Cadeiras e mesas personalizadas, ombrelones, áreas para massagem, tendas, bar, banheiros químicos, espaço com playground para crianças e jogos de mesa e lounge com conforto acessibilidade, além de palco sunset e amplo estacionamento garantido. A estrutura oferecida parece um serviço de show privado ou de evento em casas de festa. Mas, na verdade, as instalações vão compor o novo cenário de um trecho da Praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife.
Neste próximo sábado (9) está prevista a inauguração do espaço ‘Pezão Prime’, na Avenida Beira Mar, novo empreendimento de Carlos Vasconcelos, empresário também responsável pela ‘Barraca do Pezão’, localizada em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. O luxuoso e diferenciado serviço segue o mesmo molde do espaço recifense, ocupando a areia da praia para proporcionar um local exclusivo às pessoas que vão consumir os produtos e o conceito.
##RECOMENDA##Em entrevista ao LeiaJá, Carlos Pezão, como é conhecido entre os frequentadores do estabelecimento em Boa Viagem, confirmou a inauguração do espaço VIP e explicou que foram dois anos de pesquisa para lançar o negócio com capacidade para até 400 pessoas. “A gente fez uma ampla pesquisa com as pessoas e o que elas acham de um atendimento com esse serviço. Eu sinto falta disso, se você vai à praia geralmente o atendimento é ruim, não tem diversidade de bebidas e nem de comidas”, comentou o empresário.
No empreendimento de Boa Viagem, ele já enfrentou alguns problemas de licença com a Prefeitura do Recife por causa do tamanho do espaço ocupado na areia da praia e teve de reduzir. Em Piedade, Carlos garante: “Eu trabalho dentro da política de Prefeitura. Tenho a licença e autorização ambiental para o empreendimento e não faço nada errado e sim dentro da legislação. Sou uma pessoa autorizada e nem procuro o que não é meu”, pontuou Pezão.
O ‘Pezão Prime’ também vai contar com uma casa de apoio na frente da orla com ‘bioduchas’ ecologicamente corretas e varanda com espaço para vinte mesas para o cliente que deseje mais conforto. A ideia de Carlos é proporcionar um “final de tarde feliz” aos seus frequentadores.
Qual o retorno para a cidade após essa privatização?
Para Raquel Meneses, urbanista e pesquisadora do Instituto de Pesquisa e Inovação para as Cidades (Inciti), o empreendimento é bem integrado com o perfil do Recife e Região Metropolitana, de utilizar o espaço público de forma privada sem transparência para a população. “A gente não sabe como as coisas são feitas, mesmo que seja oficial e regularizado, ninguém tem acesso a essas autorizações, só ele e a pessoa que está dando o aval”, disse a pesquisadora.
Para ela, a praia é o espaço de lazer mais inclusivo e que mais agrega as pessoas. “É um local realmente público e esse tipo de serviço interfere nisso. Qual é o retorno positivo para a cidade? A gente não vê. Éuma forma de segregação e higienização porque separa as classes, já que nem todo mundo vai poder pagar por esse ambiente. Isso não é algo pontual, é para o ano inteiro e termina virando parte da cultura do lugar”, complementou a urbanista.
De acordo com Carlos, seu empreendimento faz sucesso porque é algo que o público recifense sente falta e precisa. Já Raquel entende o uso da areia como um ‘loteamento’. “É óbvio que é um serviço interessante porque ele melhora as condições de uso do espaço e acaba melhorando a segurança, mas usar um espaço coletivo com interesses privados precisa ser investigado”, afirmou.
A reportagem do LeiaJá procurou a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes para esclarecer se existe a liberação de funcionamento do empreendimento na areia da praia. Questionamos se a burocracia de liberação foi resolvida, qual retorno para a sociedade e se existirá algum monitoramento do ambiente privado. Até a publicação desta reportagem a gestão municipal não retornou as ligações e nem respondeu aos questionamentos.