Amanda Berry, de 27, uma das três americanas mantidas por dez anos em cativeiro, em Cleveland, voltou nesta quarta-feira para a casa da irmã, a apenas alguns quilômetros do local de onde foi resgatada pela polícia. Ela chegou de carro à casa da irmã, e entrou pelos fundos, acompanhada da filha Jocelyn, de 6 anos, nascida em cativeiro.
Segundo o subchefe de polícia de Cleveland, Ed Tomba, em entrevista à ABC, Jocelyn "está bem, feliz, com boa saúde e tomou um sorvete ontem à noite". Nos jornais, uma foto mostra Amanda sorrindo com a filha e com a irmã, no hospital.
Em meio a uma grande confusão ao redor da casa e sob aplausos, Beth Serrano deu uma breve declaração, agradecendo "à imprensa e às pessoas pelo apoio e por sua ajuda durantes esses anos". "Nossa família gostaria que respeitassem nossa vida privada para que minha irmã, minha sobrinha e eu mesma possamos ter tempo de nos recuperarmos", acrescentou Beth, às lágrimas.
Como afirmou uma prima da ex-refém, "é um dia alegre e triste também para Amanda, porque sua mãe não está mais aqui". A mãe de Amanda, Louwana Miller, faleceu em março de 2006 "de sofrimento", segundo familiares.
Hoje, os policiais encontraram "correntes e cordas" na casa dos irmãos Castro, que foram interrogados logo depois da libertação das jovens na segunda-feira à noite. Eles devem ser apresentados diante de um juiz ainda esta tarde. "Temos a confirmação de que elas estavam amarradas, e encontramos correntes e cordas no corredor", disse o chefe da polícia local, Michael McGrath, ao canal NBC.
Segundo ele, as reféns eram autorizadas a sair apenas "muito raramente": "elas eram soltas no quintal (nos fundos da casa) de tempos em tempos, eu acho". O chefe de polícia não confirmou as notícias da imprensa de que as jovens teriam engravidado seguidamente.
Amanda Berry, Gina de Jesus, de 23, e Michelle Knight, de 32, foram resgatadas na segunda à noite, depois de passarem dez, 9 e 11 anos presas, respectivamente. O caso teve tamanha repercussão nos EUA que, nesta quarta, até a primeira-dama Michelle Obama disse que seu coração estava "cheio de alívio".
"Imagine, primeiro, perder um filho; depois, não saber se ele está vivo, morto, ou ferido, manter a esperança por dez anos e, finalmente, ter suas preces atendidas... É, certamente, o presente mais bonito de dia das mães", declarou Michelle à rede de televisão MSNBC. Os três suspeitos "deveriam ser acusados, no mínimo, de sequestro", disse à AFP o advogado criminalista Page Pate. "Quando os investigadores descobrirem o que aconteceu na casa, novas acusações poderão ser acrescentadas", completou.
Como disse Steve Anthony, do FBI, à imprensa, "o pesadelo terminou". "Essas três jovens nos deram a definição máxima da sobrevivência e da perseverança. A cura pode começar", completou.
Usando uma blusa amarela com capuz, Gina também reencontrou a família nesta quarta-feira. Muito emocionada, ela acenou rapidamente para a multidão. Sua tia, Sandra Ruiz, leu à seguinte declaração: "De novo, muito obrigada, por suas preces e apoio. Não há palavras suficientes para dizer ou expressar a alegria que sentimos com o retorno de Gina", afirmou Sandra, que ainda prestou uma homenagem às companheiras de cativeiro de sua sobrinha.
Ela também lembrou de uma quarta mulher de Cleveland, ainda desaparecida. "Agora, nós precisamos, como um todo, ficar juntos, olhar para a porta ao lado, e trazer de volta o outro membro da nossa família que está desaparecido, Ashley Summers, ok?".
Rosa Garcia, uma das primas de segundo grau de Gina, contou que ela já falou com a família, mas não encontrou todos. "Ela está muito quieta. Não está falando muito. Queremos lhe dar um pouco de espaço, porque todas elas passaram por um período duro", afirmou, do lado de fora da casa de Amanda Berry. Sua filha Miriam, uma enfermeira de 25 anos, lamentou que a mãe de Amanda não esteja viva para ver a volta de sua filha e neta. "É um milagre que tenha terminado assim, porque geralmente não é o que acontece".
Michelle Knight, a terceira resgatada e em uma condição de saúde mais frágil do que as outras, continua hospitalizada, e sem contato com a família, dividida pela tragédia. O desfecho desse triplo e longo rapto deflagrou uma onda de emoção na cidade, e centenas de moradores foram às ruas para comemorar.