Os desmoronamentos dos edifícios caixão Érika e Enseada de Serrambi, ambos em Olinda, deixaram o triste saldo de 12 mortes em 1999. A tragédia anunciada deixou o alerta tanto para sociedade quanto para as autoridades. Em Olinda, 36 edifícios caixão foram avaliados e apresentaram risco eminente de desabar, desse total, 19 já foram desocupados. Na manhã desta quarta-feira (31) foi cumprido mais um mandado judicial em cinco edifícios caixão, todos no Conjunto Residencial Jardim da Praia, no bairro de Jardim Fragoso, em Olinda.
Mais de cem famílias moram nos edifícios Acácia, Bromélia, Camélia, Dália e Ébano, sendo este último ocupado 90% por proprietários dos apartamentos. Os demais foram ocupados há cerca de quatro meses por integrantes do Movimento de Luta pelo Teto (MLT). A integrante do movimento, Roseane Gomes da Silva, 29 anos, que ocupa há quatro meses (com os cinco filhos) um dos apartamentos do edifício Camélia, disse que não tem para onde ir. “Eu vou ficar na rua, não tenho para onde ir”.
De acordo com o coordenador do MLT, Sérgio Capoeira, o movimento reivindica que as pessoas que ocupavam o conjunto residencial recebam o auxílio moradia. “Nós não estávamos cientes da desocupação e não sabemos para onde essas pessoas irão. A prefeitura não nos avisou nada. Tem pessoas idosas e crianças aqui”, disse Sérgio.
O procurador municipal, João Paulo Rodrigues, afirmou que um oficial de justiça foi ao conjunto residencial avisar sobre o mandado judicial há cerca de um mês atrás, período em que a Prefeitura de Olinda soube da ocupação dos edifícios. “Estão dizendo que não sabiam do mandado, mas o oficial de justiça Ailton Soares veio informar, apesar de isso não ser necessário, pois um mandado é para ser cumprido sem aviso prévio. Isso é o que manda a lei”, garantiu o procurador. Ele ainda lembrou que os integrantes do MLT não têm direito ao auxílio moradia, pois eles sabiam do risco e mesmo assim ocuparam os imóveis. “Eles se colocaram em uma situação de risco e nesses casos eles não têm direito ao auxílio moradia”, avisou João Paulo.
Já Anderson Roberto de Lima, 26 anos, morador do edifício Ébano, apresentou à equipe de reportagem um laudo da seguradora da Caixa Econômica Federal, datado de 2002, que atestava que o conjunto residencial não apresentava mais risco de desabar. “Foi feita uma grande reforma em todos os edifícios, entre os anos de 2000 e 2001, e em 2002 saiu o laudo atestando que depois da reforma o conjunto podia ser novamente habitado”. O oficial de justiça, Ailton Soares, informou aos moradores que o mandado pode ser contestado judicialmente.
A desocupação foi feita pacificamente. Para a operação foram mobilizados 30 policiais do Grupo de Operações Táticas (Gati), mais 30 policiais da Polícia Militar e 30 agentes da guarda municipal de Olinda. Uma UTI móvel permaneceu no local, mas não precisou prestar atendimento aos moradores. Outras desocupações serão feitas, mas o procurador municipal não informou quais são os endereços e em que dias acontecerão.