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O PT perdeu apoios regionais na eleição presidencial deste ano e isso é inegável, mas e o lulismo, ainda resiste após a derrota do candidato Fernando Haddad (PT)? Especialistas ouvidos pelo LeiaJá apontam que sim, apesar da argumentação constante dos opositores ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que segue preso cumprindo pena por corrupção e lavagem de dinheiro, de “extirpar” a força deste segmento do país.

O que mudou, contudo, é o cenário em que o lulismo saiu do auge de conquistar quatro mandatos presidenciais seguidos para o declínio dos escândalos de corrupção e a crise político-econômica instaurada no Brasil - que gerou o movimento antilulismo e antipetista.

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O retrato disso foi visto nas urnas, com a vitória de Jair Bolsonaro na disputa presidencial. Segundo levantamento publicado nesta semana pelo jornal Folha de São Paulo, o PT registrou queda nos votos em todas as regiões do país.

Se comparado a 2014, por exemplo, apenas na região Nordeste o segmento manteve força hegemônica e Haddad conquistou uma votação parecida com a da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), eleita naquele ano, mas, mesmo assim, houve uma perda de eleitores. Para se ter uma ideia, em 2014 o PT recebeu 71,7% dos votos válidos dos nordestinos e com Haddad 69,7%. A leve diferença não é vista nas outras regiões, onde a redução foi de quase dez pontos percentuais.

“O lulismo não foi enterrado em 2018. Existe uma força ainda presente, ainda que não tenha a mesma intensidade. A expressiva votação de Fernando Haddad foi uma votação de apoio ao lulismo. Agora, ao trilhar o caminho da oposição, o lulismo terá que se revisar. Terá que adotar as novas demandas da sociedade, que certamente virão com as reformas empreendidas”, considerou a cientista política Priscila Lapa.

O pensamento da estudiosa foi corroborado pelo professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e cientista político Adriano Oliveira. “O lulismo mostrou força nesta eleição, apesar da derrota, em particular na região nordeste. A diferença [de votos] de Bolsonaro para Fernando Haddad declinou nos últimos dias e a expressiva votação de Haddad não significa que seja, por inteiro, em virtude do lulismo, o candidato tem sua participação. Entretanto, quando olhamos o resultado pela região Norte/Nordeste, observamos que essa região era lulista e continuou a ser”, observou. 

Após a derrota no último domingo, surgiu o debate sobre uma espécie de “luladependência” do partido eleitoralmente. Alguns petistas refutaram a tese e outros admitiram que a ausência física de Lula na disputa teria sido prejudicial. Para Oliveira, o PT transformou-se em um partido dependente do líder-mor. “Existe sim uma ‘luladependência’ do PT e a derrota de Haddad é uma oportunidade para ela terminar. Isso é possível se o PT autorizar Fernando Haddad a liderar a oposição, caso isso não corra e a oposição fique fragmenta, essa ‘luladependência’ vai continuar”, salientou.

O argumento foi contraposto por Priscila Lapa, que viu na ausência física de Lula uma oportunidade de diminuir o tamanho da derrota de Haddad. “A derrota tem a ver com o emblema do combate à corrupção, cuja prisão de Lula é o seu símbolo maior. Tem a ver com o estado da economia, que restringiu conquistas de um público com o qual o PT sempre dialogou. A ausência de Lula no cenário pode, inclusive, ter ajudado a diminuir o tamanho da derrota. A presença física dele na eleição agregaria para o eleitor que já votaria no PT, mas impediria em angariar outros apoios que o PT conquistou ao longo da campanha”, ressaltou.

Um PT opositor e em renovação

Com 45 milhões de votos, Fernando Haddad já deixou claro, logo após a confirmação da derrota eleitoral, que pretendia protagonizar a liderança da oposição ao governo de Bolsonaro pontuando que “um professor não foge à luta”, pedindo coragem aos seus eleitores e já mencionando a disputa de 2022. A incógnita, porém, é se o PT abrirá espaço para o ex-candidato comandar as ações oposicionistas, lugar até agora ocupado com afinco, e ainda que da prisão, pelo próprio Lula.

Na avaliação de Lapa, Haddad se revelou capaz de aglutinar a esquerda. “O PT se fortaleceu em relação a 2014 no número de governadores eleitos e a sua bancada na Câmara foi a maior de 2018. A esquerda como um todo fez uma bancada expressiva, com a qual o presidente eleito precisará estabelecer diálogos. O PT revelou Fernando Haddad como um líder com capacidade de agregar a esquerda. Além do mais, os movimentos sociais certamente buscarão o partido e o partido os buscará num momento de muita repressão aos ativismos”, disse a estudiosa.

Para esta relação mútua com os movimentos sociais de base e outros partidos ser de sucesso, o PT também precisará de uma renovação interna. Já alertada por Fernando Haddad na campanha.

“Todo partido que sai do poder e toma o caminho da oposição ou se renova ou morre. Mas o PT dificilmente morrerá. Ele tem base consolidada em todo o território nacional, está no poder em diversos Estados e deverá, naturalmente, angariar as novas demandas que a sociedade terá nesse novo ciclo político. Com seu líder maior preso, inevitavelmente ele perde essa conexão. Logo, haverá um caminho de se renovar por essas novas forças políticas em atuação”, ponderou Priscila Lapa.

“A questão da auto crítica, explícita, como uma espécie de pedido de desculpas, não vai acontecer. Mas a história está se encarregando de mostrar ao PT que houve muitos equívocos. Mudar é um caminho para a sobrevivência. O tempo vai mostrar”, acrescentou a cientista política.

Um dos pontos essenciais que o partido deve expor para seus adeptos e os demais brasileiros, na ótica de Adriano Oliveira, é que mudou de prática. “É claro que o PT precisa de renovação e ela pode existir com Fernando Haddad, em vista do seu desempenho eleitoral. O PT precisa, de modo mais contundente, de uma nova agenda e colocar para os eleitores que mudou de prática, ou seja, aquilo que ocorreu no passado, em forma de corrupção, não irá mais ocorrer”, argumentou o professor.

O espaço conquistado na eleição

Apesar de ter perdido a disputa pela Presidência da República, o Partido dos Trabalhadores (PT) será a sigla com o comando de mais Estados do país a partir de 2019. A legenda elegeu quatro governadores: Rui Costa na Bahia, Camilo Santana no Ceará, Wellington Dias no Piauí - para o segundo mandato - e Fátima Bezerra no Rio Grande do Norte, sendo ela a única mulher a conquistar o cargo no país.

Além disso, o PT elegeu 56 deputados ficando com a maior bancada na Câmara Federal, à frente, inclusive, do PSL de Jair Bolsonaro que conquistou 52 cadeiras. Já no Senado, o PT elegeu três nomes: Rogério Carvalho Santos pelo Sergipe, Humberto Costa por Pernambuco e Jaques Wagner pela Bahia.

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