Seguir uma carreira artística no Brasil não é uma tarefa simples, pois muitas são as barreiras que impedem o crescimento do profissional neste mercado. Isso se aplica aos desenhistas, que, apesar de carregarem talento e técnica, sofrem por não ter sua profissão regulamentada.
Estimulado por HQs de super heróis, jogos de tabuleiros e videogames, o desenhista Ellyson Lifante, 33 anos, de Arujá (SP), usa a arte para expressar sua criatividade, mas destaca algumas dificuldades de mercado.
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“Sempre tem aquele ‘sobrinho do cliente’ que faz pela metade do preço, o que leva a muitos a cobrarem valores baixos por um serviço sem qualidade, que muitos aceitam justamente pelo baixo valor”, relata.
Ellyson Lifante. Foto: arquivo pessoal
As agências de publicidade e os estúdios especializados em ilustrações são as opções mais viáveis para quem quer trabalhar com desenho no Brasil. “O ramo de entretenimento, que é fazer desenhos para filmes e games, infelizmente só é valorizado fora do país”, afirma Lifante.
O artista admira todos os estilos de desenho, mas o seu estilo favorito são aqueles voltados para o realismo, muito utilizados em projetos de animações e jogos eletrônicos. Para aperfeiçoar sua técnica, Lifante busca referências em mestres da pintura como Rembrandt, além de consumir diversos conteúdos da cultura pop, como séries, filmes e jogos.
Para Lifante, o amor pelos desenhos é o principal combustível para aqueles que desejam seguir a carreira, mas também é necessário procurar por materiais de estudos e equipamentos que auxiliam o artista em seu trabalho, como canetas e mesas digitalizadoras.
O domínio da língua inglesa permite ao profissional conseguir trabalhos fora do Brasil com pagamento em dólar. “Aprenda todas as técnicas possíveis de desenho a mão, aquarela, pintura a óleo, caneta esferográfica, grafite e estilos como cartoon, realista, icônico, isso vai te dar uma bagagem para poder resolver qualquer tipo de trabalho que apareça”, ensina.
Outro que traz consigo a referência dos desenhos animados é o publicitário Cauê Miranda, 23 anos, de São Paulo, que tem como principal foco de sua carreira as ilustrações e a arte conceitual.
“O maior desafio dessa profissão é o fato de a área ainda ser muito elitizada, as informações ainda são muito restritas a uma parcela da sociedade”, afirma.
Cauê Miranda. Foto: arquivo pessoal
Miranda prefere o estilo realista no momento de produzir, mas também tem grande admiração pelo estilo cartoon na hora de consumo. Admira o trabalho dos ilustradores Mike Azevedo e Will Murai.
Um desenhista precisa definir qual segmento do mercado ele quer seguir e consumir os produtos daquele universo, ir a exposições e conversar com os artistas que produzem esse conteúdo.
“Procure aprender fundamentos de anatomia muscular humana, no pinterest ou qualquer lugar que tenha fotos de anatomia, fundamentos de luz e sombra e fundamentos que compõem uma imagem de modo geral”, orienta Miranda.
Um profissional de desenho também pode seguir o caminho das HQs, como fez o quadrinista Valu Vasconcelos, 46 anos, do Rio de Janeiro. Ele desenha desde a infância e tem como referência as obras da Marvel, DC e Image Comics, além do mangá Akira e as histórias de Asterix e Obelix.
“O desenho te dá a liberdade de estar e ser o que ou quem quiser. Não existe oxigênio ou gravidade, o único limite é a sua imaginação, se você pode imaginar, você pode construir”, filosofa.
Valu Vasconcelos. Foto: arquivo pessoal
Os desenhistas de quadrinhos independentes precisam realizar outras tarefas, não se dedicam somente à parte artística do trabalho. “É necessário desempenhar o papel de gerente de carreira, assessor de imprensa, editor e às vezes, até vendedor das próprias obras”, relata Vasconcelos.
“Não é um trabalho fácil mas, uma vez que o domina, pode se tornar um caminho para a liberdade criativa e financeira”, complementa.
As influências para o trabalho do quadrinista vão desde artistas como Katsuhiro Otomo e Milo Manara até as animações americanas, francesas e japonesas. Suas obras têm influência dos mangás japoneses, mas com toques brasileiros.
“Afinal nosso Brasil é isso, não é? Uma grande sopa de influência dos povos que vieram para cá e forjaram essa multicultura continental. Nós somos um resumo do mundo e nossas obras não poderiam ser diferentes”, destaca Vasconcelos.
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Desenhar de maneira profissional é um trabalho árduo e o corpo também precisa estar preparado. “A ligação cérebro e membros tem que ser exercitada constantemente, caso contrário o desenhista acaba travando. Não esqueça de se alongar e se aquecer, as longas horas desenhando podem cobrar um alto preço, portanto, cuide-se”, adverte o quadrinista.