O Sri Lanka tentava se recuperar nesta segunda-feira (22) do violento Domingo de Páscoa, no qual vários homens-bomba mataram 290 pessoas com detonações em igrejas católicas que celebravam a missa da Ressurreição e em hotéis de luxo.
Os atentados, que também deixaram mais de 500 feridos, provocaram uma onda internacional de emoção e indignação. O Sri Lanka não registrava tanta violência desde o fim da guerra civil, há 10 anos.
Nenhum grupo reivindicou até o momento a série de atentados, executados com poucas horas de intervalo em vários pontos da turística ilha do sudeste asiático.
O presidente Maithripala Sirisena, que estava fora do país, retornou nesta segunda-feira a Colombo para comandar uma reunião do Conselho de Segurança.
As autoridades anunciaram a detenção de 24 pessoas, mas não revelaram detalhes sobre os suspeitos, e decretaram um toque de recolher noturno pelo segundo dia consecutivo.
Dilip Fernando, um católico de Negombo, cidade que fica a 30 km da capital Colombo, estava parado diante da igreja de São Sebastião. Ele não entrou no templo no domingo porque estava lotado e escapou por pouco do massacre provocado por um atentado suicida.
"Se a igreja estivesse aberta, eu entraria. Não temos medo. Não vamos deixar que os terroristas ganhem. Nunca! Vou continuar frequentando a igreja", declarou Fernando à AFP.
Às 6H00 locais, horário em que termina o toque de recolher, as pessoas começaram a sair de suas casas para seguir até o trabalho e as ruas ficaram lotadas de automóveis, motos e tuk-tuk, os típicos triciclos motorizados do sudeste asiático.
No domingo foram registradas seis explosões em um período curto durante a manhã e outras duas no período da tarde.
O Sri Lanka é um destino turístico muito procurado por suas praias idílicas e natureza selvagem. Por este motivo, diversos estrangeiros estão entre as vítimas dos atentados.
O número exato de estrangeiros mortos "é difícil de determinar. Ao menos 37 morreram e 11 já foram identificados. Alguns corpos estão mutilados e a identificação é complicada", afirmou à AFP uma fonte do ministério das Relações Exteriores.
Entre os estrangeiros mortos estão indianos, portugueses, turcos, britânicos e americanos.
No domingo à noite, uma bomba de fabricação caseira foi encontrada e desativada na estrada que leva ao aeroporto de Colombo, uma área muito protegida.
- Recordações dolorosas -
Em Colombo, três hotéis de luxo à beira-mar - Cinnamon Grand Hotel, Shangri La e Kingsbury - e a igreja de Santo Antônio foram atacados no domingo de maneira praticamente simultânea entre 8H30-9H00 locais (0H00-0H30 de Brasília).
Também foram detonadas bombas na igreja de São Sebastião de Negombo e outra na cidade de Batticaloa, na costa leste da ilha.
Poucas horas depois aconteceram outras duas explosões, a primeira no hotel Dehiwala, no subúrbio de Colombo, e a segunda em Orugodawatta, zona norte da capital, onde um homem-bomba detonou sua carga durante uma operação policial.
"Era uma torrente de sangue", disse N. A. Sumanapala, um comerciante que trabalha ao lado da igreja de Santo Antônio de Colombo. "Corri para ajudar. O padre apareceu coberto de sangue", conta.
Um vídeo feito em uma das igrejas atacadas mostra vários corpos no chão, repleto de escombros e de sangue.
A força da explosão provocou buracos em partes do telhado do templo. O papa Francisco expressou "tristeza" com os "graves atentados".
O arcebispo de Colombo fez um apelo às autoridades e pediu a "punição sem piedade" aos responsáveis pelos ataques. Do Vaticano aos Estados Unidos, passando pela Índia, o mundo condenou de maneira unânime os atentados
As cenas do massacre do domingo de Páscoa reavivaram as lembranças traumáticas da guerra civil que afetou o Sri Lanka por décadas, afirma Shanta Prasad, recepcionista na emergência do Hospital Nacional de Colombo.
"Transportei oito crianças feridas no domingo. Havia duas meninas de seis e oito anos, a mesma idade das minhas filhas. As roupas estavam rasgadas e manchadas de sangue. É insuportável ver novamente este tipo de violência", disse.
Quase 1,2 milhão de católicos vivem no Sri Lanka, um país de 21 milhões de habitantes, onde os cristãos representam quase 7% da população, majoritariamente budista (70%). O país também tem 12% de hinduístas e 10% de muçulmanos.