A rua Crucilândia, no bairro de Afogados, Zona Oeste do Recife, já foi endereço de um dos mais tradicionais clubes de frevo de Pernambuco. Ali está a antiga sede do Clube Misto Carnavalesco Vassourinhas, desativada em 2014. Hoje, cinco anos depois, o prédio ostenta apenas um cenário de abandono no qual nem o telefone de uma velha placa de 'Vende-se' atende mais. Neste sábado (14), Dia Nacional do Frevo, o centenário Vassourinhas, ‘dono’ do Hino do Carnaval de Pernambuco, não tem motivos para comemorar.
Bem como a fachada com letreiro destruído o interior do imóvel apresenta a mesma situação de abandono. Há cerca de dois meses, um roubo levou telhas, grades, espelhos e até vasos sanitários do imóvel. Mais que isso, parte do acervo cultural do clube, fundado em 1889, foi totalmente destruído. "O ladrão queimou os quadros dos diretores antigos, abriu um armário de vidro, tirou o primeiro estandarte do clube que tinha mais de 100 anos, os documentos, o acervo cultural todinho do clube foi embora", lamenta Maurício Batista dos Santos, atual presidente do Vassourinhas.
##RECOMENDA##Maurício atua como carnavalesco na agremiação há 30 anos e há 16 trabalha diretamente para o funcionamento do clube. Após o falecimento do ex- presidente, José Gouveia dos Santos, ele foi eleito para a função. O novo mandatário conta que a degradação da sede começou quando José Gouveia desistiu de cuidar do lugar. "O presidente, pela idade também, e a falta de interesse, ele tava botando o clube só no dia que ele queria. No domingo tinha um teclado e ele queria que o povo pagasse. Mas ninguém ia mais". Segundo Maurício, Gouveia também não se interessou em investir em equipamentos de segurança e acessibilidade exigidos para o funcionamento do local e, assim, a sede da agremiação foi ficando para trás.
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Clubes tradicionais como Lenhadores e o Clube das Pás, ambos com sede própria, costumam alugar seus salões e promover festas como forma de obter renda. Com o dinheiro, os carnavalescos viabilizam o seu Carnaval. Mas, em Vassourinhas, a realidade tem sido de poucas condições há vários fevereiros. "O presidente, que faleceu faz um mês, ele já tinha 93 anos e não queria mais saber de Carnaval, não me ajudava em nada. Eu que tinha que gastar do meu dinheiro, arrumar emprestado, e por amor. Hoje em dia, se não tiver amor pra botar agremiação na rua não bota mais não", diz Maurício. É na casa dele, também no bairro de Afogados, que estão guardados roupas, materiais e os troféus do clube. É lá também que tem sido organizado o Carnaval do Vassourinhas.
Com dificuldades de recursos, trabalhando praticamente apenas com a subvenção paga pela Prefeitura do Recife, o Vassourinhas tem visto seus dias de glórias ficarem no passado. No Carnaval de 2019, o clube não foi para a avenida pois não tinha condições de competir pelo Grupo Especial e fez apenas um desfile em sua própria comunidade.
O atual presidente conta que para atender às exigências do regulamento do concurso é preciso um investimento alto pois, além das roupas e alegorias, é preciso pagar aos brincantes. "Pra gente botar a agremiação na rua não tem mais nada de graça. Aquelas pessoas de antigamente que tinham seus clubes do coração, não existem mais. As pessoas que ainda gostam são poucas, então, pra você botar 150 pessoas na avenida, ou mais, você tem que pagar pra contratar o pessoal pra desfilar. Se não for assim, você vai pra avenida com quase ninguém", explica ele.
Para 2020, as lutas do Vassourinhas serão muitas e grandiosas. A reforma e reabertura da sede são uma delas. O atual presidente pensa em recorrer ao poder público e à iniciativa privada em busca de patrocínio. Além disso, o Carnaval - que já começou a ser produzido aos poucos - é preocupação absoluta. "No momento, a prioridade - porque já está perto -, é trabalhar pra botar o clube na rua para concorrer. Esse ano eu venho concorrendo. O nosso prazer é ir pra avenida competir", afirma, convicto e esperançoso de ver o seu clube do coração novamente figurando entre os maiores no Carnaval do Recife.