Uma lei histórica que legaliza o casamento entre pessoas do mesmo sexo entrou em vigor, neste sábado (horário local), na Inglaterra e em Gales, a última etapa na longa luta pela igualdade jurídica para gays e lésbicas nesses dois países britânicos. Vários casais faziam cerimônias, já na sexta à noite, para estarem entre os primeiros a dizer o tão esperado "sim", logo após a entrada em vigor da lei.
O primeiro-ministro David Cameron ressaltou que se trata de um "momento importante para nosso país". "Dito de outro modo, na Grã-Bretanha, já não importará se você é hétero, ou homossexual, o Estado reconhecerá sua relação como igual", afirmou Cameron, em um comunicado.
O vice-primeiro-ministro britânico, Nick Clegg, também comemorou. "Finalmente, depois de anos de campanha, qualquer casal que quiser se casar poderá se casar", declarou. "Juntos, fizemos do nosso país um lugar no qual podemos celebrar o amor por igual, seja gay, ou heterossexual", acrescentou.
Uma das primeiras uniões foi a de Neil Allard e Andrew Wale, que se casaram em Brighton um minuto depois da meia-noite (horário local), no famoso Pavilhão Real dessa cidade balneária do sul. Juntos há sete anos, o casal se abraçou e se beijou, depois de ser declarado "marido e marido".
"Nós nos damos conta, ainda mais, do quão sortudos somos de viver, comparativamente, em uma parte tolerante do mundo", havia dito Wale esta semana, quando posava com o futuro marido para a imprensa. O arcebispo de Canterbury, líder dos 80 milhões de anglicanos, anunciou na quinta-feira que a Igreja não fará mais campanha contra. "Acho que a Igreja reagiu, aceitando plenamente que é a lei e, no sábado, terá de continuar mostrando, na palavra e na ação, o amor de Cristo por cada ser humano", explicou.
A Igreja não será obrigada a oficiar esses casamentos e, no mês passado, seu sínodo avisou que os sacerdotes não poderão abençoar os recém-casados. Já a oposição de alguns parentes pode ser um pouco mais intensa.
Louis Monaco, psicólogo de 46 anos, e Aarron Erbas, estudante de 23, contrataram seguranças particulares para impedir que a família de Erbas estrague a festa. "Seus pais não aceitam que ele seja homossexual e que se case com alguém mais velho. A polícia já teve de intervir, e ele não quer nada que estrague o dia", explicou Monaco à AFP.
A lei tinha o apoio do primeiro-ministro conservador David Cameron e, mesmo sem a aprovação total de seu partido, passou com os votos de seus aliados liberais-democratas e da oposição trabalhista. A mudança não vale para todo o Reino Unido.
Na Escócia, a lei já foi aprovada, e os primeiros casamentos poderão acontecer ainda em 2014. Na Irlanda do Norte, porém, o Executivo regional anunciou que não tem a intenção de permitir essas uniões. Com a aprovação da lei, os homossexuais poderão adotar crianças e ter relações sexuais a partir da mesma idade que os casais do sexo oposto.
"Quando, aos 20 anos, revelei que era homossexual, em 1983, a idade para ter relações era de 21 anos. Minha primeira relação sexual foi com outro homem, também de 20 anos, e nós dois podíamos ter sido presos", conta Matthew Toresen, assistente social em Northampton, no centro da Inglaterra.
"Passar por isso para poder me casar, só se passa uma vez na vida... Nunca imaginei que esse dia chegaria", afirmou Toresen, de 51 anos, que vai se unir a Scott Maloney, de 45, no sábado. Ambos fizeram campanha durante anos pela igualdade de direitos e descrevem o matrimônio como "o último obstáculo". As uniões civis foram aprovadas na Inglaterra e no País de Gales em 2005, e permitiram aos casais homossexuais se casar no cartório e ter acesso aos mesmo benefícios que os demais.
Os ativistas insistiram em que só se conformariam, porém, com a plena igualdade, um princípio que a população em geral aceitou. Quando o Parlamento aprovou a lei que permitia que os gays se casassem, não houve grandes protestos, ou polêmicas, como aconteceu na França, por exemplo.