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Além da saudação tradicional a homens e mulheres, o governo Lula passou a adotar o pronome neutro ‘todes’ em eventos e cerimônias oficiais. "Boa tarde a todos, a todas e todes", disse o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ao abrir o discurso de posse na terça-feira, em gesto que se repetiu em outros atos na semana passada.

O uso de uma expressão que não abarca nem o gênero masculino nem feminino busca atingir pessoas trans e não-binárias - além de retirar a predominância do gênero masculino da língua portuguesa. Um exemplo comumente usado é como se referir a um ambiente composto por nove mulheres e um homem: usa-se "todos" e não "todas". O uso de "todes" buscaria aglomerar todos os gêneros, de forma neutra - algo que comum em outros idiomas, mas não previsto na gramática normativa do português.

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O fenômeno também acontece no setor privado. A Braskem lançou em 2018 um guia de "comunicação inclusiva" para melhorar o relacionamento entre funcionários no ambiente de trabalho. Para falar com pessoas de gêneros não-binários, o guia recomenda o uso dos artigos "x/ile/dile", em vez de "a/ela/dela" ou "o/ele/dele". O material também orienta os funcionários a evitarem expressões como "homossexualismo" (o sufixo "ismo" indica doença) e "opção sexual" e a utilizarem, por outro lado, os termos "homossexualidade" e "orientação sexual".

Ainda assim, há apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que criticam o uso da linguagem. "Não preciso nem dizer que se o governo federal adotar o uso do pronome neutro em cerimônias oficiais, eles vão alimentar cada vez mais o bolsonarismo, né?", questionou um influenciador petista com mais de 200 mil seguidores no Twitter. "Nada contra, mas temos 1001 problemas pra resolver nos próximos 4 anos, e um deles é evitar dar narrativa pra essa gente."

BOLSONARISTAS. Ao longo de 2020, deputados apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro adotaram uma postura contrária à linguagem neutra. Eles investem, no Legislativo, na promoção de leis que proíbam o seu uso. O projeto de lei 5198/20, de autoria do deputado Junio Amaral (PL-MG), "proíbe instituições de ensino e bancas examinadoras de concursos públicos de utilizarem o gênero neutro para se referir a pessoas que não se identificam com os gêneros masculino e feminino, como a população LGBTI". O texto da ementa argumenta que a "nova forma de flexão de gênero e número" atua "em contrariedade às regras gramaticais consolidadas". A proposta não avançou na Câmara dos Deputados.

Tramitaram em todos os Estados do País, com exceção de Roraima, Piauí e Tocantins, projetos de lei que buscam proibir o uso da linguagem neutra. Propostas também avançaram em diversas Câmaras Municipais pelo Brasil.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Nesta quinta-feira (16), completam-se 31 anos desde que foi firmado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor a partir de 2004. Por ser considerado um idioma vivo, as regras gramaticais costumam se adaptar aos atuais momentos da sociedade, o que torna comum a existência desses acordos.

Segundo o professor dos cursos de comunicação social da Universidade Guarulhos (UNG) e Doutor em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), Inácio Rodrigues, esses acordos ocorrem de maneira natural e são atualizados pelo uso do dia-a-dia.

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Por conta desses acordos, algumas regras da língua portuguesa foram modificadas no decorrer dos anos, entre elas, Rodrigues destaca o uso da supressão que foi retirado de algumas acentuações e a abolição da trema ( ¨ ). “Algumas acentuações em paroxítonas caíram e também alguns hifens (-)”, ressalta.

Apesar das mudanças, Rodrigues lembra que o mais importante é a maneira como o acordo contempla a atualização da língua, como por exemplo, uma das discussões que ganharam foco nos últimos tempos, que é a inclusão do gênero neutro no idioma. “A língua portuguesa começa com uma inclinação machista para este lado, uma vez que o latim por exemplo, possui o artigo neutro para definir aquilo que não é masculino ou feminino”, exemplifica.

Rodrigues explica que mesmo o alemão, que não é uma língua neolatina, possui o artigo neutro, enquanto a língua portuguesa, que tem como base o latim, não dispõe de opções para nomear o que não é nem masculino nem feminino. “Uma língua não evolui sozinha, e sim dentro dos procedimentos de uso dela em uma sociedade. Então, essa discussão de termos o artigo neutro, passou batida durante muito tempo”, afirma.

Agora que a pauta está em discussão, o professor espera que a língua abrace todos os gêneros. “A ideia é que o idioma seja inclusivo. A língua normativa, aquela que tem uma regra, é elitizada, excludente e possui essas características estranhas”, aponta Rodrigues. “Mas ao mesmo tempo, ela possui uma regra, que de uma certa forma, ordena um pouco o pensamento, principalmente quando saímos do nosso grupo linguístico e vai para outro”, complementa.

Por ser algo novo, Rodrigues salienta que o debate sobre a inclusão do gênero neutro na língua, causa um estranhamento na sociedade. “Eu considero viável, pois é necessário incluir as pessoas, inclusive linguisticamente. Só não podemos banalizar a discussão”, relata.

Para Rodrigues, se todos tivessem acesso a uma boa educação, que garantisse o entendimento das normatizações do idioma, seria um ganho para a sociedade. “Para isso, precisaríamos entender o uso da língua, os mecanismos textuais e gramaticais e as estratégias do texto, que estão ligados ao estudo do idioma, mas que infelizmente possui pouco acesso”, comenta.

O professor pontua que todo mundo deveria saber ler e escrever bem, além de dominar minimamente o idioma falado, para além do seu grupo linguístico. “Infelizmente, no Brasil temos as elites sociais, que possuem uma formação melhor e entendem melhor o texto. Eles terão mais acesso e mais estudos, com isso a língua se torna excludente, já que nem todo mundo tem acesso a essa formação”, lamenta Rodrigues.

O Sr. e a Sra. Cabeça de Batata se tornarão neutros em relação ao gênero, anunciou nesta quinta-feira (25) a empresa que fabrica o popular brinquedo de plástico.

A Hasbro disse que está retirando os pronomes do nome das batatas "para promover a igualdade e inclusão de gênero".

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A partir do final deste ano, o brinquedo lançado há quase 70 anos passará a ser conhecido simplesmente como “Cabeça de Batata”.

“A Hasbro anunciou hoje que a marca icônica será reinventada para o consumidor moderno”, diz um comunicado no site do fabricante.

O nova versão brinquedo, no qual as crianças adicionam características faciais e roupas ao corpo de uma haste de plástico, chegará às prateleiras no outono.

Isso permitirá que as crianças "imaginem e criem sua própria família Cabeça de Batata", disse Hasbro.

"A forma como a marca existe atualmente - com o "Sr." e a "Sra."- é limitante quando se trata de identidade de gênero e estrutura familiar", disse a gerente geral da Hasbro, Kimberly Boyd, à revista de negócios Fast Company.

"A cultura evoluiu", acrescentou ela.

O Sr. Cabeça de Batata foi lançado em 1952. No rastro de seu sucesso, Sra. Cabeça de Batata, junto com acessórios femininos tradicionais, foi lançado no ano seguinte.

A mudança segue outras atualizações de marcas clássicas, incluindo Barbie, que inicialmente era conhecida por ser alta, branca e loira, mas agora vem em uma variedade de etnias e formas corporais.

Em 2019, a gigante global de brinquedos Mattel lançou uma linha de bonecos de gênero neutro.

A Apple incluiu novos emojis de gênero neutro na atualização mais recente de seu sistema operacional para dispositivos móveis, que inclui a representação de pessoas como bombeiros ou cientistas, mas que não se identificam como homem ou mulher.

A gigante tecnológica ofereceu nos últimos anos novos designs inclusivos, com emojis com diferentes tons de pele e profissões.

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O Google, criador do sistema operacional móvel Android, apresentou seus próprios emojis não binários em maio.

Essa nova coleção da Apple também inclui uma série de ilustrações relacionadas à deficiência, como uma cadeira de rodas, um cão-guia e uma prótese de braço com aparência robótica.

Os usuários que atualizam seus sistemas operacionais para a versão 13.2 do iOS, apresentados na segunda-feira, podem incluir esses novos emojis em suas mensagens.

O design dos emojis de gênero neutro se difere sutilmente daqueles que já existiam para homens e mulheres.

Em alguns casos, o estilo e a cor da roupa foram modificados. Em outros, os cortes de cabelo são diferentes e uma "estrutura facial de gênero neutro" foi usada, segundo o site especializado em emojis Emojipedia.

No entanto, o esforço pela inclusão não deixou todos satisfeitos. Alguns críticos dos novos designs argumentam que esses ícones definem como deve ser a aparência de uma pessoa que não se adapta ao seu gênero, frequentemente abreviado como CNG, do inglês "gender nonconforming".

"Como determinar que esses emojis são como a neutralidade de gênero deve ser representada ou que representam a maioria das pessoas que usam CNG", escreveu um usuário no Twitter.

"Não entendo por que eles não eram todos neutros desde o começo", escreveu outro.

"Os velhos e antigos smileys são neutros", acrescentou esse usuário, em alusão aos rostos amarelos e redondos da primeira geração de emojis. "Não sei por que tivemos que começar a colocar gênero em tudo em primeiro lugar".

Quando a Apple ofereceu uma primeira olhada em alguns desses novos designs no meio do ano, disse que trariam “ainda mais diversidade ao teclado” e “preencheriam uma lacuna significativa” na seleção de emojis disponíveis.

A coleção também inclui um prato de falafel, um gambá e um banjo.

Nos últimos anos, as empresas prestam cada vez mais atenção à inclusão.

A fabricante de brinquedos Mattel, por exemplo, apresentou bonecos de gênero neutro no mês passado, que carecem de curvas da Barbie e da G.I. Joe. Além disso, várias marcas de moda e cosméticos estão comercializando produtos não binários.

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