Ele está na memória de todo pernambucano. Do menino que joga Playstation à vovó que adora o Sílvio Santos. Afinal, quem nunca foi ao Parque Estadual Dois Irmãos, ou, simplesmente, Horto de Dois Irmãos? Considerado um dos maiores redutos de mata atlântica de Pernambuco, o famoso zoológico possui, aproximadamente, 300 hectares, e foi fundado em janeiro de 1939. O espaço abriga hoje cerca de 600 animais, de aproximadamente 100 espécies, entre peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos da fauna brasileira e de outros países.
Para quem tem, pelo menos, 20 e poucos anos, pagar R$ 2 e entrar no parque (crianças de até 1 metro de altura e maiores de 60 anos não pagam) é como mergulhar no túnel do tempo. A caminhada pelo parque – para quem tem 20 e poucos anos – já ganha ar nostálgico de imediato. É inevitável. A cada visita em uma das jaulas, uma lembrança da infância com gosto de pipoca vem à tona. A ida ao Parque Estadual Dois Irmãos é diversão garantida para toda as idades.
O zoo abre de terça a domingo, das 8h às 16, e em datas como o Dia das Crianças, recebe cerca de 10 mil visitantes. Os meses que reúne mais frequentadores são janeiro e julho, que coincidem com as férias escolares. O mês de outubro também é bastante movimentado.
É fácil perceber o motivo de tanto carinho da população pelo Horto. Além do precinho camarada, a estrutura está em boas condições. O piso, composto por paralelepípedos, está regular em quase toda a extensão do parque. As pessoas não encontram dificuldades em se locomover pela área destinada aos frequentadores. As lixeiras são muitas, quase não se vê lixo jogado pelo chão. Os banheiros são razoavelmente limpos, e o local oferece lanchonetes, restaurante e uma lojinha que vende souvenirs em alusão ao Horto. No entanto, um item de bastante importância ainda não faz parte da infra-estrutura do Horto: rampas de acesso à cadeirantes. Não há como percorrer o imenso parque sobre uma cadeira de rodas, o piso, de paralelepípedos, não ofecere segurança.
“Eu adoro vir ao Horto de Dois Irmãos, mas, infelizmente, não tenho como ver todos os animais. O leão fica longe da entrada, e com cadeira de rodas fica inviável chegar até ele”, lamenta o aposentado Armando Joaquim da Silva, de 63 anos, que é cadeirante e tem uma das pernas amputadas. “O calçamento é ruim e a segurança não permite a entrada de carro, já pedi à administração, mas não teve jeito. Venho as vezes com meus netos, mas não posso aproveitar com eles. Cadeirante também é gente!”, diz o aposentado.
Quando o assunto são os animais, aí fica difícil chegar a um consenso quanto à preferência. Os simpáticos macacos têm sempre uma atenção especial do público. O urso-pardo, com seu tamanho e cara de dócil, cativa a criançada. As araras, com suas cores fortes, dão um brilho especial ao zoológico. Mas, assim como na selva o leão é quem manda, no Horto não é diferente. Muita gente aglomerada na frente do espaço onde vive o felino para fazer um registro pelo celular ou câmera fotográfica. São mais de 600 animais. Tem bicho para todos os gostos.
“Gosto mais do leão, ele é muito lindo. Aproveitamos a manhã no parque, as crianças adoram este programa”, conta a estudante Luzinete Maria da Silva, 39, que estava com os três filhos em frente à jaula do leão, tirando fotos.
No domingo, dia mais movimentado da semana – cerca de cinco mil visitas – não só as crianças têm motivos para sorrir. Os comerciantes do parque também comemoram. É o caso de Seu Simão, 64, dono da churrascaria Boca da Mata. Ele diz que possui negócios no Horto a mais de 40 anos. “Por volta de 200 pessoas passam pelo meu restaurante em um dia de domingo. Gosto muito de trabalhar dentro do zoológico, aqui é bastante seguro,” explica Seu Simão. O faturamento, conta, não é ruim. “Por mês, tiro uns R$ 10 mil. Mas é o valor bruto. Dá para se virar, né?”, revela, com bom humor.
Horto do futuro – o Parque Estadual Dois Irmãos (PEDI) se prepara para ser um bioparque, que é um novo conceito de zoológico. Com orçamento estimado em R$ 40 milhões, a previsão é que em 2012 iniciem-se as obras, que terá duração de dois anos. O novo projeto segue o Plano Geral de Reestruturação do PEDI, estabelecido em 2008 por um grupo de trabalho formado por ONGs ambientalistas, instituições de ensino e órgãos públicos estaduais e federais. A grande inovação é inserir os animais cativos em sistema de semi-liberdade, proporcionando-lhes maior qualidade de vida e reduzindo as barreiras visuais em relação ao público.
“O bioparque é um modelo que inverte o conceito tradicional de zoológicos: os animais parecerão estar livres na natureza enquanto os visitantes estarão protegidos em passarelas, do alto de mirantes ou no interior dos chamados recintos de imersão”, explica a gerente do Parque, Silvana Silva.
Mesmo septuagenário, o velho parque do bairro de Dois Irmãos ainda consegue despertar o interesse dos pernambucanos. Ele resiste ao tempo, sem perder a tradição e o encanto. O Horto se moderniza e continuará marcando a memória de outras tantas gerações.