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Foi em 1º de julho de 1969. A ditadura militar, instaurada cinco anos antes, avançava cerceando direitos e liberdades da população. Apoiadores do governo ganhavam espaço em diversas instituições, participando inclusive de forma ativa da política em alguns dos grandes clubes esportivos do país, nos quais o corpo diretivo era formado por apoiadores do regime. Em um dos clubes mais populares do Brasil, o Corinthians, a história não era diferente. Porém, a reunião de alguns amigos que eram fieis torcedores iniciou uma afronta à gestão de Wadih Helu, que já durava mais de dez anos, dando início àquela que é hoje a maior torcida organizada do Brasil: o Grêmio Gaviões da Fiel Torcida.

A união de Flávio La Selva, Alcides Jorge de Souza Piva (Joca), Roberto Daga, Chico Malfitani e Luiz Mezher (Magrão), entre outros, contou com o apoio de muitos corinthianos que se juntavam nas arquibancadas para incentivar o clube do Parque São Jorge em um dos momentos mais difíceis de sua história esportiva e política. O lema ‘Lealdade, Humildade e Procedimento’ deu rumo à ideologia do grupo para reger a caminhada dos Gaviões, que tem orgulho de ser independe dos dirigentes do Corinthians e que não aceita ser vinculada política nem financeiramente ao clube.

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Hoje presidente da entidade, que registra cerca de 115 mil sócios, o assistente social Rodrigo Gonzalez Tapia, o ‘Digão’, conta que, ao associar-se à instituição no ano de 1997, seu objetivo não era chegar ao cargo mas sim acompanhar o Corinthians em qualquer lugar ou ocasião. “Comecei a ir aos jogos no final de 1994, passei a viajar o Brasil inteiro, o objetivo era estar sempre perto do Corinthians, estar perto da entidade Gaviões”, declara. Mesmo não sendo a meta, Digão relata que começou a ganhar visibilidade e a confiança da diretoria da torcida após assumir a liderança de um grupo de mais de 100 torcedores que saíam da Vila Moraes, zona sul de São Paulo, para acompanhar o Timão. “Depois virei conselheiro nos Gaviões e comecei a participar mais, fui convidado para fazer parte de uma diretoria, virei vice-presidente e aconteceu no natural chegar à presidência”, explica.

Rodrigo Gonzalez Tapia, o ‘Digão’, (de braço tatuado) rege a bateria dos Gaviões durante jogo do Corinthians em Itaquera - Foto: Gabi Baptista

Paixão de torcedor

Associado desde 2016 e frequentador assíduo da sede da torcida no bairro do Bom Retiro, região central de São Paulo, o historiador Andre Nicioli, de 38 anos, tenta resumir em palavras um sentimento que muitos consideram indescritível. “Ser Gaviões é ser reconhecido pela lealdade de estar ali até o final, sem duvidar que dará tudo certo, ter humildade, o orgulho sem ser arrogante e manter a conduta reta, respeitando os iguais e ter o Corinthians no coração, na alma”, ressalta. “Paixão é um sentimento impossível de mensurar mas a partir do momento que você é Gaviões, você tem que assumir que é um privilegiado e que agora é um pouco mais corinthiano”, garante emocionado o historiador.

O historiador Andre Nicioli em companhia da esposa Natália Trindade e da filha Aisha na sede dos Gaviões - Foto: Arquivo Pessoal

Samba

Mas não é só nas arquibancadas do mundo que os Gaviões marcam presença. Oriunda de uma ala que desfilava na Vai-Vai, uma das escolas de samba mais tradicionais de São Paulo, a Gaviões virou bloco carnavalesco em 1975 e se transformou em escola de samba em 1989. São quatro os títulos da torcida no carnaval paulistano (1995, 1999, 2002 e 2003). Para abrilhantar o desfile que comemora o aniversário de meio século da torcida, a dupla de carnavalescos Paulo Barros (tri-campeão do carnaval do Rio de Janeiro) e Paulo Menezes (campeão junto com Barros na Portela) assinou contrato com a instituição e, apesar de não dar muitos detalhes, o presidente Digão conta que a Gaviões aposta alto no desfile. “Vai ser um carnaval diferente de todos, acho que desde a época da fundação do bloco até os momentos atuais, o Gaviões nunca fez um carnaval como o que vai ser feito agora em 2020, só não tenho como dar muitos detalhes porque é segredo”, diz.

Digão, que fica no cargo de presidente até 2021, revela que um dos seus sonhos é reformar a sede da torcida, na qual os Gaviões se reúnem antes dos jogos, em eventos promovidos pela torcida e durante os ensaios para o carnaval. Fazendo um balanço sobre sua atuação à frente da torcida, Digão se emociona.  “Me sinto realizado de ver um Gaviões popular, um ambiente família, onde todos os sócios têm como participar diretamente com a diretoria, diretamente com o presidente”, considera.

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