A vontade de fazer diferente dentro da sala de aula foi o que rendeu ao professor Jayse Ferreira estar entre os 50 finalistas do Global Teacher Prize, considerado o “Nobel da Educação”, divulgado nesta quinta-feira (13). A premiação reconhece os melhores professores do mundo, com base em suas histórias de vida e como seus projetos impactam positivamente o dia a dia e educação dos alunos. Ferreira é docente na Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Frei Orlando, na cidade de Itambé, Zona da Mata de Pernambuco.
Filho de um agricultor analfabeto e uma dona de casa com ensino fundamental, Jayse, nascido em Itambé, foi o primeiro da família a ter um diploma de graduação. “Meu pai deu a mim e ao meu irmão condição de estudar, a que ele não teve, então eu o fiz e passei em educação artística na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)”, conta o professor. A escolha, segundo ele, foi por amor. “Eu queria trabalhar com artes, então não tive dúvida do que fazer”, completa.
##RECOMENDA##Com muitas dificuldades pelo caminho, Jayse quis fazer jus ao seu título de licenciado em educação artística e fazer a diferença em sala de aula. “No começo eu não queria seguir a docência porque havia aquele mito que ser professor era ruim, mas depois eu percebi que era o que eu queria para minha vida, então agarrei a oportunidade com todas as forças. Eu tento retribuir os sacrifícios que meu pai fez para mim não sendo um professor mediano. Sempre anoto, durante a chamada, o que o aluno sabe fazer, tipo cantar, tocar música, porque ele pode me ajudar nos projetos”, explica.
O professor ainda salienta que seu objetivo é trazer o aluno para mais próximo da sala de aula. “Eu costumo perguntar o que eles querem fazer em sala, por que como a gente vai dar um conteúdo sem saber o que aquele estudante tem interesse? O aluno que se sente útil não falta, tira notas boas e tem compromisso com a escola”, salienta.
Para Jayse, ser indicado na premiação foi algo inimaginável. “Eu inscrevi minha história, mas não acreditava que seria capaz. Você acha que sempre vai ter um professor que está fazendo algo ainda mais incrível”, admite. Mas, quando seu nome saiu na lista, a alegria foi grande. “Um professor de inglês da escola foi me buscar de carro em casa, fez buzinaço e quando cheguei lá os alunos me aplaudiram. Foi muito gratificante”, completa Jayse.
Projetos indicados e premiados
Jayse Ferreira já foi vencedor duas vezes do Prêmio Professores do Brasil, do Ministério da Educação (MEC). A primeira, em 2014, foi com o projeto “Etnias do Mundo” - um dos trabalhos que rendeu a participação do educador no Global Teacher Prize -, em que Jayse reuniu estudantes do EREM onde trabalha para uma sessão de fotos caracterizadas de diversos povos. A ideia surgiu quando os discentes estavam se inscrevendo para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e não sabiam qual raça colocar na autodeclaração exigida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), organizadora do Enem.
Segundo Jayse, a causa disso foi o racismo. “Eles não se viam bonitos porque a mídia já padronizou um tipo de beleza, então eu tive a ideia de vestir eles com características de alguns povos e isso aumentou demais a autoestima de cada um”, conta o professor. A repercussão da atividade foi tão grande que ele alcançou a patamar máximo pelo prêmio do MEC.
Já em 2017, o “Vamos encurtar essa história” deu a Jayse o título, pela segunda vez, o lugar de melhor professor do país. “Nesse projeto, os alunos foram estimulados a criar narrativas para filmes curta metragens baseados em temas que eles gostassem", conta. Os frutos foram “Harry Potter, O Recomeço” e “Minecraft Apocalipse”, totalizando quase 165 mil visualizações no YouTube.