O basquete brasileiro não vive o melhor dos tempos e faltam menos de 280 dias para as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Sem patrocínio, com o projeto do centro de treinamento ainda no papel e pouco tempo disponível de preparação para os Jogos - por uma limitação das ligas norte-americanas NBA e WNBA. Ainda assim, o presidente da Confederação Brasileira Basketball (CBB), Carlos Nunes, culpa a crise no mercado nacional, mas se mostra otimista e mira pódio para a seleção masculina.
O presidente da CBB está no Recife para realização de uma Clínica de Basquete - com a intenção de capacitar profissionais nas diversas áreas do esporte - e conversou com o Portal LeiaJá sobre a situação da modalidade no cenário atual. O evento, que ocorre nestas quarta (4) e quinta-feira, no Colégio Salesiano, na Ilha do Leite, é produzido pela Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer de Pernambuco, em parceria com Federação Pernambucana de Basquete, e também conta com os treinadores das seleções brasileiras masculinas, o argentino Rúben Magnano (principal) e Carlos Romero (sub-17).
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Carlos Nunes ainda revelou ter projetos importantes para reforçar as categorias de base do basquete brasileiro e disse que vem negociando com os Correios, que pode assumir o acordo de patrocínio e terá reunião nesta quinta-feira (5). O presidente ainda criticou a Eletrobrás, que foi principal investidora do time por mais de dez anos, e apontou rombo de R$ 22 milhões, que não foram repassados à CBB. Confira todos os pontos da entrevista a seguir:
Seleção feminina nas Olimpíadas:
O presidente da CBB não vê a seleção feminina de basquete com chances de medalha nas Olimpíadas. Isso porque a equipe está em uma “entressafra”, em formação. “Toda renovação tem um custo, um ônus, que estamos pagando. Temos uma equipe promissora e um trabalho a desenvolver, que vai nos colocar de novo lá em cima. Mas, para as Olimpíadas, poderemos contar com atletas da WNBA (liga feminina da NBA) com menos de 72 para o início do torneio. Como nós vamos preparar um time adequadamente? Não tem como”, disse.
Fortalecimento do basquete no Norte/Nordeste:
Carlos Nunes conta que não dispõe de investimento suficiente para fortalecer as federações e, consequentemente, as demais federações fora da região sudeste: “Essa iniciativa depende da Liga, nós não temos interferência alguma, apenas chancelamos. É entre eles e os clubes. Por exemplo, aqui tinha o UNINASSAU/América e o Sport, que não disputa mais o torneio. Claro que as dificuldades financeiras são enormes e é preciso procurar soluções, mas a CBB não consegue bancar, não dá para bancar. A Liga tem que oferecer condições para os demais conseguirem. Se nós conseguíssemos fazer uma regionalização com os clubes que não estão na LBF seria muito bom e nós tentamos isso”.
Relação entre CBB, federações e seleção brasileira:
O mandatário da Confederação Brasileira de Basquete reforça o trabalho que já existe com as federações e aponta ser o pilar para títulos futuros: “É preciso ter um campeonato estadual forte, para criar uma seleção forte. A CBB dá todas as condições para os estaduais. As federações não gastam um tostão. Nós damos 12 passagens, hotel, alimentação, taxa de arbitragem, transporte interno... Tudo subsidiado. A federação só tem que fazer a equipe, como aconteceu aqui. Ênio fez duas equipes e estão aí os resultados”.
Críticas à ex-patrocinadora e briga na Justiça:
A Eletrobrás foi patrocinadora da CBB por dez anos e responsável por assumir um repasse de R$ 80 milhões. A empresa entrou com ação na Justiça do Rio de Janeiro cobrando cerca de R$ 4 milhões por desacordo contratual por parte da Confederação. O presidente Carlos Nunes se defende e disse que a companhia é que deixou de cumprir um compromisso de R$ 22 milhões, durante o último triênio. “Na Justiça está bem encaminhado esse assunto. Só que essa mídia que vem acompanhada da ação é que eu não sei se tem algum outro interesse, mas não é na prestação de contas, que a Eletrobrás não aceitou. A gente vem com tudo bem organizado. Todo dinheiro foi usado em função da seleção de basquete. Não teve compra de carro, imóvel ou coisa do tipo”, disse. Agora, a CBB busca acerto com os Correios, mas o presidente declara que o mercador atual no País não beneficia o andamento das negociações: “Todos os investidores estão sem dinheiro”.
>> UNINASSAU/América investe em CT exclusivo para o basquete
Centro de treinamento para a seleção brasileira:
O maior dos projetos lançados pela CBB foi o centro de treinamento exclusivo para a seleção brasileira. O Governo Federal, através do Ministério do Esporte, apoia a obra em Pindamonhangaba, no Vale da Paraíba, em São Paulo, que tem orçamento em mais de R$ 50 milhões. Entretanto, a ideia ainda não saiu da maquete. Carlos Nunes explica o motivo: “As verbas já estão todas liberadas, só falta a captação, ver qual a empresa que, ao invés de pagar dinheiro para o Governo fará o repasse para construirmos o centro de treinamento”.
Centro de treinamento do UNINASSAU/América:
Encantado com a estrutura do CT do UNINASSAU/América, o presidente não poupou elogios e destacou também o treinador do time, que buscou os recursos para a construção. “Roberto Dornelas já é um ícone no basquete feminino por tudo que ele faz, o trabalho vem sendo muito bem feito aqui”, explicou Carlos Nunes.
Fim dos problemas em atletas da NBA vestir a camisa da seleção?
Os astros da equipe brasileira masculina já foram bastante criticados por serem poupados em algumas competições. Ainda assim foram defendidos pelo presidente, Carlos Nunes. “Quando alguns jogadores não são liberados é porque a NBA não referenda, não depende dos atletas. A Argentina jogou o pré-olímpico apenas com dois da NBA, Scola e Nocioni. Ginóbili assistiu o jogo do meu lado, porque não pôde jogar. Sul-Americano a NBA também não incentiva. Agora, Olimpíadas todo mundo pode atuar”, comenta. O mandatário ainda disse que a chegada do ex-atleta Wanderley Mazzuchini no cargo de diretor de seleções masculinas encerrou qualquer problema, porque abriu o canal com os astros da liga norte-americana.