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O Ministério Público do Rio (MPRJ) denunciou oito pessoas por homicídio triplamente qualificado, com agravantes, pelo incêndio no Hospital Badim, ocorrido em 2019 e que vitimou 17 pacientes que estavam internados no local. Entre os denunciados estão dois diretores e quatro funcionários do hospital, além de dois diretores da empresa Stemac, que forneceu os geradores onde teve início o incêndio.

A denúncia foi apresentada pela 2ª Promotoria de Investigação Penal Territorial da área Méier e Tijuca, na zona norte da cidade. O texto narra que o incêndio do dia 12 de setembro daquele ano iniciou por causa de uma anomalia do funcionamento do motor de partida do gerador, abastecido por um sistema de armazenamento de óleo diesel.

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Segundo o MPRJ, a instalação do equipamento, que continha tanques de combustível e geradores, não obedeceu às normas técnicas vigentes de segurança. Entre as irregularidades estaria "grande quantidade de combustível irregularmente acondicionado em cinco tanques de polietileno, quando as normas técnicas indicam a utilização de tanques de metal".

Além disso, narra a denúncia, os geradores operavam todos os dias nos horários de pico de demanda com o intuito de economizar energia, o que estava em desacordo com o projeto inicial.

Durante o incêndio, diz a denúncia, o produto inflamável criou uma fumaça tóxica que se espalhou rapidamente pelo subsolo, atingindo outros andares do hospital, principalmente o terceiro pavimento, onde se localizavam o Centro de Tratamento Intensivo e a sala de tomografia. As 17 mortes ocorreram em função da inalação de gases tóxicos pelas vítimas.

Por causa disso, além de homicídio, os denunciados irão responder pelas qualificadoras de motivo torpe, uma vez que adequações previstas em lei não foram realizadas com o objetivo de reduzir o custo operacional; foram cometidos mediante recurso que dificultou ou impossibilitou a defesa das vítimas, que estavam em situação de grande vulnerabilidade; e foram cometidos por meio cruel, na medida em que as vítimas foram mortas por asfixia, sepse com foco pulmonar, broncopneumonia e queimaduras de vias aéreas superiores.

O Estadão não obteve resposta do Hospital Badim e da empresa Stemac sobre a denúncia.

O incêndio que atingiu o Hospital Badim, nesta quinta-feira (12) no Maracanã, zona norte do Rio de Janeiro, deixou 11 mortos. As vítimas - quatro mulheres e sete homens - eram todas idosas. Só neste ano, houve mais de 20 casos de fogo em centros médicos.

Segundo o Instituto Médico-Legal, a maioria dos óbitos foi por asfixia. E os equipamentos aos quais muitas vítimas estavam ligadas deixaram de funcionar com o fogo. "Houve descompensações das doenças que as pessoas tinham", disse a diretora do IML, Gabriela Graça.

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Pacientes tiveram de ser removidos emergencialmente para a rua, assim que se constatou o incêndio. A suspeita teve início em um curto-circuito no gerador no subsolo de um dos prédios do complexo, por volta das 18h de quinta (12). Acompanhantes se queixaram do atendimento de funcionários e de agentes públicos, mas o diretor médico Fábio Santoro disse que não houve casos de truculência ou incidentes.

Dos 103 pacientes internados, 77 foram transferidos para outros 12 hospitais e 15 foram para casa. Além disso, pelo menos 20 funcionários do local - que é associado da Rede D'Or - e acompanhantes de pacientes acabaram internados.

Por causa do calor e da fumaça que ainda estavam no edifício, o delegado titular da 18ª Delegacia de Polícia, Roberto Ramos, evitou dar, nesta sexta-feira (13), um prazo para conclusão da investigação e da perícia. Testemunhas e funcionários já começaram a ser ouvidos. Pela prefeitura, o local está totalmente regularizado. A Defesa Civil interditou, por motivos de segurança, o complexo médico e quatro imóveis no entorno.

Segurança

 

A área de um hospital onde ficam os geradores deve ter estrutura que a isole das outras alas do edifício em caso de incêndio e resista ao fogo e à fumaça por duas horas. É o que estabelece regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo a norma, os prédios dos hospitais devem ser divididos em compartimentos, ou seja, setores preparados para tolerar o incêndio sem que ele se expanda. "São como caixas de sapato pelas quais o fogo, a fumaça e a temperatura não passam", explica Marcos Kahn, engenheiro especialista em segurança contra incêndio e diretor administrativo da Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar.

Desde o início do ano, houve ao menos 21 registros de incêndio em centros hospitalares de 13 Estados. São três casos no Rio: no Infantil Ismélia da Silveira, de Duque de Caxias; na Santa Casa da Misericórdia, de Campos dos Goytacazes; e no Sanatório Oswaldo Cruz, em Petrópolis. Entre os relatos do País, em pelo menos três casos se suspeita de problemas elétricos ou de curto-circuito - no Universitário Oswaldo Cruz, no Recife (PE), no Infantil de Vitória (ES) e no Regional de Taguatinga (DF).

Até o começo deste mês, o Estado do Rio seguia um Código de Segurança Contra Incêndio de 1976 que, ao longo dos anos, foi remendado com aditamentos pouco claros, segundo especialistas ouvidos pelo Estado. A "colcha de retalhos" foi substituída por um novo código cujo decreto, apesar de publicado em dezembro de 2018, passou a valer há apenas nove dias. "A nova legislação elevou as condições mínimas de proteção contra incêndio", observou Kahn. Mas a implementação da legislação ainda pode demorar anos.

No Brasil, não há uma legislação federal de incêndio e cada Estado tem autonomia para estabelecer a própria, explica o diretor do Instituto Sprinkler Brasil, Marcelo Lima. "Após o episódio da Boate Kiss (2013), muitos Estados começaram a atualizar os códigos, tendo como base a legislação de São Paulo."

Em abril, dois meses após o incêndio no Ninho do Urubu (centro de treinamento do Flamengo no Rio) e sete meses após o fogo destruir o Museu Nacional, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou a norma NBR 16.651, que estabelece requisitos de proteção contra incêndio. "Ela é pioneira no setor e tem como objetivo minimizar os riscos", explicou Roberto Ramos, coordenador dos estudos da norma.

Segundo Emerson Baranoski, mestre em engenharia civil e major da reserva do Corpo de Bombeiros do Paraná, a principal mudança do novo código fluminense para o de 1976 é a inclusão do conceito da proteção passiva de segurança contra o incêndio. "Se as edificações vierem a ter o incêndio, a ideia é que a propagação seja minimizada em função do maior controle do tipo de material de acabamento e revestimento da edificação", afirmou. "Outro aspecto abordado foi a compartimentação."

Para Kahn, mesmo assim os hospitais estão entre os imóveis mais negligenciados em relação à proteção contra incêndios. "A falsa crença de que 'não pega fogo' aliada à impunidade e à certeza de que os bombeiros não vão fechar um lugar que não esteja em risco iminente contribuem para essa negligência." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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