta manhã (12) à gestão atual da economia durante evento realizado pelo Instituto FHC e avaliou os mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um governo que "plantou pouco".

"Em 2002 havia a percepção de que um novo governo, do PT, poderia arrancar todas aquelas árvores que haviam sido plantadas. O governo Lula foi inteligente: não derrubou as arvores, foi muito bom para colher os frutos", disse Loyola, em referência às conquistas econômicas da época da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Agora, será que ele plantou alguma coisa? Muito pouco", completou. "De 2008 para cá começamos a cortar as raízes das árvores, criar situação em que essas árvores em algum momento acabarão morrendo por falta de cuidados."

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Loyola afirmou que houve retrocessos nos últimos anos e que é preciso "retomar o fio da meada". "A expansão fiscal dos bancos centrais serviu de pretexto no Brasil para demolir políticas que caracterizavam estabilidade monetária", disse o ex-presidente do Banco Central, mencionando a tentativa também de "obter a qualquer custo redução dos juros". De acordo com ele, desde 2008 o Brasil começou a flertar e adotar políticas "muito heterodoxas".

Ele criticou a chamada "nova matriz econômica". "Perdemos transparência fiscal, reduzimos artificialmente taxas de juros, relativizamos o conceito de meta para inflação, houve intervencionismo exagerado no mercado de cambio, uso abusivo dos bancos públicos".

Como resultado de "erros" na gestão econômica, de acordo com Loyola, o País vive inflação elevada e perda de credibilidade. "As instituições monetárias e fiscais estão mancas, mas há tempo para serem reparadas", completou.

O ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria Tendências Gustavo Loyola afirmou à Agência Estado que os comentários do ministro da Fazenda, Guido Mantega, feitos em Londres, de que há mais espaço para a queda da Selic "é uma regressão", ante a instituição do Comitê de Política Monetária (Copom), que é independente para decidir os caminhos da política monetária.

"Esses comentários levam as pessoas a duvidar da autonomia do Banco Central", apontou. "As afirmações podem constranger o Copom. Embora ele não faça parte dele, é o ministro da Fazenda e uma das principais autoridades econômicas do País", disse.

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De acordo com Loyola, o cenário para a inflação não é confortável para quem busca levar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para a meta de 4,5%. A Tendências estima que o indicador subirá 5,4% este ano, marca que será repetida em 2013. "Se a meta fosse de 4,5% a 6%, talvez a situação seria mais favorável", destacou.

A consultoria estima que o ciclo de redução da Selic, iniciado em 31 de agosto de 2011, foi encerrado na última reunião do Copom, e deverá ficar em 7,5% até o final do próximo ano.

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