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Os setores ambulatoriais de hospitais filantrópicos como o Tricentenário, em Olinda, a Santa Casa de Misericórdia e o Hospital Infantil Maria Lucinda, no Recife, paralisaram suas atividades durante esta quinta-feira (25). Apesar de as áreas emergenciais estarem funcionando normalmente, a marcação de consultas e o internamento de pacientes para cirurgias estará suspenso até a sexta (26), data de início da remarcação de consultas. Ao todo, 14 unidades filantrópicas de saúde aderiram à greve no Estado. 

As consultas que estavam marcadas para hoje estão sendo reagendadas pelas instituições. Apesar da incompreensão de alguns pacientes, a causa tem sido apoiada pela maioria dos que precisam dos serviços das unidades. “Nós estamos explicando a razão do adiamento. Alguns pacientes realmente ficam insatisfeitos, mas entendem que é um movimento de alerta porque, a médio prazo, eles podem ficar sem o serviço permanentemente”, pontua Fernando Costa. superintendente executivo da Santa Casa de MisericóridiaA greve dos setores ocorre devido à baixa remuneração dos profissionais que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS). O pagamento dos funcionários é feito com base numa tabela que, há praticamente 10 anos, não sofre reajustes. 

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Segundo a Federação dos Hospitais Filantrópicos de Pernambuco, um estudo a nível nacional constatou que, a cada 100 reais gastos pelas unidades de saúde, somente R$ 60 são repassados pelo Governo. “Isso ocasionou um endividamento de boa parte das 2.100 entidades filantrópicas do país. Ao todo, o passivo bancário gira em torno dos R$ 15 milhões”, explica Fernando Costa. 

Nas instituições da RMR, os atendimentos emergenciais estão ocorrendo normalmente. “Os funcionários que atuam no setor ambulatorial estão trabalhando, mas foram realocados para outros setores. O serviço ficará fechado até amanhã”, segundo a Federação. 

O acúmulo de dívidas não é exclusividade da Santa Casa de São Paulo. Pelo menos 83% dos 2.100 hospitais filantrópicos brasileiros operam no vermelho, segundo estimativas da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB).

A dívida total das instituições já supera os R$ 17 bilhões, de acordo com José Luiz Spigolon, diretor-geral da CMB. Ele afirma que, mesmo com o aumento dos incentivos governamentais nos últimos anos, as unidades de saúde ainda não recebem o valor que gastam ao realizar procedimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

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"Em média, a tabela SUS só cobre 60% do gasto real do procedimento", diz ele. "É verdade que temos incentivos governamentais. O problema é que os incentivos não estão disponíveis para todos os tipos de hospitais e, além disso, quando o hospital faz mais procedimentos do que o previsto em contrato, ele dificilmente recebe por eles", explica o diretor.

De acordo com Spigolon, isso acontece porque os hospitais filantrópicos ganham por produção, mas têm um número limite de procedimentos pelos quais são remunerados. Se realizam mais procedimentos do que o previsto, podem ficar sem pagamento porque os valores ultrapassam o teto de verbas do gestor público. "Em 2012, os governos deixaram de pagar R$ 334 milhões em internações", diz.

Aos 471 anos e com dívida de R$ 130 milhões, a Santa Casa de Santos, a mais antiga do País, é uma das filantrópicas que passam por crise. "A Santa Casa não tem de dar lucro, mas deve ter equilíbrio nas contas, coisa praticamente impossível com a tabela SUS", diz a diretora financeira, Miriam Cajazeira Diniz, que, junto com o provedor Félix Alberto Ballerini, está disposta a mudar o perfil das finanças da instituição.

Dona de um patrimônio de R$ 534 milhões, a instituição já prepara a venda de imóveis e pretende reivindicar uma linha de crédito no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com prazo de pelo menos dez anos para pagamento. Para Spigolon, a solução para o endividamento dos filantrópicos passa por mudanças na gestão das entidades e aumento dos repasses. "Tem de acabar com o subfinanciamento. É preciso que o projeto de lei que prevê uso de 10% da receita bruta do País para a saúde seja aprovado. Com isso, o orçamento da saúde ficaria 30% maior", diz. No aspecto da gestão, ele diz que as entidades "devem entender" que nem sempre é possível que o atendimento seja totalmente público. "É preciso separar leitos para planos de saúde porque é o que vai ajudar a garantir as finanças." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os pacientes dos 14 hospitais filantrópicos de Pernambuco não puderam ser atendidos nesta segunda-feira (8) em virtude da paralisação de 24 horas. Mas, embora esteja sendo realizada a paralisação, as pessoas que necessitarem de atendimento emergencial não serão dispensadas.  

“Fizemos um comunicado aos pacientes, reagendando a consulta para hoje (8). Apesar disso, muita gente não recebeu o telefonema e cerca de 40% não foi avisada. Mas mesmo assim, não tivemos problemas com isso”, relata o diretor da Santa Casa de Misericórdia, Fernando Costa.

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O casal Gerlândia Guerra, empregada doméstica, e Josenildo Inácio, vieram de Prazeres, em Jaboatão, mas não foram atendidos. "Perdemos um dia de trabalho, viemos de longe, para quando chegar aqui, não receber atendimento. A gente se sente muito prejudicado com isso, depois de passar 1h30 no ônibus e voltar pra casa sem ter a consulta", afirmam. 

Mobilização - Segundo o presidente da Federação dos Hospitais Filantrópicos de Pernambuco (Fehospe), Paulo Magnus (foto), a principal meta é chamar atenção do Governo Federal. “Desde 2005, não é feito nenhum reajuste na tabela do Sistema Único de Saúde para procedimentos de média e baixa complexidade. Nós queremos mostrar à população a situação financeira que os hospitais enfrentam", relata.

Ainda de acordo com Magnus, a dívida nacional chega a R$ 12 bilhões. "A situação é muito crítica, por isso a mobilização em todo o Brasil", completa. No Recife, os hispitais que aderiram ao ato, além do Santa Casa de Misericórdia, foram o Altino Ventura e Hospital Maria Lucinda. Em Olinda, quem também paralisou foi o Tricentenário.

No interior do Estado, o Armindo de Moura, Associação de Proteção Materna à Infância (Apami) de Vitória e Surubium, Hospital Severino Távora, Ferreira Lima, Santa Maria, Jesus Pequenino e Hospital Ferreira Lima.

Um ato nacional contra o baixo valor repassado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) aos hospitais filantrópicos será realizado nesta segunda-feira (8). Em Pernambuco, 14 unidades vão paralisar as atividades. Os serviços eletivos prestados à população – consultas, exames, cirurgias – serão suspensos. Durante este período, apenas as urgências e emergências serão atendidas.

A ideia é chamar a atenção do Governo Federal para a necessidade do reajuste de 100% da tabela do SUS para procedimentos de média e baixa complexidades, além de mostrar para a população a delicada situação financeira que os hospitais enfrentam. No Brasil, as instituições filantrópicas são responsáveis por 56% dos leitos disponíveis para o SUS. No Estado, esses hospitais respondem a 148 mil atendimentos/mês e disponibilizam 100% das suas vagas de UTI e leitos crônicos para o Sistema Único de Saúde. 

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Só em Olinda e Jaboatão dos Guararapes, 70% dos leitos oferecidos são de hospitais filantrópicos como o Hospital do Tricentenário e os hospitais Memorial Guararapes e Memorial Jaboatão. De acordo com as instituições, a defasagem da tabela de procedimentos impõe um déficit de R$ 5 bilhões por ano aos hospitais e já é responsável por uma dívida total de cerca de R$ 12 bilhões. A perda corresponde a 40%, ou seja, para cada R$ 100,00 gastos os hospitais recebem R$ 60,00. 

Confira os valores repassados aos hospitais:

Pelo convênio                                                                                           Pelo SUS

- um parto normal: R$ 2.521,33                                                               R$ 267,60

- um parto cesariana: R$ 2.905,82                                                           R$ 395,68

- uma cirurgia de hérnia: R$ 1.700,00                                                       R$ 297,03

- uma consulta: R$ 56,00                                                                          R$ 10,00

 

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