O presidente centrista Emmanuel Macron e sua rival de extrema-direita Marine Le Pen retomam nesta quinta-feira (21) a campanha para mobilizar os eleitores e convencer os indecisos a apenas três dias do segundo turno da eleição, após um tenso debate na quarta-feira à noite.
A eleição, que definirá o rumo da França até 2027, entra na reta final com dois candidatos com visões diferentes sobre o local da França no mundo, a transição ecológica, a migração ou o islã.
"Esta eleição também é um referendo a favor ou contra a União Europeia, de uma ambição ecológica, do laicismo, da fraternidade", advertiu Macron na quarta-feira ao final do debate de quase três horas.
"Há cinco anos, eu vejo o povo da França sofrer (...) preocupado com o futuro e duvidar. Outra escolha é possível", declarou Le Pen, que se anuncia como a presidente da "liberdade, do poder aquisitivo e da fraternidade nacional".
Quase 15,6 milhões de telespectadores assistiram na quarta-feira o único debate da campanha, que repete os aspirantes do segundo turno de 2017, um milhão a menos que há cinco anos, de acordo com a Mediamétrie.
A imprensa considera que o atual presidente dominou o debate, mas que a adversária "resistiu ao golpe", ao contrário do que aconteceu há cinco anos quando Le Pen recebeu críticas por sua "agressividade" e "falta de preparo".
Para Cécile Alduy, especialista no discurso da extrema-direita, o debate teve "um presidente na ofensiva e uma candidata na defensiva". "É o contrário de uma situação normal com um presidente no cargo", acrescentou na rádio France Inter.
- "Guerra civil" -
Macron tem vantagem de 12 pontos sobre Le Pen, de acordo com a média de pesquisas Ipsos/Sopra Steria, mas, assim como a rival, tenta atrair e mobilizar os eleitores do esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que recebeu quase 22% dos votos no primeiro turno.
Os dois tentaram falar a esse eleitorado na quarta-feira. O candidato do partido A República Em Marcha (LREM), de 44 anos, afirmou que a proposta da rival de proibir o véu islâmico em locais públicos provocaria uma "guerra civil" na França.
Le Pen chamou de "injustiça absolutamente insuportável" a principal proposta do atual presidente, a de aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 65 anos, apesar de Macron ter citado a possibilidade de mudar para 64 anos em uma tentativa de atrair eleitores de esquerda.
A candidata do Reagrupamento Nacional Nacional (RN), de 53 anos, pretende visitar seu reduto no norte da França e encerrar a campanha com um comício em Arras, enquanto Macron viajará ao reduto de Mélenchon.
A viagem de Le Pen não é trivial. Na segunda região mais pobre dos territórios da França na Europa, ela retomará seu principal tema de campanha, o poder aquisitivo, que, segundo pesquisas, continua sendo a principal preocupação dos eleitores.
Macron visitará Saint-Denis, ao norte de Paris, e pretende abordar a questão da moradia em uma área também pobre, antes de conceder uma entrevista ao canal France 2. Sua campanha terminará na sexta-feira em Figeac, no centro rural da França.
"Reflexo republicano"
Além de denunciar o programa ou o balanço do adversário, os dois candidatos tentam apresentar uma imagem desfavorável do rival: Macron, como um "presidente dos ricos" e "arrogante"; e Le Pen como um "perigo" extremista se chegar ao poder.
Após o primeiro turno, a maioria dos candidatos derrotados, com exceções como o extremista Éric Zemmour, pediram voto no centrista ou contra sua rival, ressuscitando assim uma espécie de "frente republicana", como aconteceu em 2002.
Nesta quinta-feira completa 20 anos da eleição em que o pai de Marine Le Pen, Jean-Marie Le Pen, conseguiu, contra todas as probabilidades, chegar ao segundo turno. Mas ele foi derrotado pelo conservador Jacques Chirac com mais de 80% dos votos duas semanas depois.
Chirac se beneficiou de um cordão sanitário contra Le Pen. "A ideia da Frente Republicana", em sua forma atual, "vem deste momento", explica à AFP o historiador Jean Garrigues, para quem agora retorna um "reflexo republicano" entre os eleitores.
"O perigo de uma eleição de Marine Le Pen é muito mais forte que em 2017, quando ela recebeu 33,9% dos votos", destacou Garrigues, para quem a ideia de cordão sanitário para isolar a extrema-direita vai além dos partidos.
Atores, atletas, intelectuais, meios de comunicação, sindicatos... muitos fazem campanha para impedir a chegada de Le Pen ao poder, mas o próprio Macron considerou que a "frente republicana não existe mais".
Macron recebeu nesta quinta-feira o apoio dos primeiros-ministros socialistas de Portugal, Espanha e Alemanha, que publicaram um artigo no jornal Le Monde e pediram implicitamente voto no "candidato democrata".
"A eleição que o francês enfrenta é crítica, para a França e para cada um de nós na Europa", destacam o alemão Olaf Scholz, o espanhol Pedro Sánchez e o português António Costa no texto.
Para eles, "é a escolha entre um candidato democrata, que acredita que a força da França aumenta em uma União Europeia poderosa e autônoma, e uma candidata de extrema-direita, que abertamente fica do lado daqueles que atacam nossa liberdade e nossa democracia.
Os três líderes expressam ainda preocupação com a ofensiva da Rússia de Vladimir Putin na Ucrânia, que "tenta reescrever a história".
"No entanto, os populistas e a extrema-direita de todos os nossos países têm reivindicado Putin como modelo ideológico e político", completam, em um ataque velado a Le Pen, considerada próxima ao chefe de Estado russo.