A Festa da Lavadeira chega à sua 29ª edição cercada de polêmica e luta pela preservação de sua existência. Realizada tradicionalmente na Praia do Paiva, no litoral sul de Pernambuco, a festa sofreu, nos últimos anos, com a falta de apoio e incentivo por parte do Governo do Estado e da Prefeitura do Recife, embora tenha sido reconhecida, em 2006, como patrimônio imaterial cultural de Pernambuco.
Festa da Lavadeira sai de Pernambuco para Goiás
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As últimas edições da festa vinham sendo realizadas fora de seu local de origem. Em 2012, no Marco Zero do Recife, em 2013, no Bairro de São José e, em 2014, um grupo reuniu-se em um ato pela resistência do evento, fazendo um grande arrastão pelas ruas do Bairro de São José em protesto à não realização da Lavadeira naquele ano. Nesta segunda (23), a organização da Festa surpreendeu ao divulgar que a 29ª edição da Lavadeira será realizada no povoado de São Jorge, estado do Goiás. Em entrevisa ao Portal LeiaJá, Eduardo Melo, coordenador do evento, comentou sobre as mudanças e as dificuldades que o evento vem enfrentando.
LeiaJá - Como surgiu a ideia de levar a Festa da Lavadeira para Goiás e quem está apoiando esta ida?
Eduardo Melo - Um convite da Casa de Cultura São Jorge - GO, que realiza aqui na Chapada dos Veadeiros o Encontro de Culturas e trabalhos de vivência com Povos Indígenas e o Povo Calunga numa estrutura já existente chamada Aldeia Multiétnica. Além disso estamos também alinhados com o Instituto Jardim Cultural - MG, que já alguns anos realiza o projeto Vozes de Mestres. Além do apoio e boa acolhida da Prefeitura local.
LeiaJá - Quais grupos se apresentarão? Serão apenas grupos da cultura pernambucana e com que apoio eles irão para o Goiás?
Eduardo Melo - A proposta é intercâmbio, mas sempre apoiando, divulgando e valorizando nossa cultura popular que estará presente em maioria. A grade ainda está sendo elaborada, estamos aguardando possível apoio do governo federal. A festa aqui terá uma estrutura menor, até pelos custos de trazer grupos ser mais alto, contudo, aqui o evento terá bilheteria, venda de produtos artesanais, alimentos, bebidas entre as parcerias já citadas e aguardamos o possível apoio do governo federal e de outros apoios, inclusive de aldeias indígenas e do povo Calunga.
LeiaJá - Existe a possibilidade da festa voltar para Pernambuco?
Eduardo Melo - Quando houver a mudanças de diretriz politica, quando apoiarem a nossa cultura e não a humilha-la impedindo que subam nos palcos, exclusivo para os artistas convidados. Tudo isso nos enfraquece. Porque nos retiraram do Marco Zero? Porque nos retiraram do Bairro de São José? Porque o Estado não cumpriu o compromisso de apoia-la no Recife? Porque tantos outros eventos ocorrem no Marco Zero e nossa cultura assim como no carnaval é excluída? Tudo passa ao largo...
LeiaJá - EM Goiás, a entrada da festa será paga?
Eduardo Melo - Também, haverá cortejo pela cidade, festa gratuita e na Aldeia Multiétnica é onde iremos cobrar ingressos, assim como nas apresentações na área interna do espaço Cavaleiros de Jorge. A luta é contínua, mas é assim que resistimos a 28 anos de forma ininterrupta. Lembre que somos Patrimônio do Povo de Pernambuco, Calendário Oficial do Estado, temos dois prêmios do IPHAN, temos prêmio do MinC, somos reconhecidos pela ONU e somos registrados como representação da nossa Matriz Africana.
LeiaJá - Para a realização desta edição, existiu alguma tentativa junto ao Governo do Estado para que fosse feita em algum local dentro de Pernambuco?
Eduardo Melo - Fomos retirados do Estado, faltaram com compromissos, mas não somos vitimas, vítima é todo o povo Pernambucano que cada dia está mais distante das suas tradições. Daqui de GO a imagem do nosso carnaval é deprimente, nada, só imagem de palcos e luzes e nomes já cansados de estarem na mídia, que em nada agregam, somando ao número absurdo de mortes... É obrigação de Estado rever a condução do nossa Carnaval e das nossas tradições. O governo do Estado, com tantos anos de Pernambuco Nação Cultural, e tanto dinheiro gasto, o que tem ficado? existe algum documentário, cartilha pra escolas, livros, pesquisa ou estudos das nossas tradições. Existe a preocupação de forma grupos culturais pelo interior? Quais já existem? Até hoje ninguém sabe porque o tambor do maracatu de baque virado se chama Alfaia. Esse é nosso Pernambuco, tem tudo e não tem nada porque não sabe se amar, não existe uma politica cultural sólida, não há apoio aos nossas grupos culturais, a maioria deve a agiota para fazer bonito no carnaval e vivem e sobrevivem num processo árduo de superação.