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Incansável em seu combate contra o ultraliberalismo, o diretor britânico Ken Loach apresenta "Sorry We Missed You", nesta sexta-feira (17), em Cannes, e pode se transformar no primeiro cineasta da história a conquistar três Palmas de Ouro.

Três anos depois de ser coroado na Croisette com "Eu, Daniel Blake", Loach conta a história de Ricky e Abby, pais de dois filhos e que, apesar de trabalharem incansavelmente, não conseguem uma vida melhor.

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Cansado de rodar de emprego em emprego, Ricky decide comprar uma van para trabalhar como transportador por conta própria, embora ligado a uma agência. Um novo trabalho baseado em um "contrato zero horas" que terá repercussões desastrosas em sua família.

Em uma alusão direta à "uberização" da sociedade, ou à terceirização dos empregados, o cineasta britânico tenta mostrar a precariedade do mercado de trabalho atual, onde não é necessário que "um patrão use o chicote, porque o trabalhador explora a si mesmo".

E essa situação de insegurança no trabalho faz a extrema direita crescer, alerta o diretor.

"Se não resolvermos isso, a extrema direita continuará avançando, porque as pessoas ficarão cada vez mais infelizes, mais indignadas, sem esperança. Terão cada vez mais medo", declarou Loach na coletiva de imprensa do filme na quinta-feira.

"A extrema direita se expande pelo medo", enfatiza.

Ele também ataca as mudanças climáticas. "Tudo que se compra é entregue usando energias fósseis, e elas destroem o planeta", apontou.

- Cidadania de Cannes -

Com "Sorry We Missed You", Loach, de 82 anos, mostra um de seus trabalhos mais "poderosos, com cenas que tiram o fôlego", segundo o crítico David Rooney, do veículo especializado The Hollywood Reporter.

Para Lee Marshall, da revista Screen, "estamos diante de um dos melhores filmes britânicos" e, para Carlos Boyero, do El País, "é um filme verdadeiro e excitante".

Junto com seu roteirista habitual, Paul Laverty, Loach volta a situar sua história em Newcastle, no nordeste da Inglaterra, um "microcosmo com uma tradição de luta", segundo ele.

Grande assíduo da Croisette, onde participou mais de uma dúzia de vezes, Loach brincou que deveria receber a "cidadania de Cannes".

Com sua outra Palma de Ouro por "Ventos da liberdade" em 2006, ele faz parte do seleto grupo de cineastas que têm dois grandes prêmios, incluindo o austríaco Michael Haneke, o sérvio Emir Kusturica e os irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne.

Nesta 72ª edição do festival, um dos mais ambiciosos dos últimos anos, grandes pesos-pesados da Sétima Arte competem pela cobiçada Palma de Ouro.

Os Dardenne, também presença constante no concurso, estão de volta aos holofotes de Cannes com "O jovem Ahmed".

O cineasta espanhol Pedro Almodóvar, com "Dolor y gloria", aspira pela sexta vez a sua primeira estatueta.

Curiosamente, o diretor espanhol já perdeu duas vezes para o veterano britânico. Foi em 2006, quando Almodóvar apresentou o filme "Volver", e em 2016, com "Julieta".

"I, Daniel Blake', uma implacável narrativa sobre a injustiça social na Inglaterra, do diretor britânico Ken Loach, levou neste domingo (22) a Palma de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cannes. "Outro mundo é possível e necessário!", disse o diretor de 79 anos, ao receber a recompensa, a segunda Palma de Ouro de sua longa carreira dedicada ao cinema social.

Em seu discurso de agradecimento ao festival e a toda a sua equipe, Loach aproveitou a oportunidade para fazer uma crítica enérgica aos riscos do neoliberalismo. "O mundo em que vivemos está em uma situação perigosa, à beira de um projeto de austeridade que chamamos de neoliberal, que corre o risco de nos levar à catástrofe", disse. "Deve-se dizer que outro mundo é possível e, até mesmo, necessário", prosseguiu, falando em francês e em inglês, após ter alertado contra o retorno da extrema direita.

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O cineasta britânico Ken Loach, que completará 77 anos em junho, continua combativo e sonhando com um mundo melhor, como comprova seu trabalho mais recente, Espírito de 45. Em uma entrevista em um antigo cinema do Bairro Latino de Paris, Loach falou sobre o filme, um comovente documentário sobre os anos posteriores à Segunda Guerra Mundial, quando o governo trabalhista eleito após o conflito criou o "Estado do bem-estar".

Mas o cineasta também falou sobre a situação atual do cinema e da televisão, que não refletem, segundo ele, o caos na Grã-Bretanha e Europa, com um desemprego em alta e o avanço da extrema-direita. "A sociedade não funciona, é um caos", afirmou Loach, cujo filme tem um olhar nostálgico sobre as esperanças e sonhos de uma vida melhor geradas pela instauração de medidas como "seguro médico para todos".

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Fiel a sua visão do cinema como arma de luta política e social, Loach expressou a esperança de que Espírito de 45 possa "oferecer pistas para sair" da situação atual, que se assemelha, opinou, a dos terríveis anos anteriores à guerra, quando uma grande parte da população vivia afetada pelo desemprego e a a pobreza. "Com este filme quero recordar que garantias como um seguro médico para todos, casa decente e ajudas aos desempregados e aos idosos são possíveis, e que não são um ato de Deus", declarou Loach, para quem "o livre mercado e o capitalismo nunca podem prover uma vida digna e segura para a maioria da população".

As declarações, e sobretudo o espírito do diretor, lembram o por quê do nome de Loach ser, há muitos anos, sinônimo de um cinema comprometido com a realidade e com a luta para construir um mundo melhor. Uma das coisas que mais afetam o cineasta britânico é a falta de esperança dos jovens, não apenas na Grã-Bretanha.

"Nos tempos atuais, os jovens não acreditam que poderão ter um emprego, uma casa ou prover por uma família", lamenta o diretor, que em 2006 venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes por Ventos da Liberdade, sobre o conflito da independência da Irlanda.

A visão de Loach também é muito crítica a respeito da indústria do cinema e da televisão, com executivos e produtores "obcecados" com a audiência. O lema dominante parece ser fazer "cinema feliz para gente feliz", observa Loach, cujo cinema tem sempre um sabor de veracidade e naturalidade.

Apesar do mundo cada vez mais conservador que o cerca, Loach não perde o ânimo, nem a vontade de trabalhar. "Há tanto ainda por fazer", disse, antes de revelar que está trabalhando no próximo filme com o roteirista Paul Laverty, um advogado e cineasta escocês que colaborou com ele em nove produções.

Mas o cineasta confessa que às vezes pensa na aposentadoria. "Em alguns momentos me sinto como um velho cavalo de corrida, que não tem certeza se poderá completar a corrida", afirma o cineasta com mais filmes premiados em Cannes.

O recorde foi estabelecido ano passado, quando recebeu o Prêmio do Júri de Cannes com A Parte dos Anjos. Loach já havia sido premiado duas vezes com o Prêmio do Júri de Cannes, por Raining Stones, em 1993, e em 1990 por Agenda Secreta. Também recebeu o prêmio de melhor roteiro de 2002 por Sweet sixteen.

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