O cinema brasileiro passava por uma fase de renovação - quase um renascimento - em meados da década de 1990 quando aconteceu, no Recife, a primeira edição do Festival Cine PE. Era 1996 e o evento chegava para assumir, quase sem querer, uma fatia grossa no amadurecimento desse cenário, tornando-se um vetor fundamental na difusão do que era produzido em termos de audiovisual em solo nacional. Hoje, o Cine PE celebra seus 25 anos consolidado como um dos mais importantes festivais do segmento no país, um número expressivo de espectadores e o desejo de manter-se cumpridor de sua missão.
Em pouco mais de duas décadas, o Cine PE enfrentou percalços, passeou por diferentes equipamentos culturais da capital pernambucana - como o Teatro Guararapes, no Centro de Convenções, e o Cinema São Luiz -, e acumulou números impressionantes. Até então, foram 706 horas de exibições, 8.114 filmes inscritos, 72 oficinas formativas - com quase três mil participantes - e um público de mais de 414 mil pessoas.
##RECOMENDA##
O público, aliás, é considerado um dos grandes trunfos do evento, não só pela quantidade mas, sobretudo, pela fidelidade. “O público abraça a todos os filmes de uma forma muito afetuosa, é um público que sabe reconhecer os bons filmes, sabe reconhecer os bons técnicos, sabe se posicionar nas exibições, é um público que tem qualidade e é apaixonado pelo cinema. Todo mundo quer estar no Cine PE, é um ponto muito positivo e a gente conseguiu dialogar com esse público durante todos esses anos”, diz Sandra Bertini, idealizadora do festival, em entrevista exclusiva ao LeiaJá.
O Cine PE fez história com edições realizadas no Cinema São Luiz, no Recife. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens/Arquivo
Outro grande trunfo do evento, segundo Sandra, é a equipe que faz o festival acontecer. “Um evento como o Cine Pe, privado, com parceiros municipais, estaduais e federais, a gente consegue sempre mostrar um produto legal onde a gente pode agregar uma marca e esse investidor fica satisfeito de estar no evento. A gente consegue dialogar e acho que isso tem muito a ver com a mão que dirige o evento. São várias mãos, não é só a de Sandra, ou de Alfredo (Bertini), é a mão de uma equipe e essa equipe é mil. Tem gente que trabalha comigo há 18 anos. São pessoas que brigam pelo evento, para que ele seja maravilhosamente bem feito”.
Essa equipe, agora, se prepara para levar ao público mais uma edição do Cine PE: a 25ª, que estreia na próxima terça (23) e segue até a sexta (26), no Cineteatro do Parque, com mostras competitivas de curtas e longas, e acesso gratuito. Está, além de ser a que marca talvez o auge de sua maturidade, com tantos anos de realizações, será a primeira presencial após a pandemia do coronavírus.
A expectativa só não é maior pela vasta experiência de todos, segundo Sandra, e a certeza de que a “mão” que produz o festival sabe muito bem o que é preciso para torná-lo sucesso. “A 24ª edição, que foi a que veio com a pandemia (no último ano), foi talvez de longe a mais difícil de ter sido solucionada e mesmo assim eu apresentei um plano de como se executar para o Canal Brasil, para a TV Pernambuco e nós fizemos de uma forma que não é a ideal porque festival tem que ter público, mas conseguimos solucionar a questão de 2020. A gente espera que nas próximas edições a gente possa receber um público que possa preencher todo o espaço. É isso,vamos em frente”.
Sandra Bertini, realizadora do Cine PE. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo
As comemorações do 25º aniversário do Cine PE começam com as mostras competitivas, neste mês de novembro,e se estenderão até março de 2022. Até lá serão realizadas oficinas e seminários, em formato híbrido, além de mostras de filmes na TV pública local. Nesta edição, o evento homenageia o ator, diretor e escritor Lázaro Ramos e, de forma póstuma, alguns nomes célebres do cinema que nos foram tirados pela pandemia.
Já em relação às produções selecionadas, a curadoria do festival esmerou-se em elaborar uma programação pautada nos princípios que permeiam o evento desde o seu início. Um deles, o de contemplar a produção que acontece nas mais diferentes regiões do país. “Eu oriento sempre a minha curadoria para que procurem observar nos filmes suas qualidades técnicas e artísticas. Que eles procurem dar prioridade a essas questões, e também tem uma pitada da regionalização, a gente tem sempre pautado isso, principalmente nos curtas. É óbvio que sempre tudo isso tem por trás uma narrativa muitas vezes política, pois os próprios filmes trazem isso. Os filmes dessas últimas temporadas tem sofrido bastante influência das questões políticas que estamos vivendo atualmente”.
O público é considerado, por Sandra Bertini, um dos grandes trunfos do festival. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens
Do topo dos seus 25 anos de existência, consagrado e muito esperado pelo público, o Cine PE parece não ter mais nada a provar a ninguém. Nesta edição de reencontro com os seus - em uma plateia ainda reduzida em virtude das restrições relativas à pandemia - a expectativa de seus realizadores é a de poder (re)ver nos rostos dos espectadores - mesmo sob as máscaras - a emoção e a alegria de vivenciar o cinema em um de seus momentos de maior glória: dentro de um festival. “Estou muito tranquila, não há qualquer ansiedade. É natural que haja, mas de uma forma positiva, não por receio, muito pelo contrário. É como se a gente passasse dois anos sem ver os grandes amigos e a gente vai encontrar esses amigos daqui a alguns dias, a gente fica na expectativa. Eu espero que o público, as 400 pessoas que podem estar, lá possam realmente receber de braços abertos o que a gente tá propondo fazer nesse Cine PE 2021”.
SERVIÇO
25º CINE PE - Festival do Audiovisual
Terça (23) a Sexta (26)
Mostras Competitivas de Curtas a partir das 14h;
Mostras Competitivas de Longas a partir das 19h.
Local: Teatro do Parque (R. do Hospício, 81 - Boa Vista, Recife - PE)
Ingressos: Acesso gratuito (mediante a retirada do ingresso na bilheteria 2 horas antes do início do evento)